Era estranho como meu corpo não sentia a falta de descanso.
Eu não tinha dormido bem, já que a noite havia sido recheada de pensamentos sobre o meu casamento e o quão irreal aquilo parecia ser. Por isso, era de se esperar que eu acordasse tarde - no mínimo, depois de Bruno. Mas lá estava eu, com os olhos arregalados às 6:15h da manhã, encarando sua expressão tranquila e hipnotizada pelo movimento do seu peito de inspirar e expirar.
O tapete embaixo de nós dois era tão fofo e confortável que eu poderia passar horas naquela mesma posição, fazendo exatamente aquilo. Entretanto, eu tinha um plano. E era preciso pô-lo em prática. Por isso, me levantei de uma vez e procurei durante algum tempo pela caixinha e pela minha aliança antiga. Achei-os jogados de qualquer maneira em um canto do tapete e os peguei, caminhando devagar para fora, tentando não acordar Bruno. Subi e tomei um banho quente, me vestindo com uma roupa casual e voltando para o andar de baixo. Tirei a nova aliança do dedo e a depositei outra vez dentro da caixinha, deixando-a em cima da mesa do escritório e vestindo o anel antigo. Rumei para a cozinha e preparei qualquer coisa de café da manhã. Depois esperei, um tanto animada comigo mesma, imaginando como meu plano se sairia. Quando ouvi seus passos pesados subindo as escadas, comecei a me preparar. Talvez aquilo fosse ser difícil para ele. Mas Bruno tinha que entender. Precisava ser feito.
Algum tempo depois, quando os mesmos passos pesados desceram as escadas e foram direto para a sala de estar outra vez, esperei um minuto e fui de encontro a ele. Quando entrei, encontrei-o tentando estender da forma certa a manta sobre o sofá. Seus olhos estavam um pouco fechados, talvez da ressaca, e seu nariz estava inchado, embora não parecesse quebrado. Quando Bruno olhou para mim, sorriu de forma instintiva, e eu tive que fazer muita força para não retribuir o sorriso e me agarrar a ele como um urso panda. No segundo seguinte, seus olhos deslizaram para minha mão esquerda, e vendo que ali se encontrava a aliança antiga, seu sorriso sumiu completamente, dando lugar a um ar de confusão.
Aquela era a hora de não me deixar levar pela cara de cachorrinho abandonado que Bruno sabia fazer tão bem. Era a hora de dar seguimento ao meu plano.
– Bom dia. - Comecei, empregando um tom de naturalidade na voz - Como está o seu nariz?
Ele continuou me encarando com uma expressão de completa confusão. Ficou um tempo na mesma posição, e ao constatar que não chegaria à conclusão nenhuma, fossem quais fosses seus pensamentos, ele coçou a cabeça e fechou os olhos com força, tentando se situar outra vez.
– O que aconteceu ontem? - Bruno perguntou com uma voz rouca.
– Nós transamos nesse tapete. - Apontei para o lugar em que ele estava pisando.
– Antes disso...
– Antes disso você arrebentou o nariz na bancada da cozinha e quase me matou de susto.
– Desculpa. Não queria te deixar preocupada... Meu nariz está bom... - Ele falou, parecendo um pouco desconfortável - Mas... Depois disso...
Olhei-o de maneira confiante.
– Depois disso... Nós transamos nesse tapete.
Bruno ficou mudo mais uma vez, com o olhar desfocado, claramente tentando se lembrar da ordem dos fatos. Conforme os segundos passavam, sua expressão ficava sempre mais triste, e então tive a certeza de que ele estava pensando exatamente o que eu queria que pensasse: Que o pedido de casamento não havia passado de um sonho. E não passando de um sonho, Bruno não tinha a minha resposta. E não tendo a minha resposta, ele teria que fazer o pedido outra vez.
Sóbrio.
Ele me olhou um pouco desesperado, a ponto de começar a chorar. Eu sabia que todas aquelas doses de whisky eram suficientes para fazer com que ele tivesse dúvidas do que havia realmente acontecido e o que havia sido apenas sua imaginação. Minha intenção não era vê-lo sofrer, mas eu precisava ouvir aquela proposta dele enquanto ele estivesse sóbrio. Não significava, de forma alguma, que sua proposta na noite anterior não tivesse valor. Mas eu simplesmente precisava ouvir aquilo dele. Direito.

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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...