Anne 40

220 23 0
                                    

Chegamos no sexto andar e andamos um pouco pelo corredor feio e escuro, até chegarmos na porta de madeira que dava para o meu apartamento. 

Precisei de algum tempo para conseguir abrir a porta, porque estava muito distraída tentando evitar seu olhar enquanto sabia que ele estava me encarando o tempo todo. Quando finalmente achei as chaves dentro da bolsa, hesitei um pouco ao abrir a porta para deixá-lo entrar. 

– Olha... Está uma bagunça. 

 – Ok.

Ok. 

A frieza dele não ajudava muito no meu nervosismo, mas de qualquer forma, eu jamais esperei um Bruno fofo e receptivo e todo "ah, relaxa, nem vou reparar". 

O apartamento estava mesmo uma bagunça na medida do possível. O lugar não poderia estar completamente zoneado porque eu não tinha tantas coisas assim, e também não havia muito espaço pelo qual eu poderia espalhar as coisas. Minha bagunça resumia-se a algumas roupas empilhadas no sofá-cama, ainda desfeito, e outra pilha em cima da tv quebrada. 

Minhas malas, bolsas e mochila estavam agrupadas em um canto, algumas abertas, e os poucos sapatos que estavam do lado de fora encontravam-se enfileirados pela extensão da parede.

Eu o teria convidado a se sentar se a situação pedisse as boas maneiras, mas ambos sabíamos que aquela não era uma visita casual. 

Na verdade, só ele sabia do que se tratava aquilo, porque em todo o tempo, ele fazia questão de me deixar confusa e não mover um músculo sequer para começar a explicar o que queria ali. 

Uma vez que estávamos nós dois lá dentro, fechei a porta já seguindo-o com os olhos, porque era óbvio que ele já havia escolhido sua próxima ação aleatória. 

Sem se preocupar em olhar para mim ou me perguntar se poderia, ele se dirigiu até uma das minhas malas e, debruçando-se sobre ela, tirou de lá uma calça jeans e uma blusa branca comum. 

Ao se levantar, me estendeu as roupas escolhidas enquanto usava sua recente mania de me olhar nos olhos toda vez que me dirigia a palavra. 

– Tire esse vestido. Por favor. 

Foi aí que notei a mudança na sua atitude. Ele ainda se mantinha frio e distante, mas diferente da noite passada, ele estava resignado. Ontem ele achava que tinha o direito de me tratar daquela forma, como se mandasse em mim. Hoje ele parecia arrependido disso, mesmo que sua postura continuasse dura.

Aceitei as roupas que ele me oferecia, encarando de volta seus olhos, e imediatamente passei por ele, indo também de encontro às minhas malas. De uma delas, tirei uma calcinha limpa e, com as três peças na mão, rumei para o banheiro.

Eu precisava de um banho, o que podia ser uma boa forma de dar a nós dois a oportunidade de nos separarmos de uma forma simples. Se ele também não sabia como ir embora sem que me machucasse - e se ele estava preocupado com isso - então poderia simplesmente partir enquanto eu estava trancada ali. Não haveria drama ou desconforto, então quem sabe assim não fosse o melhor final para nós dois? 

Entrei debaixo do chuveiro, sentindo a água gelada machucar minha pele, e me permiti demorar mais do que o normal ali. Ao contrário do que imaginei, eu não estava ansiosa para sair logo e me certificar de que ele ainda estava no meu apartamento. Eu estava calma de alguma forma, talvez porque tivesse aceitado a situação. Isso não significava que a dor no meu peito tivesse diminuído em nada, mas era a hora de lidar com ela, afinal de contas.

Lavei os cabelos e me ensaboei várias vezes, sentindo com isso dores em alguns lugares do meu corpo. Então lembrei do creme que eu usava em situações assim, que ainda estava guardado dentro do armário com espelho em cima da pia, e imaginei qual seria a reação dele se eu decidisse usá-lo. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora