Anne 77

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Os dias seguintes à novidade foram alguns dos melhores da minha vida. A expectativa de estar perto de pessoas que eu sabia que me amavam era uma coisa maravilhosa, e não era raro perder o foco no trabalho pensando no futuro breve em que eu reencontraria Hérica e Robert, levando o filho deles junto comigo. E então o único aspecto que fazia com que eles gostassem um pouco menos de mim - manter Bruno longe - não existiria mais. Como bônus, o dia do meu pagamento chegou. Senti medo, literalmente, de não conseguir lidar com tantas notícias boas ao mesmo tempo e simplesmente enlouquecer. E então eu ia me convencendo de que ficava mais estranha a cada dia. 

– Ninha? 

– Sim. 

– Tem um cheque na minha carteira. 

Continuei olhando-o de forma doce, sem dizer nada. 

– Como ele foi parar lá? - Ele insistiu. 

– Eu coloquei lá. 

Ele me olhou de forma inquisitora. 

– Que foi? - Perguntei inocentemente. 

– O que você espera que eu faça com ele? 

– Ahn... Deposite na sua conta, talvez? Ou saque. 

Bruno fez uma cara de "entendi", e ignorando completamente minhas explicações, me devolveu o cheque. 

– Ei! É seu! 

– Não. - Ele me olhou como olha para uma criança retardada - É seu. Você trabalhou por ele. 

– Mas você disse que eu poderia fazer o que quisesse com o dinheiro! E eu quero dar pra você! 

– Isso não tem o menor cabimento! Por que está me dando todo o seu salário? 

– Porque é só um pouco de tudo o que você gastou... 

– Ninha, não começa. 

Ele falou de um jeito sério, e por algum motivo isso me fragilizou. 

– Não, não chora! Pelo amor de Deus!

Eu não sabia se ele estava desesperado ou sem paciência, mas qualquer que fosse o caso, já era tarde. As lágrimas começaram a descer sem que eu pudesse fazer nada. 

– Ok, eu fico com o cheque. Mas por favor... 

E meus dias passaram a ser assim. Sempre que coisas desse tipo aconteciam, eu me achava uma completa idiota: Minha vida era maravilhosa, então porque eu não parava de chorar e me irritar como uma depressiva suicida? 

– Amor, talvez você devesse ir a algum psicólogo... Quer que eu marque? - Ele me disse um dia, e então briguei com ele porque, além de me chamar de louca, achava que eu era incompetente.

Duda passou a almoçar quase todos os dias comigo. E eu sabia que era a pedido de Bruno.

– Ele disse que você anda irritada com ele. - Ela falou, enquanto comia a sobremesa. 

– Não estou irritada... Só estou confusa, acho. Deve ser essa coisa toda da mudança... 

– Eu sei. Deve ser difícil se acostumar com tantas mudanças ao mesmo tempo. Mas sei que vai dar tudo certo. 

Por algum motivo, Duda se tornou em pouco tempo minha amiga. Não falávamos do passado, mesmo porque não fazia o menor sentido estragar o clima bom com as merdas que ficaram para trás. Saíamos, conversávamos, fazíamos até compras juntas. Bem, ela fazia compras. Eu a acompanhava. 

– Como vão Emily e Julia? 

– Ótimas. Acho que elas gostaram de você. 

Eu também havia gostado delas. Pensei que mudar para tão longe não me traria tristeza alguma porque nada me prendia aqui, mas fui pega de surpresa ao constatar que sentiria muita falta da família de Duda. Principalmente das meninas, o que não fazia muito sentido até mesmo porque eu só as havia visto uma única vez. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora