Bruno estava sentado com as costas nos travesseiros da cabeceira da cama e o laptop em seu colo. Já passavam das 22h.
Caminhei devagar até a cama, esperando que ele desviasse os olhos da tela e olhasse para mim.
– Se incomoda se eu dormir aqui? - Perguntei. Não sabia exatamente o que ele queria, mesmo porque não falava. Mas embora ele continuasse frio comigo, não queria passar outra noite longe dele.
– Claro que não. Essa é a sua cama.
Eu vestia um outro conjunto de moletom, esse escuro. A noite estava fria, por isso corri para debaixo das cobertas e me enrolei como um casulo no edredom preto. Bruno permaneceu digitando no laptop, apenas se acostumando com minha presença lá.
Virei de costas para ele e esperei. Pelo quê, eu não sabia. De qualquer forma, nada aconteceu. Por isso, depois de algum tempo, o sono finalmente chegou e eu adormeci, apenas para acordar algumas horas depois, no meio da madrugada, e senti-lo dormindo agarrado a mim com força, como se eu fosse seu urso de pelúcia em tamanho real.
Acordei também quando, às 6h da manhã, ele levantou para ir trabalhar. Fingi continuar dormindo, mas o observava passear pelo quarto de um lado ao outro, enquanto se arrumava para a manhã gelada lá fora. Quando se aproximou para se despedir, fechei os olhos e esperei. Senti-o beijar meu pescoço com carinho e respirar por algum tempo em meus cabelos. Senti vontade de abraçá-lo, mas tinha a sensação de que se o fizesse ele se afastaria. Então me mantive imóvel, simplesmente por querê-lo ali por mais alguns segundos.
Bruno finalmente me beijou outra vez e se levantou, caminhando para fora do quarto e me deixando sozinha pelo resto da segunda-feira.
Os três dias que se passaram - segunda, terça e quarta-feira - se mostraram incrivelmente vazios. Minhas manhãs e tardes eram solitárias, e quando Bruno chegava em casa - muito mais tarde do que o normal - os diálogos eram tão discretos que pareciam estar ali por pura educação. Ele não estava sendo de forma alguma rude, mas estava tão distante que me fazia mal. Tentando não ser egoísta, quis acreditar que seu afastamento se dava porque, como ele mesmo havia dito e mostrado, muitas pendências da empresa teriam que ser fechadas até o final do ano. Isso provavelmente justificava o fato de chegar em casa depois das 22h e, enquanto não dormia, falar ao telefone com algumas pessoas diferentes sobre contratos e outras coisas que eu não entendia.
Ainda assim, era impossível deixar de sentir sua falta. Não era a falta de sexo que me incomodava, mas sim a falta de qualquer tipo de interação entre nós. E eu tinha medo de tomar alguma atitude quanto a isso simplesmente porque tinha medo de ser rejeitada, mesmo que o motivo fosse o trabalho.
Mas quarta-feira a noite, dia 30 de dezembro, o laptop havia finalmente sido deixado de lado.
– Vou ficar sem camisas desse jeito.
Eu havia roubado mais uma de suas camisas sociais. Me sentia à vontade com elas. A que eu vestia agora era vermelho escuro, quase sangue. Eu assumia a culpa de estar me apossando das coisas dele, mas ainda assim não deixei de corar ao ouvir suas palavras. Talvez estivesse mesmo sendo um pouco abusada, mas pelo menos teríamos algo pelo qual discutir.
– Ah... - Ele se pronunciou, me vendo vermelha - Não estou reclamando, de forma nenhuma. Foi só um comentário.
– Tudo bem. Eu deveria ter pedido antes de pegar...
– Não, eu não me importo. E essa ficou melhor em você do que a outra.
Notei que ele me olhava de cima a baixo, avaliando cada detalhe. Me senti feliz não por seus olhares indiscretos, mas porque parecia que, pela primeira vez desde que voltamos de Londres, ele estava realmente me vendo.
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De repente, amor
Любовные романы♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...