Bruno 19

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Pouco tempo depois, fomos convidados a sentar em uma grande mesa redonda onde homens e mulheres discutiam sobre negócios. Imediatamente me perguntei se, caso eu puxasse algum assunto aleatório, como futebol ou música, conseguiríamos manter uma discussão normal. Aparentemente, tudo o que aquelas pessoas pensavam estava relacionado a dinheiro, e me senti um pouco constrangido por tentar entrar no assunto. Aceitei uma dose de whisky oferecida pelo garçom. Duda me olhou feio, mas não me impediu.

— Então, Bruno... — Uma mulher de meia-idade começou, já bêbada, olhando para mim e me tirando de meus devaneios. — Onde está a senhora Coolin?

Duda pareceu se mexer um pouco em sua cadeira ao meu lado, um pouco desconfortável com aquele assunto. Provavelmente tinha medo de que a simples menção àquele assunto me traria toda a depressão pela qual eu consegui passar. Olhei para ela com uma expressão serena, tentando informá-la de que eu não me importava em falar sobre aquilo.

— Não sou casado.

Ela pareceu espantada.

— E por que não? Não quer formar uma família?

— Quero! — Falei imediatamente, e me surpreendi com a verdade em minhas palavras. Eu nunca havia sido de pensar muito nisso, mas agora que a questão havia sido colocada à minha frente, pude constatar que a verdade em minha afirmação era incontestável. — Só não achei uma moça ainda.

Uma amiga da mulher que conversava comigo, também bêbada, se juntou à conversa.

— Querido, acredite, você pode ter a mulher que quiser.

— Não acho que possa. — Disse, sorrindo. — Quem sabe um dia...

— Ah, pode sim. — A primeira mulher interrompeu. — Olhe só para o seu "pacote".

— É mesmo. O pacote completo! — A outra continuou. — Quero dizer, você é o dono das Empresas Coolin, não é?

— Não... Meu pai é, eu só dirijo uma das filiais...

— Já é dinheiro o suficiente. Filho do dono, vai morrer rico.

— Sem contar que você é um pedaço de mau caminho. — A outra interrompeu, piscando para mim.

— Sabem... — comecei, um pouco mais sentido do que deveria. — Eu sou legal também. Sou uma pessoa bacana.

Tentei buscar algum apoio de Duda, mas a essa altura ela já estava absorta em uma conversa com o casal ao seu lado.

— Claro, claro. — Uma delas disse, não dando a menor importância para minhas palavras. — Mas o fato é que qualquer mulher se atiraria aos seus pés. Você só precisa dar a ela um cartão de crédito.

— O quê? — Perguntei, incrédulo.

— Olha ali. Está vendo aquele homem de camisa verde, com aquela vadiazinha?

Olhei para a direção que seu dedo apontava e vi um homem de meia-idade conversando com uma garota que poderia ser sua filha, com um vestido extremamente justo e sorrindo de orelha a orelha para o homem, enquanto dava soquinhos do tipo "fazendo-charme" em seu ombro. O homem retribuía o sorriso, olhando-a com mais fome do que o adequado em um local público.

— Estou.

— Pois é. Ele é o meu marido.

Olhei espantado para a mulher.

— Você não vai fazer nada?

As duas mulheres se olharam e, um segundo depois, começaram a gargalhar.

— E por que eu faria?

Pensei em explicar que aquela garota estava dando em cima de seu marido, e pelo que tudo indicava, o homem não estava exatamente lutando contra a sedução. Mas então entendi que, embora bêbada, a mulher tinha total noção disso.

— Eu tenho tudo o que quero dele. — Ela disse, chegando um pouco mais perto de mim. — Compareço a eventos sociais ao seu lado para que pareçamos um casal. Ele paga meus vestidos, meus sapatos e meu cabeleireiro. Aproveito viagens maravilhosas em cruzeiros pelo menos quatro vezes por ano. Tudo o que tenho que fazer é fingir que não vejo aquilo.

— É uma troca justa. — A outra finalizou, dando um sorrisinho e estalando os dedos para o garçom que passava perto da nossa mesa, trazendo bebidas.

— Como mulher, estou lhe dizendo. Você pode ter as mulheres que quiser. Não é difícil achar alguém que banque ser sua esposa. Assim você ganha credibilidade e respeito, e mesmo assim pode viver sua vida, digamos, "alternativa", sem pagar nada por isso.

— Só que sua esposa não pode ser ciumenta, — começou a outra. — Com um homem rico e bonito pra cuidar, temos que admitir que a concorrência aumenta bastante. Até porque uma aliança no dedo torna um homem muito mais interessante de se conquistar.

As duas piscaram para mim em sincronia, então fiquei encarando as mulheres com uma cara que, eu sabia, beirava ao ridículo.

Não sabia se estava muito chocado para dizer alguma coisa ou irritado a ponto de quase mandá-las irem para o inferno, mas, qualquer que fosse o caso, eu não conseguia mais ficar ali.

— Com licença. — Falei, ficando de pé e dando as costas para a mesa, alcançando outra dose de whisky da bandeja de um dos garçons que passava por ali. Caminhei em direção ao bar, eu e minha indignação, então sentei em um dos bancos altos e bebi, de uma vez, minha dose de whisky.

Eu me recusava a aceitar que minha vida fosse se transformar nisso. Era difícil aceitar que nada fosse ser minimamente verdadeiro, e estar cercado por toda aquela falsidade e interesse só fazia com que eu me sentisse cada vez mais diminuído e menos valorizado. Na verdade, tudo o que acabara de ser dito não chegava a ser uma total surpresa. Eu tinha conhecimento de casos assim, onde um casamento se sustentava só por sua aparência, mas ter a confirmação desse tipo de coisa, com tanta veemência e de uma forma como se parecesse algo tão banal, não estava nos meus planos.

Bebi minha terceira dose de whisky, seguida de mais quatro doses. Uma garota tentou puxar assunto comigo, perguntando se eu era "o" Bruno Coolin, mas não lhe dei muita atenção. Tentei me manter escondido, não querendo que ninguém me reconhecesse e viesse falar sobre coisas estúpidas. Eu não estava no meu melhor humor e tinha a impressão de que acabaria mandando alguém ir à merda aquela noite.

Eu era um objeto. No final das contas, todos éramos objetos. Eu era um objeto, assim como ela. Pronto. Toda minha cautela durante aqueles dois dias tinha ido por água abaixo. Agora eu me permitia lembrar de Anne claramente, nos pequenos detalhes, e não tentava segurar a vontade que tinha de pensar nela cada vez mais. Eu tinha minhas certezas de que o álcool me ajudava nessa tarefa, me deixando perigosamente vulnerável àquela lembrança.

Tracei uma linha de semelhança entre mim e ela, sentindo um pouco de sua amargura me tomar. Nós dois éramos objetos, nós dois éramos usados. Assim como os clientes dela, as mulheres que se aproximavam de mim tinham um interesse, algo que não levava em consideração o que eu era, ou como eu me esforçava para ser alguém melhor. À minha volta, o jazz insuportavelmente lento e monótono continuava tocando, enquanto mulheres fúteis ainda riam das mesmas piadas sem graça, contadas pelos mesmos homens de meia-idade infelizes e promíscuos. Os garçons pareciam ser as únicas pessoas com quem eu ainda mantinha um pouco de simpatia àquela altura, mas nem eles poderiam me fazer ficar agora.

— Bruno!

Duda me encontrara. Ela veria meu estado e me daria uma bronca, começando um discurso sobre minhas responsabilidades e o papel "Coolin" que eu deveria desempenhar. Mas que se foda.

— O que está fazendo aqui? Procurei você por todos os lugares!

— Vim beber.

— Eu não acredito que você...

— Duda, — comecei, levantando uma mão para interrompê-la. — Por favor. Me deixe em paz. Por favor.

Algo no tom da minha voz pareceu alertá-la de que talvez eu estivesse falando sério.

— O que aconteceu? — Ela perguntou, sentando-se no banco alto ao meu lado e tocando meu ombro esquerdo.

— Não aguento isso. Essas pessoas... É tudo tão artificial, tão superficial...

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora