Bruno 4

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Sem checar se havia realmente se passado cinco minutos, tomei o resto do meu whisky e subi as escadas, rumo ao quarto de Anne. Entrei sem bater e encontrei um ambiente mais escuro do que quando entrei pela primeira vez naquele quarto. Apenas uma luz fraca vinda de um abajour de uma mesa ao longe, encostada na parede, iluminava timidamente o local, deixando a mulher deitada na cama, vestida em um robe preto totalmente fechado, praticamente nas sombras.

– Está escuro... - Comecei.

– É bom que seus outros sentidos ficam aguçados. - Ela disse num timbre de voz fraco.

– Não é bom. Já disse que quero ver...

Anne se levantou e veio na minha direção, e num ato completamente imprevisível, me abraçou.

– Por favor... Vamos fazer assim hoje. Só hoje...

Então, senti aquele perfume. O perfume que sempre me fazia perder um pouco do controle que tinha.

Amêndoas.

Amêndoas e shampoo.

Merda!

Aquele maldito perfume...

Senti suas mãos agora abrindo timidamente os botões da minha camisa enquanto ela beijava suavemente meu peito por cima da roupa. Eu queria perguntá-la o que havia acontecido, queria saber o que fizeram a ela. Mas estava óbvio que ela não me diria.

Sem pensar muito, empurrei para os lados o tecido de seda que cobria seus ombros e abaixei minha cabeça até o local, aplicando beijos suaves. O perfume estava mais forte do que o normal, combinando perfeitamente com o ambiente escuro e incrivelmente sensual. Minhas mãos foram para o nó em seu robe, abrindo-o lentamente. Ela se afastou um pouco, para que eu pudesse removê-lo completamente.

Então fui pego de surpresa ao constatar que ela não usava nada por baixo do robe, agora no chão.

E, quase que imediatamente, outra surpresa me fez estacar diante de Anne. Embora o quarto estivesse escuro, consegui ver seu corpo em quase sua totalidade coberto de manchas escuras e arranhões.

Dei um passo para trás, assustado.

– Que porra é essa?

– Ossos do ofício. Vem cá... - Ela falou como se estivesse tendo uma conversa tediosa, vindo na minha direção e segurando com firmeza o botão da minha calça enquanto o abria.

- O quê... Espera aí! O que diabos aconteceu com você?

Ela bufou, parecendo impaciente.

– "Aconteceu" um cliente. E isso não é da sua conta.

– Não é da minha conta? Claro que é! Não quero comer uma mulher que parece que acabou de ter sido espancada!

Minhas palavras impensadas saíram de uma só vez, e pareceram extremamente insensíveis e rudes no silêncio do quarto.

Anne olhou para mim com um misto de raiva e tristeza, parecendo pensar nas palavras antes de pronunciá-las.

– Foi por isso que deixei as luzes fracas...

– Achou que eu não fosse ver? Não sou cego! Você parece uma colcha de retalhos, pelo amor de Deus!

Ela continuou me encarando por mais dois segundos, então pegou o robe do chão e vestiu-se.

– Se não vai me comer, peço que saia do meu quarto pra que eu arranje outro cliente.

– Não vou sair! E você não vai ter mais porra de cliente nenhum essa noite! Vou falar com Rayana sobre...

– Quem você pensa que é pra me dar ordens? - Sua voz estava áspera e alta. - Isso não é da sua conta!

– Não estou te dando ordens, sua idiota! Estou tentando te ajudar!

Imaginei que ela viesse formulando uma frase para o momento em que eu acabasse de dar minha réplica. Quando abriu a boca para falar, se conteve a tempo e fechou-a rapidamente, ainda me olhando com raiva. Mesmo que ainda estivesse hostil, sua expressão foi ficando cada vez mais suave. Olhou em volta do quarto, como se algo pudesse dar a ela alguma ideia do que dizer. Cruzou os braços no peito, na defensiva.

– Bruno...

Senti os pelos de minha nuca se eriçarem ao som do meu nome na sua voz.

Foi estranho - foi bom -, mas eu ignorei a sensação.

– O que fizeram com você? - Insisti.

– Foi mais uma noite de trabalho. Só mais uma noite. - Ela olhava para baixo, evitando me encarar.

– É mentira! Já estive com você duas noites, nunca te vi assim!

– Eu já disse que minha pele é marcada muito fácil...

– Eu não sou imbecil! Isso não está normal!

– Bruno... - Ela repetiu com os olhos fechados, como se estivesse determinada a dar um ponto final àquele assunto. - Eu preciso trabalhar. Se não se importa...

– É pelo dinheiro? - Falei, já perdendo a paciência. Nem eu mesmo sabia o porquê de insistir tanto em protegê-la.

Enfiei a mão no bolso traseiro, pegando minha carteira e abrindo-a. Sem saber ao certo a quantidade de notas que meus dedos alcançaram, puxei-as de uma só vez e as joguei em cima dela.

Anne não fez menção em se mover para evitar que as notas caíssem. Deixou-as alcançarem o chão, fitando-as no percurso.

– Meus trinta minutos estão pagos! Agora não ouse me expulsar dessa merda de quarto mais uma vez!

Ainda encarando as notas no chão, ela apertou com força o nó de seu robe e caminhou despreocupadamente para a cama, deitando-se nela de lado depois de passar por mim.

Fiquei olhando-a por algum tempo, observando o lento escorregar do tecido fino da sua coxa esquerda, finalmente expondo-a totalmente ao meu olhar. Fui sentar ao lado dela.

Mais perto do ponto de luz, pude observar melhor os hematomas em sua pele.

Anne estava deitada de frente para mim, com os braços cruzados à frente do corpo, mas não me encarava.

Toquei de leve sua coxa com a ponta do dedo, onde um hematoma era mais evidente. Embora as manchas tirassem muito da beleza e da suavidade, sua pele era incrivelmente macia. Parecia excessivamente sensível ao meu toque, quase quebrável.

Não pude me conter em fazer círculos pela extensão de sua perna, primeiro com a ponta dos dedos, depois com a mão aberta. Tinha receio de causar dor a ela, por isso tentava tocá-la da maneira mais suave possível.

Depois de muitos minutos passados eu falei:

– Não gosto da sua pele assim.

– Eu também não. - Ela me respondeu, séria, olhando para a parede oposta.

– Não vai me contar o que aconteceu?

– Você não é meu psicólogo.

– Sou seu amigo.

Ela me olhou surpresa. Eu sabia o porquê.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora