Agarrei a mão dela por instinto, com toda a força que tinha, sem me preocupar se a estaria machucando. Seus dedos não se fecharam nos meus como eu esperava: Não havia força ali. Ela estava se apagando.
– Amor... - Falei, agora completamente desesperado. Encarei seu rosto e constatei que, surpreendentemente, seus olhos estavam abertos, me encarando como se só pudessem fazer isso mesmo. Ela ainda mantinha um sorriso fraco nos lábios, um sorriso quase apagado, mas genuíno. Anne parecia sonolenta, mas, ao mesmo tempo, cansada. Sua respiração estava acelerada demais...
– Senhor, precisamos fazer um procedimento... - Uma voz apressada começou ao meu lado, e mãos vindas de sabe-se lá onde começaram a me empurrar com cuidado
– O senhor tem que ir. Por favor...
Eu não estava ouvindo direito. Meus olhos ainda estavam nos dela, implorando para que o que quer que estivesse errado desaparecesse. Apertei outra vez sua mão, tentando fazer com que ela reagisse, mas era inútil. Tudo que recebia dela era aquele olhar complacente e aquele sorriso simples, quase morto.
"Eu te amo", seus lábios conseguiram se mover em silêncio, como se emitir som àquela confissão fosse difícil demais. O sorriso ainda estava lá, quase morto, mas ainda lá. Ela piscou mais uma vez, e eu esperei para que seus olhos se abrissem novamente. Mas eles permaneceram fechados. E de repente, aquele "eu te amo" pareceu soar como uma despedida.
– Agora, senhor! - Ouvi a voz ao meu lado, mas ainda assim, tão distante. Minhas mãos foram rudemente soltas da mão dela, e depois de algum tempo que eu não saberia precisar - porque o pânico já havia me tirado a noção de realidade -, me encontrei, de repente, no corredor do lado de fora da sala de parto.
Alguém tinha me tirado de lá.
O que estava acontecendo?
– O que... O que... - Gaguejei, tentando parar de tremer, enquanto recuperava a força e os pensamentos.
– Sua filha está bem, senhor...
Meus olhos entraram em foco novamente, e notei que o homem com quem eu falava era o mesmo homem que antes não havia me deixado entrar na sala de pré-parto. Inconscientemente, eu já estava relacionando a cara daquele maldito enfermeiro a algo ruim.
– Minha filha está bem... - Repeti, tentando digerir aquela verdade. Ela estava bem. Mas eu não havia conseguido sequer vê-la, porque tinha sido expulso da sala de parto - Minha mulher...
– Sua mulher estava sangrando muito. Nós...
– O que aconteceu? - Perguntei, ainda completamente desnorteado.
– Ela teve uma hemorragia. A pressão dela caiu. Tínhamos que agir rápido...
– Senão? - Perguntei, querendo saber exatamente qual era a dimensão do problema. Ele suspirou, e o maldito suspiro demorou tanto que eu estava a ponto de segurá-lo pela gola e prensá-lo contra uma parede para que ele cuspisse o que eu queria saber.
– O coração dela pode parar. Nós temos que controlar a hemorragia antes que seja tarde...
O coração dela pode parar.
O coração dela pode parar...
Comecei a cair em um abismo. Silenciosamente.
– O coração dela... O coração...
– Ela perdeu muito sangue. Nós temos que tentar...
Eu não estava ouvindo. Meus ouvidos estavam tomados por um zumbido estranho e incômodo. Minha boca estava incrivelmente seca, minhas mãos tremiam. Minha garganta parecia se fechar aos poucos, como se a onda de pânico que me atingisse não desse sinais de trégua: Era aquilo. Um nervosismo crescente, paredes se fechando ao meu redor e nada que pudesse ser feito para empurrá-las de volta.
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De repente, amor
Romansa♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...