Anne 52

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A percepção do que estava acontecendo veio como um estalo, e então me dei conta de que eu mesma estava sorrindo de forma simples e verdadeira. 

O presente inesperado fez com que eu esquecesse de armar minha barreira contra Bruno da forma que vinha fazendo, e sem querer deixei escapar o que realmente estava sentindo. Isso pareceu iluminá-lo de uma forma inexplicável, mas quando entendi o que estava acontecendo, abaixei o rosto um pouco mais constrangida do que deveria. 

– Obrigada. - Falei de forma simples. 

– Que bom que você gostou. - Ouvi sua voz dizer acima de mim, e então senti o toque suave de seus dedos em meus cabelos, trazendo para trás da orelha uma grande mecha que servia como uma espécie de cortina entre nós dois.

Sem saber o motivo, minha voz pronunciou o primeiro pensamento que me veio à cabeça. 

– Você esqueceu de me falar de uma pessoa.

Ele parou por um momento, tentando processar a informação. Olhei para ele e vi que, agora, Bruno parecia querer entender de quem exatamente eu estava falando. E pelo que tudo indicava, ele suspeitava da pessoa certa. 

– Hoje é segunda, não é? - Ele perguntou, em uma voz baixa. 

– É.

– Ahm... Então, você e Margarida se conheceram? 

– Sim. 

Ele sustentou meu olhar, fazendo uma pergunta interna para si mesmo e decidindo se deveria ou não verbalizá-la.  

– Ela te tratou... direito? 

Eu conhecia Margarida havia menos de 24 horas, e ainda assim poderia dizer que ela trataria "direito" qualquer pessoa. 

Bruno, conhecendo-a por alguns anos, sabia disso muito melhor do que eu. Mas o fato era que eu sabia do que ele realmente estava falando. 

 Ela me tratou como as outras. Mas a culpa não foi dela. 

Sua expressão se contorceu no que parecia ser um desespero contido. Ainda conseguindo adotar uma voz surpreendentemente calma, continuei: 

– Eu expliquei a situação... Bem, mais ou menos. Ela entendeu, então está tudo bem. 

– Me desculpa. - Ele se apressou em dizer - Eu era diferente... 

– Tudo bem. - Menti. 

Embora eu não tivesse o direito de ter ciúmes de qualquer mulher que Bruno teve ou deixou de ter, simplesmente não conseguia conter a raiva em imaginá-lo com tantas outras.

E levando em consideração o meu passado, isso fazia com que aquela situação soasse ridiculamente irônica. 

Ele continuou me encarando com uma expressão de arrependimento, e quando nenhum de nós dois tinha mais o que falar, me levantei.

– Está frio aqui. Acho que o aquecedor não chega até essa parte da casa. - Falei em um tom casual. 

– Essa blusa é minha? 

Senti meu rosto queimar de vergonha. Eu havia esquecido que, primeiro, estava vestindo só uma camisa, e que, segundo, havia pego uma peça de roupa dele sem pedir permissão. 

– É... É que eu fui pega de surpresa essa manhã, foi a primeira coisa que encontrei no seu closet... Desculpa, eu não tive tempo... 

– Fica muito melhor em você do que em mim. - Ele me interrompeu, enquanto seus olhos famintos varriam meu corpo de cima a baixo sem a menor discrição.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora