Ele sorriu, e seu sorriso leve fez com que eu me sentisse melhor. Ele estava calmo, porque não havia mais com o que se preocupar. E se não havia mais com o que se preocupar, eu estaria calmo também.
– Boa noite, Bruno.
– Boa noite... E obrigado por tudo...
Ele se afastou com um simples aceno de mãos, mas eu não esperei perdê-lo de vista para girar a maçaneta e entrar no quarto em que minha mulher estava. Como havia sido dito, ela estava dormindo. A cama era larga e parecia confortável, até onde me era possível presumir. Anne parecia calma, em um sonho tranquilo. Seus batimentos e sua respiração estavam sendo monitorados por aparelhos quase silenciosos atrás da cama, e aquilo fez com que ela parecesse mais frágil do que nunca. Ela tinha tubos finos no nariz e nas costas das mãos, e eu sabia que era melhor não tocá-la. Mesmo assim, uma enorme vontade de abraçá-la me atingiu como um soco, mas me contive.
Tudo que fiz então foi observá-la nos seus mínimos detalhes, das suas pálpebras imóveis à intensidade da sua respiração. Ela estava bem. Ela ficaria bem, e isso era o suficiente.
Toquei com cuidado no seu braço esquerdo, com o único intuito de senti-la. Sentir que ela estava ali. Que eu não a tinha perdido. Que ela acordaria de manhã e abriria aqueles olhos que eu tanto amava.
E, de repente, me dei conta de que estava chorando outra vez.
– Senhor?
Fui retomando a consciência aos poucos, um pouco desnorteado. Ou talvez eu estivesse sonhando. A voz era feminina, bastante paciente. Mas desconhecida, até onde eu lembrava.
– Senhor? - A voz insistiu, com um toque leve no meu ombro. A sensação era boa, mas vinha de algum outro lugar. Da minha nuca, talvez. Como se meus cabelos ali estivessem sendo remexidos delicadamente.
– Ele não pode ficar aí?
Aquela voz era diferente da anterior. Era mais fraca, mais bonita, um pouco mais rouca. E era conhecida.
Abri os olhos imediatamente com o som, ainda completamente perdido. Minha visão estava turva. Pisquei algumas vezes, insistentemente, e isso ajudou. A sensação boa na minha nunca continuava.
– Hmppffff...
Eu não sabia direito para onde estava olhando, mas sabia que o lugar era claro. Fiz uma força quase sobre-humana para virar a cabeça, enfiando o rosto nos lençóis e quase sufocando sem querer. Tinha um leve cheiro de farmácia. Pisquei mais algumas vezes e encontrei Anne me encarando com um sorriso simples. A lembrança de tudo que vivi no que provavelmente foram as últimas horas vieram rapidamente, e eu levantei a cabeça de uma vez.
Eu tinha trocado a cadeira de acompanhante, aparentemente confortável, por uma cadeira qualquer, que deixasse minha cabeça à altura da cama dela. Depois de algumas horas de insônia, quase no nascer do sol, eu finalmente havia adormecido ali, curvado ao lado dela, na altura da sua barriga. Os dedos dela brincavam nos fios da minha nuca. Ela ainda estava recebendo soro, mas os tubos finos que antes estavam abaixo do seu nariz haviam sido removidos. Ela não parecia doente: Apenas frágil.
– Bom dia. - Anne falou, e sua voz saiu baixa em meio a um sorriso. Aquele era, sem a menor sombra de dúvidas, o melhor "bom dia" que eu já havia recebido em toda a minha vida.
Tirei sua mão dos meus cabelos e a trouxe até minha boca, beijando sua palma com cuidado, feliz demais para fazer qualquer outra coisa por um longo tempo.
– Está tudo bem? - Ela perguntou de repente, e a simples menção de responder "sim" já trouxe um nó à minha garganta, me impossibilitando de falar. Como saída, apenas sacudi a cabeça positivamente, tocando com meus próprios dedos cada pequeno pedaço da pele do braço dela que conseguia alcançar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...