Anne 45

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Olhei de imediato para a porta ao meu lado, que agora estava aberta revelando um pouco do corredor por trás do corpo largo de Bruno.

Fitei-o, meu coração repentinamente saltando de nervosismo, esperando pelo que ele tinha a dizer. 

– Eu preparei o café da manhã pra gente. 

Ah. Isso. 

– Eu já comi... - Tive que confessar, sem saber se o fitava nos olhos ou desviava o olhar - Acordei com muita fome, então procurei algo pra comer. Desculpe por fazer isso sem o seu consentimento... 

– Não peça desculpas. - Ele falou, de forma fria - Você é livre pra fazer o que quiser nessa casa. 

– A casa é sua, eu não tinha o direito de mex... 

– A casa é sua também! Você pode mexer no que quiser! 

Ele parecia irritado com minhas desculpas, o que não fazia o menor sentido para mim. Mesmo assim, achei melhor não contrariá-lo, porque Bruno parecia estar a ponto de gritar para provar seu argumento. 

Era como se minhas palavras o tivessem incomodado, e eu sequer sabia o que estava fazendo de errado.

Fiquei em silêncio, esperando que ele falasse primeiro. 

– O que você comeu? 

– Um sanduíche. 

Ele suspirou, passando as mãos pelos cabelos e despenteando-os mais. Relaxei um pouco ao ver que ele agora estava mais calmo. 

– Você não comeu praticamente nada nas últimas horas. Eu queria que você provasse o que eu preparei. 

Continuei encarando-o, ainda hipnotizada pela mudança do tom da sua voz. Eu não sabia se ele era mesmo bipolar ou se apenas perdia a paciência em certo momento para, no momento seguinte, tentar parecer gentil. 

– Por favor? - Ele falou, e eu poderia estar ficando louca, mas jurava que havia visto um "bico" de "por-favooooor" quase imperceptível. Então, pela primeira vez, e eu não sabia por que exatamente havia demorado tanto para notar isso, reparei que a boca dele era simplesmente linda. 

Linda. 

De morrer.

Eu ainda estou morrendo de fome. Bruno está fazendo manha para mim, me pedindo por favor que eu prove o que quer que ele tenha preparado.

Eu vou provar o que quer que ele tenha preparado. 

Levantei-me devagar, no processo penteando com os dedos os cabelos ainda úmidos. Ele suspirou audivelmente, então sorriu, ainda me encarando, um sorriso tímido mas sincero. Era como se cada pequena coisa que ele me convencesse a fazer fosse uma vitória épica, digna de um troféu ou coisa assim. Então eu quase, quase retribuí o sorriso, mas me mantive séria ao lembrar que, embora ele parecesse querer nos convencer do contrário, não estava tudo bem. 

Minha seriedade não foi suficiente para abalar seu repentino bom humor, então pude notar que ele continuou me encarando e sorrindo enquanto abria caminho para que eu fosse na frente. 

Caminhamos até a cozinha, então me sentei na cadeira da mesa quadrada sem esperar por um convite. Ele não pareceu se importar, indo para trás do balcão e preparando os pratos.

Quando voltou, trazia em uma das mãos uma jarra com suco de laranja e na outra um prato com ovos mexidos, torradas, salsicha, queijo e, ao que tudo indicava, molho de ervas. 

O cheiro maravilhoso de toda aquela mistura fez com que eu sentisse o peso da fome em meu estômago mais uma vez, mas ainda assim tentei parecer indiferente. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora