Eu odiava quando ela estava certa, e isso acontecia com bastante frequência.
– Por favor... Por favor, vá pra casa.
– E o que eu vou fazer em casa?
Repeti, tentando manter minha voz baixa.
– Se não consegue dormir, tente achar um pouco de paz de espírito em alguma coisa.
Paz de espírito. Era exatamente disso que eu precisava, mas não sabia como conseguir.
E o pior de tudo era que eu tinha uma ideia do que poderia me trazer um pouco dessa paz, mas por alguma ironia do destino, era exatamente a coisa da qual eu fugia.
– Tudo bem, eu vou. Mas você está proibida de fazer isso outra vez, entendeu? Quero minhas reuniões de volta amanhã, e não estou brincando.
Empreguei um tom mais sério na voz para que ela entendesse que eu realmente precisava voltar ao normal no dia seguinte.
Duda assentiu com um suspiro.
Levantei-me contrariado e me preparei para ir embora.
– Me promete que vai cuidar de você?
Encarei-a por algum tempo, decidindo se realmente poderia prometer isso a ela.
– Eu vou tentar.
Não dei tempo para que ela falasse outra vez, e imediatamente saí da sala.
Eram quase 20h agora, e estava perplexo como aquele dia havia sido tão improdutivo e degradante.
Duda me pagaria por aquilo.
Tentei ocupar meu tempo com tantas coisas quanto me fora possível lembrar, mas nada adiantou. Busquei em meus arquivos culinários a receita mais difícil que consegui encontrar e me preparei para o desafio.
Lembrei que antigamente essa era uma forma de distração ótima, mas devia imaginar que "antigamente" não se encaixava em nada no meu "ultimamente".
Escolhi com cuidado um livro da minha biblioteca não muito grande, prestando atenção para não pegar qualquer coisa relacionada a drama, ou romance, ou qualquer coisa que me fizesse lembrar de coisas que eu queria deixar de lado, mas esqueci que nenhuma leitura conseguia me prender quando eu não estava em paz comigo mesmo.
Arrisquei desenhos engraçados na televisão, tentei arquitetar mudanças na disposição dos móveis no meu quarto, comecei a arrumar alguns armários, mas nada foi o suficiente.
Eu ainda pensava nela.
Eu ainda sentia sua falta, e por algum motivo idiota, quanto mais eu tentava esquecê-la, mas eu lembrava dela.
Dito isso, como eu estava há praticamente uma semana tentando arrancá-la à força da minha cabeça, era óbvio que agora eu estava em um estado tão deplorável de autoflagelação que sequer conseguia pensar direito.
Usando essa desculpa para mim mesmo – o que não diminuiu minha culpa – me vesti de qualquer jeito e tomei a atitude mais desesperada e imbecil que podia tomar.
Eu iria até Anne outra vez.
Eu insistia para mim mesmo que o que iria fazer não era nada demais.
Eu não pagaria pelo programa dela.
Tudo o que eu queria era vê-la, dizer um oi.
Era ridículo, mas eu tinha certeza que no momento em que a visse e simplesmente trocasse meia dúzia de palavras com ela, eu me sentiria muito melhor.
E era só o que eu queria.
Era muito pouco para me crucificar.
Mas mesmo assim, eu me crucificava. Eu era um fraco, e nunca duvidei disso, mas era revoltante saber que minha fraqueza não me permitia seguir com um plano tão bem pensado.
De qualquer forma, essa era a hora de escolher entre meu orgulho e a dor que atravessava e rasgava meu peito de um lado a outro, a dor que diminuiria se eu a visse.
Eu não conseguia mais lidar com aquela dor.
Quando atravessei a porta da frente da Casa de Rayana, senti meus nervos à flor da pele.
Não era normal aquele nervosismo todo, mas eu não quis pensar sobre isso, então apenas continuei andando um pouco apressado para o lugar mais escuro do ambiente.
Sentei-me na mesa vazia mais ao canto, enquanto olhava em volta para ver se alguém havia reparado em mim.
– Nossa, estávamos preocupadas com você!
Virei-me surpreso e vi Manoella sentada ao meu lado. Quando foi que ela chegou ali?
– Ah, oi.
– Olá. Então, por onde esteve?
– Ocupado.
Minha atenção agora estava voltada para o ambiente, mais precisamente para a busca de uma certa garota que trabalhava naquela casa.
– Nós estranhamos você ter ficado tanto tempo sem vir ver a Ninha.
Olhei para ela sem entender o que ela quis dizer com aquilo.
– Quê?
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...