Bruno 16

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– Por que... – Fiquei surpreso ao ouvir minha própria voz, um pouco trêmula enquanto tentava raciocinar. – Por que você... não gritou?

– Ele me amordaçou.

Eu não podia acreditar naquilo. Cada detalhe tornava tudo pior, e então eu não queria ouvir mais nada. Olhei em volta e notei que já estava de pé, andando pelo quarto. Me perguntei há quanto tempo eu estava fazendo aquilo.

– Qual o nome dele? – Perguntei secamente.

– Pedro, acho. – Ela me olhou, um pouco receosa.

– Como ele era?

– Por quê?

Ela estava desconfiada, e eu não podia culpá-la. Talvez fosse culpa da minha incapacidade de esconder o que devia ser, agora, uma expressão de maníaco assassino. Tentei não deixar claro que alguns pensamentos psicopatas lampejavam em minha mente, como andar com uma faca e arrancar os globos oculares daquele infeliz, ou então amarrá-lo, banhá-lo com gasolina e atear fogo enquanto apreciava seu maldito corpo queimando e o assistia morrer lenta e dolorosamente.

– Eu só quero saber.

– Eu não lembro muito bem. – Ela mentiu.

– Por que está preocupada com ele? Ele te... forçou! Forçou a... Pelo amor de Deus!

– Não estou preocupada com ninguém! Só acho que é mais fácil deixar pra lá! Já passou.

Olhei-a incrédulo.

– Como você pode dizer isso?

– Eu estou feliz que isso tenha acontecido uma só vez! Qualquer puta faz isso, lembra?

Eu lembrava. Aquelas eram minhas próprias palavras.

– Não interessa o que qualquer... qualquer uma faz. Você tem suas condições, e se um homem quiser ficar com você, tem que respeitá-las!

– Homens não me respeitam, Bruno. Você deveria saber disso.

– Eu te respeito. E se todos os homens te conhecessem como eu conheço, veriam que você merece esse respeito. Você é muito mais digna do que muitas mulheres que eu já conheci, por isso não insinue que você não o merece. Eu não sei quanto às outras garotas daqui, e também não quero saber, mas sei que respeito você e todo filho da puta que toca em você devia fazer o mesmo!

Ok. Minha mania de ser extremamente sincero na companhia dela estava ficando irritante e constrangedora. Eu deveria manter a boca fechada, mas eu não conseguia. Simplesmente tinha que falar tudo a ela, tinha que dizer a ela tudo de bom que ela tinha e que não conseguia ver em si mesma. Eu tinha que mostrar a ela que ela não era qualquer uma. Ela não era qualquer uma.

– Obrigada...

Fui pego de surpresa pelas lágrimas dela, que resolveram descer em uma repentina enxurrada, fazendo com que eu não soubesse o que fazer. Eu sempre fui péssimo em confortar pessoas, simplesmente porque eu sempre fui muito insensível para conseguir falar alguma coisa que servisse de consolo. Mas Anne precisava de mim, talvez mais do que alguém um dia já precisou. 

Eu sabia que confiar a mim aquele segredo não havia sido uma tarefa fácil para ela, então era minha obrigação fazê-la se sentir um pouco melhor, mesmo que eu não soubesse como. Ignorando a raiva pulsante que gritava dentro de mim, fui me sentar novamente ao seu lado na cama, tentando parecer suficientemente calmo e controlado, o que eu não estava. Mas ela realmente precisava de mim, então eu não poderia me dar ao luxo de alimentar aquele sentimento de ódio e sair pela cidade caçando o filho da puta como o animal que ele era. Isso ficaria para depois.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora