Anne 55

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A manhã seguinte começou chuvosa. Só fui capaz de despertar às 9:50h da manhã pelo barulho que algumas gotas faziam contra a janela do meu quarto. 

Meu corpo ainda se assemelhava um pouco a gelatina mole, fazendo com que minha vontade de levantar da cama fosse nula.

Antes mesmo de checar, eu sabia que estava sozinha. O peso, o cheiro e o calor do corpo dele não estavam ali, eu podia sentir ainda de olhos fechados. 

Talvez porque eu começava a me acostumar com essas coisas, mas a ausência dele era imediatamente captada por algumas terminações nervosas no meu corpo, e então, inconscientemente, eu sabia que estava sozinha. 

Me virei na cama, ainda com preguiça, e encontrei ao meu lado um papel com algumas palavras e uma chave. A curiosidade me despertou imediatamente, então peguei o papel e li a caligrafia perfeita de Bruno: 

Fui trabalhar. Não quis acordá-la. 
Essa chave abre a porta da sala. Ela é sua. 

Quer jantar comigo hoje à noite? 
Te amo. 
Bruno 

Meus olhos pararam na última frase, como se ali existisse algum significado oculto, como se quisesse entender o que exatamente ele quis dizer com aquilo. 

"Te amo". 
"Amo". 

Reli aquelas duas palavras, imaginando as diferentes formas e entonações que ele daria à frase ao dizê-la. Imaginando as palavras saindo da boca dele, enquanto seus olhos me mostravam que aquilo era verdade.

Derreti como uma boba em cima do travesseiro, trazendo o papel perto do rosto e tentando sentir ali o perfume dele, parecendo uma pré-adolescente romântica e apaixonada pelo mais perfeito dos príncipes encantados. 

– Eu também te amo. - Falei em voz baixa - Amo muito.

Me perguntei se teria coragem de dizer aquilo em voz alta se estivéssemos cara a cara, como uma resposta à declaração dele ao vivo e a cores. Confessar para mim mesma a mais óbvia das verdades era fácil, até porque não havia mais como tentar me convencer do contrário, mas confessar minha alma a ele era um pouco mais perigoso.

Mas não confessar o quanto eu o amava estava pesando. 

Não porque ele precisava saber, mas porque uma parte de mim queria gritar isso em plenos pulmões, como se de alguma forma eu pudesse me libertar da minha própria prisão. Infelizmente, a outra parte em mim me mantinha presa aos meus medos e incertezas, acreditando que a "revelação" - não tão surpreendente assim - seria demais para a boa vontade dele.

Eu ainda não era capaz de dizer a ele aquilo. E esse fato era desesperante. E o fato de que eu precisava deixar isso claro era ainda pior.

Me levantei ainda cambaleante, sentindo meu coração ferver com as palavras escritas por Bruno e pelo seu voto de confiança. 

Eu sabia que ele estava receoso com minhas atitudes, e imaginava o quão difícil devia ter sido para ele me dar, de bandeja, a opção de deixá-lo ou não. Me perguntei se, caso eu fosse embora, ele iria atrás de mim.

Imaginei que sim.

As palavras do dia em que ele me disse toda a verdade ainda estavam frescas na minha memória, e embora ele parecesse um pouco descompensado naquela ocasião, me pareceu estar sendo bastante verdadeiro e decidido. 

Então, se eu realmente fosse embora, não ficaria surpresa em tê-lo me perseguindo como algum tipo de predador. 

Tomei um banho quente e revigorante. Como sempre, lembrei da noite anterior, mas dessa vez, tive que me ater um pouco mais aos detalhes. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora