Anne 42

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– Eu posso preparar alguma coisa pra você. 

– Por que está me tratando como a sua boneca? 

Ele me encarou surpreso. 

– Eu não estou... 

– Por que me trouxe pra cá? 

– Não é óbvio? 

– Não, não é. 

Eu fazia força para que os tremores no meu corpo não afetassem minha voz, já que eu queria passar um mínimo de segurança.

– Eu quero que você fique aqui. 

– Por quê? Pra tornar a brincadeira de me ignorar mais divertida? 

– Não. 

– Então por quê? 

– Porque você tem que ficar aqui. 

– Por que você não me dá motivos? 

Ele suspirou. 

– Eu preciso falar com você. 

– Sobre o quê? 

– Sobre mim.

Não, eu não fazia ideia do que ele tinha para dizer, mas o que quer que fosse, devia ser algo importante. Só pelo fato de Bruno se prestar a manter uma conversa comigo, coisa que ele parecia tentar evitar a qualquer custo nas últimas horas, eu poderia dizer que suas palavras deviam ser dignas de atenção. 

– Troque de roupa. Jeans não são confortáveis para dormir. 

– Eu não estou com sono. Você me deixou dormir demais. 

Outra vez, ele suspirou. 

– Por favor? 

Continuei encarando-o por algum tempo, mas finalmente tomei a iniciativa de atender ao seu pedido. Virei-me pronta para ir até meu quarto e pegar alguma peça de roupa, mas ele interrompeu meus movimentos quando se dirigiu novamente a mim. 

– Não, não quero que você use aquelas roupas. 

Encarei-o outra vez. 

– Então o que quer que eu use?

Como resposta, ele tirou a parte de cima do seu conjunto e me estendeu o casaco, tão grande quanto o que eu havia vestido na noite anterior. O perfume era o mesmo, o que fez com que meu coração desse um discreto pulo fora de compasso.

Sem mais delongas, entrei no banheiro do quarto e fiz a troca de roupas mais rápido do que o normal. 

Pendurei minha blusa e minhas calças atrás da porta e saí, encontrando-o novamente virado para a janela, e a semelhança da cena me trouxe a lembrança fresca da noite passada na memória. Fui me sentar na cama e esperei que ele se aproximasse. Quando finalmente se sentou ao meu lado e de frente para mim, mais próximo do que meu autocontrole poderia lidar, as palavras que eu vinha tentando formular saíram de minha boca sem que eu pudesse tentar segurá-las. 

– Eu não vou ficar aqui. - Comecei - Não sei o que você pretende com esse jogo, mas é melhor eu ir embora antes que... 

– Você não vai a lugar nenhum.

Sua postura ficou imediatamente tensa, e tanto seus olhos quanto seu tom de voz acusavam que aquilo não era um pedido, mas sim uma ordem. Olhei-o espantada, pensando na resposta que daria a ele. 

– Se eu for embora, o que você vai fazer? - Instiguei-o. 

– Eu vou atrás de você outra vez, e juro que te acho. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora