Olhei para o relógio no criado-mudo, que marcava um pouco mais de 1h. Lembrei que agora estávamos em uma quarta-feira e que ele provavelmente precisaria ir trabalhar em algumas horas.
– Bruno... – falei baixinho, tentando acordá-lo, e me lembrei de que eu era péssima em fazer isso.
Ele estava completamente agarrado ao meu corpo, então me permiti acordá-lo como desejaria em meus devaneios românticos. Beijei seus cabelos macios, correndo a boca até sua testa e descendo até o canto de seu olho. Retirei minhas mãos de sua cabeça e o apertei em um abraço de urso com os braços e as pernas, sentindo toda a sua presença ali, desejando intimamente que ele não acordasse, o que, obviamente, aconteceu imediatamente.
– Hmmmm... – ele murmurou, me abraçando de volta.
– Já está tarde. Acho que você tem que ir...
Ele levantou a cabeça, olhando para o relógio.
– Merda. Tenho que ir – falou com a voz embolada enquanto se levantava.
Admirei-o por mais algum tempo, tentando memorizar cada pequeno pedaço do corpo daquele deus. Como reflexo, cobri meu próprio corpo com vergonha, puxando o lençol amassado debaixo de mim. Ele caminhou pelo quarto, pegando aqui e ali as peças que vestia antes da nossa noite.
– Vou tomar um banho rápido. Chama um táxi pra mim?
– Claro.
Esperei que ele ligasse o chuveiro para então pegar a agenda em uma das gavetas da estante e procurar o telefone. Liguei, sendo informada de que o táxi chegaria em aproximadamente cinco minutos.
Ele saiu do banheiro, completamente vestido e ainda um pouco molhado, seus cabelos pingando e deixando sua camisa social quase transparente.
– Por que não se seca direito, bonitão?
– Vou perder o táxi – ele falou, andando apressadamente pelo quarto e colocando os sapatos. Depois, alcançou o casaco do paletó, tirando de algum lugar um talão de cheques.
Era a hora do pagamento, e eu me senti extremamente contrariada. Queria rasgar o maldito papel em suas mãos e gritar que não queria um centavo sequer de seu bolso, mas imaginei que essa atitude o assustaria.
– Bruno, você não precisa...
– Shhh. Estou tentando fazer uma conta – ele disse, sem olhar para mim.
Fechei a cara e esperei que ele terminasse o que estava fazendo, enquanto ele sussurrava muitos números aleatórios, que não condiziam com a hora completa que passamos juntos, tornando a conta até bastante fácil.
– Ei, quantas horas você trabalha por dia?
– Oito.
Ele recomeçou a sussurrar números grandes, fazendo contas aparentemente complicadas de cabeça. Quando pareceu terminar, preencheu o cheque em suas mãos, assinando-o e deixando-o em cima da cama, longe de mim, enquanto voltava ao banheiro para se certificar de que não havia esquecido nada.
Tomada por uma curiosidade mórbida, engatinhei rapidamente até o cheque e então fiquei confusa.
– Ei! – ele disse, tirando rapidamente o cheque dali e colocando-o no bolso. – Isso não é pra você, é pra Rayana.
Olhei para ele, ainda mais confusa.
– Mas você sempre pagou pra mim...
– Não dessa vez. O táxi já deve estar me esperando, tenho que ir.
Dizendo isso, ele chegou perto de mim, envolvendo-me com um dos braços em um abraço apertado, e me beijou no pescoço. Não foi um beijo inocente, mas sim um bastante molhado. Na verdade, aquilo não foi um beijo, mas sim uma lambida. Por fim, inspirou profundamente em meus cabelos e então me soltou.
– Tchau – ele falou, enquanto se afastava de mim, sorrindo.
Esperei-o sair do quarto para então poder responder apropriadamente ao tremor de desejo que passou por todo o meu corpo com aquela despedida. Meus pensamentos se voltaram novamente para aquele cheque, com um valor estranho. Comecei a calcular mentalmente, tentando entender o motivo daquele número. E depois de aproximadamente cinco minutos de contas e suposições, congelei. Bruno havia pago pelo resto da minha semana.

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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...