Bruno 15

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– Quando eu tinha 21 anos, estava me preparando para ser o diretor de uma das filiais das empresas do meu pai. Eu tinha dinheiro, amigos, namorada. Tudo parecia ir muito bem na minha vida, e eu devia mesmo ter desconfiado que as coisas estavam indo até bem demais. Eu era apaixonado por Lauren, muito apaixonado. Não me importava com as coisas que ela me pedia, ou como às vezes parecia não estar feliz comigo. Na verdade, acho que estava cego de amor por ela, então tudo o que eu mais queria era ficar ao lado dela pelo resto da vida. Mimei-a e a exaltei de todas as formas possíveis. Comprei carro, joias, o diabo para aquela mulher. Eu simplesmente confiava nela, e nunca me passou pela cabeça que um dia ela pudesse fazer algo que me magoasse. Resumindo, eu era um imbecil. Então, foi bem feito que eu tenha me decepcionado.

– No dia em que eu ia pedi-la em casamento, descobri que ela havia ido embora com meu melhor amigo. Mais do que isso, descobri por outras pessoas que os dois tinham um caso antigo, provavelmente durante todo o tempo em que estivemos juntos. Não preciso dizer que me senti um palhaço. Qualquer um que fosse um pouco mais confiante e menos idiota do que eu iria atrás dos dois e talvez cometesse uma loucura por orgulho. Mas eu resolvi me trancar dentro de casa e ignorar o mundo. Me afastei de todos que conhecia, porque se ninguém tinha sido capaz de me dizer toda a sujeira que acontecia debaixo do meu nariz, então me senti no direito de pensar que fui traído por eles também. Perdi meu melhor amigo, minha futura esposa, e a vontade de tentar outra vez ter uma chance em algum relacionamento. Na verdade, nem foi difícil me tornar uma pessoa sozinha.

– Depois desse pesadelo, comecei a beber demais e a tratar os outros como lixo. Obviamente, ninguém estava disposto a me aguentar no auge das minhas crises existenciais, com uma exceção. Essa exceção era Duda. Ela ficou do meu lado durante muito tempo, cuidando de mim. Me tratou bem, e eu sequer merecia isso. Ela me aconselhou a tomar juízo, procurou programas de reabilitação e me obrigou a voltar ao trabalho, porque, segundo ela, eu deveria ocupar minha cabeça para esquecer os meus problemas. Por isso, até hoje, devo muito a ela.

Anne e eu ficamos em silêncio por alguns segundos, enquanto ela me encarava novamente com a cara de peixinho dourado. Eu também olhava para ela, surpreso em notar a forma seca e sem emoção que escolhi para contar aquela história. Era bom saber que aquilo não despertava em mim a tristeza e o desespero que já foi capaz de despertar um dia, e poder contar aquilo para alguém além de Duda fazia com que eu realmente me sentisse algumas toneladas mais leve.

– Desculpe... – ela começou, fechando os olhos e sacudindo a cabeça devagar. – Deixe-me ver se entendi: essa mulher tinha você aos pés dela, tinha uma vida inteira pela frente ao seu lado, e ela resolveu simplesmente ir embora com um amigo seu?

– Meu melhor amigo. Sim.

– Ok. Acho que essa é a mulher mais estúpida de quem eu já ouvi falar – ela disse, com os olhos um pouco arregalados, parecendo realmente surpresa ou incrédula.

– Ela não era estúpida, era uma vadia.

Parei imediatamente, notando a gafe que acabara de cometer. Eu estava ao lado de uma garota de programa, e talvez insultar uma mulher daquela forma não fosse exatamente apropriado.

– Me desculpe...

– Tudo bem. Não me ofendeu.

Eu não falei outra vez, o que nos fez mergulhar em um silêncio constrangedor. Anne olhava atentamente para as mãos, enquanto pensava em alguma coisa com uma expressão séria e um pouco triste, e imediatamente tive vontade de fazer algo muito ridículo para que pudesse voltar a ver aquele sorriso em seu rosto outra vez.

– Espero que você tenha superado isso – ela falou, em uma voz fraca. – Aposto que um dia ela vai se arrepender, enquanto você vai estar aproveitando sua felicidade. Ela não te merecia, então foi melhor ter te deixado.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora