– Vem, minha linda... - Falei, puxando-a pela cintura suavemente.
– Eu preciso dizer um coisa.
A voz dela saiu mais alta do que o normal. Ela estava bêbada, e eu sabia disso antes de sentir o cheiro de vinho no hálito dela.
Os músculos do meu pescoço se enrijeceram.
– Você me diz em casa. Vem... - Forcei um pouco mais seu corpo contra o meu, na esperança de fazê-la caminhar.
– Não, eu preciso falar! - Ela gritou, se livrando dos meus braços e cambaleando um pouco para trás.
– Anne... - Supliquei, mas era difícil pedir a compreensão de alguém que sequer estava em suas condições normais. Olhei para trás e vi Michael assistindo tudo. Duda compartilhava um pouco do meu pânico.
– Não aguento mais isso, não aguento... - Ela falou, recomeçando a chorar copiosamente. Eu não sabia o que ela falaria. Não sabia o quanto falaria.
– Vamos deixá-los à vontade... - Duda disse, empurrando Michael para a saída, mas antes que pudessem sair, a voz de Anne cortou o silêncio.
– Eu amo você.
Virei para ela outra vez. As lágrimas escorriam livremente por seu rosto. Ela me olhava de forma intensa, embora seu olhar ainda parecesse um pouco desfocado. Mas, mesmo bêbada. ela estava muito ciente da minha presença ali.
– Eu amo... você. - Ela repetiu, não porque achava que eu não havia escutado, mas sim porque aquelas palavras pareciam sair dela como a confissão de um pecado. Como se a fizessem se sentir mais leve, mais importante. - Amo você demais. E tenho que dizer isso, mesmo que sinta medo. Porque acho que talvez essa seja a única coisa certa na minha vida. É a única coisa da qual não me arrependo. A única coisa nobre em mim. E tenho que dizer isso porque é desesperante saber que estou sendo julgada constantemente mesmo te amando desse jeito.
Tudo que eu podia fazer era encará-la, tentando reunir os pedaços de informação. Senti uma presença atrás de mim, e então entendi que Duda e Michael ainda estavam lá, ouvindo tudo. Ela continuou, fechando os olhos como se quisesse se concentrar na difícil tarefa de cuspir toda uma angústia acumulada.
– Eu nunca, nunca estaria com você por outra coisa que não fosse isso. Não quero a porra do seu dinheiro, não preciso da porra do seu nome pra conseguir status em nada. Eu simplesmente amo você. Amo tanto que acho que seria capaz de matar alguém se estivesse a ponto de te perder. Porque eu preciso de você. Eu preciso de você. - Ela soluçou, agora chorando tão compulsivamente que talvez precisasse de algum socorro - Não é justo ser vista como uma vagabunda interesseira... Eu não sou. Preciso que você saiba disso... Preciso que entendam isso pelo menos uma vez...
Anne deu dois passos rápidos na minha direção e me abraçou pela cintura, enfiando o rosto no meu peito e chorando com força ali, enquanto repetia "eu te amo" com uma voz abafada contra minha roupa. E cada vez que ela repetia aquelas palavras meu coração se enchia de uma alegria tão simples e verdadeira que mal podia conter a vontade de gargalhar. Ela nunca havia dito aquilo. Não que eu precisasse ouvir aquela confissão para acreditar que seus sentimentos eram verdadeiros, mas foi só então que eu realmente soube da intensidade do que ela sentia. Ela não gostava de mim. Ela não estava apaixonada por mim. Era mais do que isso. Ela me amava. E, de repente, tudo no mundo pareceu um pouco melhor.
– Estamos subindo pra preparação da virada. - Duda falou, me fazendo lembrar que ela e Michael ainda estavam lá - Pode ficar por aqui se quiser. Eu não vou me importar.
– Obrigado... - Foi tudo o que consegui dizer, ainda sendo apertado por Anne em um abraço pequeno mas forte.
Eles saíram, nos deixando sozinhos no bar. Ouvi-a fungar baixo contra minha camisa, e senti uma enorme vontade de confortá-la. Sem muito esforço, levantei-a nos braços e a levei para um dos sofás perto da tv, deitando-a lá. Ela já parecia bastante sonolenta, piscando de forma incrivelmente lenta e deixando as últimas lágrimas escorrerem sem compromisso pelo canto do olho. Fiquei olhando para ela, e durante algum tempo tudo o que fez foi me encarar de volta. Quando a última piscada pareceu pesada demais, ela não voltou a abrir os olhos, então ajoelhei ao seu lado e tudo o que me permiti fazer foi admirá-la.
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...