Eu lembrava da última vez que havia saído para procurar emprego.
Com uma educação profissional interrompida pelas tragédias da minha vida, não havia muitas opções.
As chances de uma mulher sem ensino médio concluído eram menores que as dos homens, porque homens quase sempre tinham o curinga de um emprego braçal.
Mas eu era uma mulher. Uma mulher que nunca na vida havia trabalhado em algo que não exigisse meu corpo como parte do acordo, então as coisas eram mais difíceis.
Ou isso, ou meu estado de espírito insistia em me dizer que absolutamente tudo o que eu tentava era impossível de conseguir.
Durante algum tempo, procurei em lanchonetes e bares vagas para garçonete.
Procurei vagas de atendente em lojas, balconistas ou vendedores.
Os empregadores normalmente exigiam currículo ou carta de recomendação para profissões como secretárias até de consultórios de pequeno porte ou ajudantes de veterinário.
Enquanto isso, eu tentava conciliar o dinheiro que mantinha na conta bancária, em constante decadência, com meu dia a dia.
Optei por não pegar conduções em excesso e gastar somente com o necessário.
Como minhas condições exigiam, não era viável procurar emprego em lugares muito distantes, já que isso me traria gastos além dos que eu poderia ter, então minha área de procura estava restrita àquela parte da cidade, onde ironicamente não havia quase nada.
Continuei procurando por pequenas tarefas que poderiam me dar algum retorno financeiro, mesmo que fossem instáveis ou temporárias, mas isso também parecia ser difícil de encontrar.
Somado a isso, veio a cobrança do primeiro aluguel, coisa que eu teria facilmente esquecido caso não tivesse sido rudemente lembrada
Como resumo dos meus dias, eu tinha manhãs e tardes ocupadas por tentativas fracassadas de emprego, enquanto a noite me servia um prato cheio de nada a ser feito, o que me dava tempo demais para pensar em coisas demais.
Pensar em coisas ruins, me lamentar por coisas passadas, não acreditar em melhorias futuras.
De fato, minha depressão estava tomando proporções maiores a cada dia, e era visível minha completa apatia pela vida. Eu não tinha motivos para me empenhar em fazer absolutamente nada, não tinha pessoas as quais pudesse contar, não tinha sequer inimigos para odiar.
Nada era realmente importante, e eu temia estar entrando em um estado vegetativo irreversível.
Isso era notório especialmente pelos empregadores que me recusavam qualquer proposta.
Muitos foram sinceros ao falar que simplesmente não viam em mim vontade alguma de fazer coisa alguma, e que "esse não era o perfil procurado".
Mas embora aquilo fosse compreensível, eu simplesmente não tinha forças para mudar. No fundo, eu não tinha motivos para mudar, e mesmo que o motivo fosse "arranjar um emprego", no final das contas isso também não tinha um porquê.
Frequentemente eu entrava em espirais de pensamentos negativos, e me perguntava quando foi o momento exato em que minha vida deixou de fazer sentido. Mas o pior de tudo era não ter ninguém para me convencer do contrário.
O maior dos meus problemas era ter tempo demais para pensar demais. Isso provavelmente não faria muitos danos a alguém com uma vida normal, mas infelizmente esse não era o meu caso. Então, em momentos vazios do meu dia, eu me pegava pensando em coisas que eu não devia pensar.
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...