Bruno finalmente deu algum sinal de vida, interagindo conosco pela primeira vez. Duda e eu olhamos ao mesmo tempo para ele, tentando entender o motivo da exclamação. Ele parecia indignado comigo, me encarando com um olhar de "como-você-pôde?"
– Pensei que só eu podia te chamar assim!
Duda rolou os olhos quase que teatralmente.
– Não seja mimado. Ela se apresenta como quiser.
– Ela se apresentou pra mim como Anne. Eu tive que pedir pra chamá-la de outra forma!
Encarei-o em silêncio, não sabendo como responder àquilo. Se meus olhos conseguissem transmitir a ele o que eu queria, Bruno se lembraria da ocasião em que nos conhecemos, entendendo que eu não poderia ter me apresentado de outra forma, e se calaria instantaneamente, evitando um constrangimento maior entre nós dois. Não sei se obtive sucesso, mas ele pareceu deixar o assunto momentaneamente de lado, enquanto ainda me encarava com uma expressão genuinamente ofendida no rosto.
Será que ele realmente estava chateado comigo por causa disso?
– Ok. Discuta seus termos de exclusividade depois, porque dentro de uma hora eu tenho que estar de volta pra minha família.
– Certo. - Ele falou, desviando seu olhar de mim para Duda - O que você sugere?
– Como eu sei que você vai acabar pagando, mesmo que eu te ameace de morte, fica à sua escolha.
– Perfeito. - Finalizou Bruno, já pegando suas chaves e colocando-as no bolso da calça, enquanto Duda colocava nos ombros a bolsa que trouxera consigo. Quando ele veio até mim, parando alguns centímetros à minha frente e falando baixo e pausadamente, como quem fala com um doente em estado terminal, por um momento voltei a lembrar da nossa atual dificuldade de comunicação.
– Nós vamos almoçar. Preciso conversar com Duda sobre algumas coisas da empresa. Sei que faz pouco tempo desde seu café da manhã, mas vou pedir que você venha com a gente.
Senti o toque suave de sua mão na minha, e instantaneamente fui atingida pela corrente elétrica que se estabeleceu entre nossas peles. Se não fosse a mulher agora parada à porta, esperando por nós dois, eu já estaria entregue a ele, assim, fácil desse jeito. Por isso, esse era mais um motivo pelo qual eu era grata à Duda.
...
A viagem até o restaurante foi silenciosa. Por um momento, cheguei a pensar que Bruno me perguntaria o que eu havia achado de minha nova conhecida, que nos seguia em seu carro logo atrás, mas ele não o fez. Assim, a curta viagem foi como as tradicionais viagens que nós costumávamos fazer: Sem qualquer tipo de comunicação, o que mais uma vez fez com que eu lembrasse da nossa atual situação, como "casal".
Um casal de conhecidos. De desconhecidos, talvez. Nada mais do que isso.
Chegamos em um restaurante ao qual não dei muita atenção até que tivesse entrado. No momento em que atravessei a porta, me dei conta de que estava em um lugar provavelmente muito, muito caro, tanto pelo ambiente em si como pelas pessoas ali presentes. Me senti estúpida e completamente deslocada, lembrando que minhas roupas eram apropriadas para, no máximo, um passeio no shopping, e sentindo minha cabeça ferver aos poucos, enquanto me dirigia à mesa tentando me esconder atrás de Bruno.
Senti raiva de sua atitude, primeiro por sequer cogitar a possibilidade em me informar que iríamos a um lugar daquele tipo. Depois, por não me alertar sobre minha aparência.
O fato de me sentir completamente fora de lugar era culpa unicamente dele, mas Bruno parecia não se importar.
Depois de muito tempo, escolhemos os pratos sugeridos pelo maitre e, a partir daí, ele e Duda passaram a conversar entre si, ambos se esquecendo completamente da minha presença.
Ao invés de me incomodar, esse fato serviu para que eu ficasse um pouco mais à vontade, completamente sozinha em meu espaço enquanto, calada, observava o uso correto dos muitos talheres por parte de meus acompanhantes, tentando imediatamente repetir as ações de forma certa e memorizá-las para uma próxima ocasião.
Duda falou sobre novos contratos, empregados da empresa, reuniões, festas de praxe e algo relacionado a arranjos de viagem.
Bruno parecia entretido, respondendo com vivacidade a qualquer comentário, enquanto eu me mantinha calada e ignorante a qualquer assunto que eles discutiam. Algumas vezes, pude ver pela minha visão periférica que Bruno olhava para mim, mas depois voltava-se para Duda, apenas como se quisesse checar se eu ainda estava viva.
Por aquele momento, me permiti simplesmente viver o pouco do que estava acontecendo. Então éramos só nós três, eu, Bruno e sua melhor amiga, sentados em uma mesa enquanto eles conversavam sobre trabalho, e simplesmente me deixei levar pela simplicidade da situação.
Como um espectador, eu assistia à minha própria vida, ao menos naquele momento, sem complicações ou pendências, e por mais que essa paz me enganasse sobre o que realmente eu tinha que enfrentar, era bom estar daquela forma.
E então, a presença de Bruno ao meu lado, sua postura firme e protetora, seu calor e sua voz me faziam bem. Era como se eu tivesse que estar ali, como se não houvesse outro lugar no mundo em que eu devesse estar. Mesmo que tudo fosse muito mais complicado do que isso.
Por isso, me permiti prestar atenção apenas nele, mesmo sem realmente escutar suas palavras, mesmo sem tocá-lo, mesmo sem olhar para ele.
Sua presença agia sobre mim, sem a menor necessidade de interação.
– Vamos?
Com o susto, meu corpo pulou discretamente no assento, agora encarando Bruno como se ele tivesse acabado de aparecer ali.
– Você já pagou? - Perguntei, confusa.
– Acabei de pagar. Você não viu? - Ele respondeu me olhando preocupado, como se eu estivesse verde.
– Estava distraída. - Murmurei, e dando uma rápida olhada em Duda, me aproximei dele para falar em seu ouvido. Como o ambiente era excessivamente silencioso, talvez por causa da maldita educação de toda aquela gente rica em quase não falar, eu duvidava que minhas palavras tivessem saído em um volume audível apenas para Bruno - Pode me dizer quanto foi?
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...