Bruno 12

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Eu sabia que Duda estava certa. Eu tinha mesmo que dar um jeito na minha vida porque era óbvio que eu não era feliz. Na verdade eu não tentava mudar isso porque não tinha a menor vontade de fazer algo a respeito. 

É claro que era muito mais cômodo ficar me lamentando pela minha mediocridade do que tentar consertá-la. E eu sabia que ia me arrepender em não seguir o conselho dela imediatamente. Mas, por hora, ia adiar essa decisão. 

Assim, às 22h eu rumava para a Casa de Rayana em um taxi, fazendo exatamente aquilo que Duda havia me aconselhado a não fazer: Viver a vida da maneira mais lamentável possível. Cheguei no lugar trinta minutos depois. 

A Casa, como sempre, estava com clientes de classe alta que se divertiam com os mais variados tipos de garotas. Sem falar ou olhar para ninguém, caminhei até o outro lado da sala onde mesas eram dispostas ao longo da parede lateral em um canto pouco iluminado. Queria ficar um pouco sozinho. 

Passei pelo bar e pedi uma dose de whisky, que não demorou a sair. Agradeci o serviço e caminhei para a mesa mais afastada, que ficava no canto entre duas paredes perpendiculares. Ali estaria ótimo, porque ninguém me veria. 

Tudo bem, mais cedo ou mais tarde eu procuraria alguém, mas por hora me permiti saborear a bebida gelada no copo à minha frente enquanto olhava sem interesse para as pessoas que andavam de um lado para o outro. Não sei qual era o grau de desatenção em que eu estava, mas só depois de dois minutos sentado naquela mesa sozinho pude identificar a garota que estava na mesa ao lado da minha. 

Claro. 

Tinha que ser ela. 

Olhei diretamente para o homem que estava sentado muito próximo a ela, falando alguma coisa ao seu ouvido e rindo de uma piada que Anne claramente não estava achando engraçada. Ao contrário, ela me olhava com olhos levemente espantados enquanto tentava manter um pouco de distância do homem que agora passava uma das mãos por suas pernas. 

Desviei o olhar sentindo meu humor já péssimo piorar consideravelmente. Eu sabia o que queria fazer. Queria me levantar daquela mesa, quebrar o copo agora vazio em minhas mãos e, usando um dos cacos, cortar as mãos daquele desgraçado. 

Mas eu sabia que não podia fazer nada: Ela era dele naquele momento, e eu só podia fingir que não estava vendo nada acontecer. Olhei de novo para o lado e vi o homem, que agora beijava o pescoço dela, tentando colocar a mão dentro do short curto que ela vestia. Antes que eu tentasse matá-lo vi Anne afastar sem cerimônias sua mão. 

– Eu não vou fazer nada aqui. - Ouvi-a dizer. 

Certo. Ela era mesmo um pouco ditadora como eu bem me lembrava. Ironicamente torci para que suas exigências fossem o suficiente para que aquele homem desistisse dela, mas não seria tão fácil. 

– Então vamos para o quarto, amor. 

Por algum motivo o homem misterioso se tornou, em menos de cinco minutos, meu inimigo mortal. Eu queria estraçalhá-lo com um caminhão e depois dar de comer a vira-latas na rua. Queria quebrar todos os ossos do seu corpo e socar tanto aquele sorrisinho que ele insistia em dar que a única coisa que restaria seria uma boca sem dentes cheia de sangue. O fato do desgraçado ser o que as mulheres considerariam bonito fez com que eu o odiasse ainda mais. Olhei para o outro lado porque não queria ver Anne subindo as escadas com um sujeito qualquer, para um lugar onde eles fariam o que eu sabia que iam fazer. 

– Que morra. - Falei baixo. 

Uma mocinha passou com uma bandeja e eu pedi outro whisky. Pensei na discussão que Duda e eu tivemos naquele dia. Pensei em Anne e no homem que devia estar se divertindo mais do que eu gostaria. Pensei que talvez eu pudesse provocar um incêndio naquele lugar, fazendo com que todos nós morrêssemos carbonizados e infelizes, e então todos nos encontraríamos noinferno. Olhei para o relógio, e nove minutos haviam se passado. Nove míseros minutos. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora