Bruno 27

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– Pedro... 

Consegui ouvir a voz fraca de Júlia enquanto ela se movia para a frente, na direção em que nós dois olhávamos, mas ela não seria mais rápida do que eu. 

Muitos vultos passavam por mim rapidamente, mas eu não prestava atenção em nenhum deles enquanto andava até o casal que eu observava. 

Eu não prestava atenção em ninguém, e se não fosse pelos esbarrões que eu dava em um corpo ou outro, poderia dizer que no momento só se encontravam três pessoas ali: 

Anne, eu e ele. 

Duas delas sairiam vivas. 

O tempo necessário para atravessar a sala foi rápido, e por uma fração de segundos, a dois metros de distância entre nós, pude ver os olhos dela se encontrarem com os meus. 

Mas eu já não estava raciocinando. 

Com todo o ódio que havia acumulado em minha alma, empurrei-o para longe do pescoço dela, onde ele parecia estar se divertindo, e um segundo depois estávamos os dois no chão, eu por cima dele, socando-lhe cada centímetro do rosto. 

– SEU FILHO DA PUTA! 

Tudo pareceu passar em câmera lenta, então pude aproveitar cada murro que aquele desgraçado levava. 

Ele tentava reagir, e talvez fosse mais forte do que eu, mas naquele momento, nem os músculos de Mike Tyson poderiam parar meu ódio borbulhante e explosivo. 

Eu o odiava. Eu queria matá-lo lentamente, e não era força de expressão. 

Nunca na vida desejei tanto ver alguém morto, espancado, estraçalhado, por isso não parei um segundo sequer de socá-lo com toda a minha vontade. 

Os golpes eram dados com tanta força que, em certo ponto, minhas mãos começaram a doer, mas a dor foi ignorada. 

Notei que agora, o rosto embaixo de mim estava banhado em sangue, mas ignorei isso também. 

Tudo que importava era a morte daquele desgraçado. A morte pelas minhas mãos. 

Pela primeira vez desde que ouvi Júlia pronunciar o nome do sujeito, notei que haviam mais pessoas no local. Muitas mais, porque senti muitos braços me puxando para trás, tentando me afastar do homem agora desacordado no chão, enquanto eu tentava me soltar da gaiola humana em minha volta e continuar minha deliciosa vingança. 

– Para! Para, rapaz! 

– ME LARGA! 

– Você vai matá-lo! 

– É O QUE EU PRETENDO! ME LARGA! 

Eu agora me debatia em mais braços que surgiam, me impedindo de continuar a feri-lo com as mãos. 

Então resolvi chutá-lo, também com muita força, mas os homens em volta foram rápidos e me puxaram completamente para longe dele. 

– ME SOLTEM, PORRA! 

– Não! 

Eu estava exausto, puto e inconformado. 

O ódio que existia dentro de mim, ao invés de esmaecer apenas tornava-se maior e mais explosivo. 

– Bruno, calma! Por favor! 

Olhei, ainda aturdido em volta, e a vi ali, parada, um pouco ofegante e corada, sem saber muito para onde ir. 

A presença de Anne tinha aquele poder sobrenatural sobre mim até quando ela mesma não sabia o que fazer. 

Aquele poder que simplesmente surgiu do nada e, sem que eu deixasse, me tornou extremamente vulnerável. 

Eu estava definitivamente exausto. 

Exausto de tudo aquilo, de toda aquela confusão de coisas que explodiam dentro de mim, enquanto tentava pôr ordem na minha própria vida. 

Estava cansado de fingir que não estava perdido, que não estava desesperado, e que não estava completamente apaixonado por uma garota de programa. 

Eu estava cansado, com raiva, com medo de tudo o que viria a seguir, e explodi sem nem ter noção do que estava falando.

O ódio dentro de mim fez com que eu simplesmente cuspisse todo o rancor e covardia, todo o orgulho e toda a porra de culpa que me perseguia durante todo aquele tempo em que eu a conhecia. 

Em que conhecia a pessoa que virou minha vida do avesso. 

– ME DEIXA EM PAZ! VOCÊ É SÓ UMA PUTA, E EU NÃO PERMITO QUE SEJA MAIS DO QUE ISSO! EU NÃO TE PERMITO TER QUALQUER MERDA DE PODER SOBRE MIM! 

Meus gritos foram seguidos de silêncio. Um silêncio mórbido. 

Tudo o que eu podia ouvir era a música do ambiente que ainda tocava baixo ao fundo e minha respiração ofegante pelos gritos e pela luta.

Tudo o que eu podia ver era ela, à minha frente, olhando dentro dos meus olhos, enquanto tudo o que eu disse ainda ecoava nas paredes e entrava, palavra por palavra, na cabeça dela.  Aquilo a feriria, eu sabia disso.  Sabia também que se desse tempo a mim mesmo, me arrependeria mortalmente de cada palavra dita, e simplesmente imploraria por suas desculpas. Mas já estava feito, tudo já havia sido dito. 

Então, sem pensar em mais nada, quebrei a ligação entre nossos olhares pela última vez, me dirigindo para a saída e não olhando outra vez para ela. 

Eu fui embora. Havia terminado tudo o que tinha que ser terminado.  Eu não voltaria a vê-la. Desapareceria, me internaria em um hospício de preciso fosse. Mas eu manteria distância dela. Eu precisava manter distância dela. 

Para o meu próprio bem.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora