Rayana suspirou.
– Eu espero que você fique bem, Ninha. Espero que você consiga esquecê-lo. Ele sempre foi só um cliente.
Não era o que eu costumava pensar. Ele era diferente dos outros em todos os aspectos possíveis.
Tinha sido exatamente por isso que eu havia me apaixonado tão rapidamente por ele, quando pensei que jamais poderia me apaixonar por um homem que me visse daquela forma.
Mas no fundo, era verdade. Ele sempre foi um cliente.
Um cliente que pagava pelos meus serviços, e que me via como devia ver, como eu era. Não era culpa dele ser tão encantador, não era culpa dele eu ter me permitido ceder aos encantos dele.
A culpa de tudo aquilo era minha.
Rayana se levantou, indo em direção à porta.
– Eu vou te dar um tempo. Você paga suas horas, eu te deixo livre. Mas comece a pensar no que você vai fazer daqui pra frente.
Sem dizer mais nada, saiu do quarto fechando a porta atrás de si, me deixando completamente sozinha e desolada outra vez.
Fiquei no mesmo lugar por algum tempo, pensando no que eu faria. Onde aquela decisão iria me levar. Finalmente quebrei o silêncio do quarto, falando comigo mesma.
– Tudo bem. Você ganhou tempo para esquecê-lo. Agora, trate de esquecê-lo. Trate de esquecê-lo. Para o seu próprio bem.
Eu devia imaginar que se um cliente era tão importante a ponto de fazer com que eu me apaixonasse, ele deveria ser igualmente difícil de esquecer.
Eu não conseguia esquecê-lo.
Não importava o que eu fizesse, o quanto me odiasse ou tentasse odiá-lo, o quanto tentasse não pensar nele.
Conforme os dias passavam, eu me forçava sempre mais a aceitar que precisava parar de pensar nele, mas a cada dia a saudade também aumentava, fazendo com que a tarefa de esquecê-lo se tornasse impossível.
Era impossível esquecê-lo.
Impossível porque eu nunca havia sentido aquilo por ninguém.
Nunca havia pensado em um homem daquela forma, e ele foi o primeiro. O primeiro a me mostrar que aquilo poderia ser tão bom, mas também tão doloroso.
Era simples. Eu não conseguia parar de pensar nele.
Nem com a ameaça de ter que, a qualquer momento, voltar a exercer minha profissão, ou seria expulsa de casa. Nem com a raiva que eu sentia dele, por ter me humilhado e gritado comigo na frente de tantas pessoas. Nem com as minhas amigas me dando apoio ou com Rayana me ajudando.
A lembrança dele trazia mais desespero e dor do que eu podia aguentar, e sua presença fantasmagórica na minha rotina estava me deixando tão exausta que eu não tinha mais forças para tentar esquecê-lo. Porque quanto mais eu lutava contra isso, menos eu conseguia.
Eu simplesmente não conseguia deixar de pensar nele, e sempre me pegava lembrando de qualquer momento que tenhamos passado juntos.
Quando isso acontecia, minha mente se deixava levar e eu mergulhava profundamente em lembranças que me traziam de volta o cheiro dele, o toque dele, o olhar dele.
Todo dia.
Todo maldito dia.
Eu não conseguia parar de pensar nele, e isso poderia ser até aceitável se eu estivesse nesse dilema por alguns dias. Mas, agora, dois meses haviam se passado, e eu estava exausta de lutar contra mim mesma.
Estava exausta de sonhar com ele e sentir uma decepção tão grande quando acordava.
Exausta de me perguntar onde ele deveria estar a todo momento.
Exausta de querê-lo tanto, com tanta força, com tanto desespero.
Eu estava exausta, dilacerada e completamente sozinha.
Tinha muito a agradecer a Rayana por suas atitudes. Ela me permitiu pagar apenas dez programas por dia, já que era raro qualquer garota da casa conseguir mais do que isso por noite. Além disso, se manteve retirando somente a percentagem dos lucros que cabia a ela, o que me fez não ir à falência imediatamente.
Eu devia tudo isso a ela, mas nada poderia me tirar do estado em que eu me encontrava agora.
Um estado deplorável de depressão profunda, onde poucas coisas além de sede, fome e uma bexiga cheia me faziam levantar da cama.
Eu certamente estaria muitos mais quilos mais magra se Angela, Júlia, Sophia e até Manoella não insistissem tanto para que eu comesse mais do que meu estômago podia aceitar.
Era óbvio que quase todas as garotas estavam começando a ficar realmente preocupadas comigo.
Todas me diziam que eu deveria tentar melhorar, mas elas deviam saber que quando se está em depressão, a última coisa que se consegue é ter força de vontade para sair dela.
Estava sendo muito mais difícil do que eu imaginava que fosse ser.
Agora, depois de tanto tempo longe do meu trabalho, eu simplesmente não via possibilidade em voltar a fazê-lo. As coisas haviam ficado muito piores, e eu não sabia como consertá-las.
Eu estava perdida, e a única coisa com a qual eu poderia contar era a paciência de Rayana.
Mas eu devia imaginar que, como tudo de bom na minha vida, isso também não duraria para sempre.
– Anne?
– Sim.
Era sábado, início de tarde. Eu estava deitada na cama, tentando dormir por causa das últimas noites em claro que tinha passado. Rayana agora entrava em meu quarto, com uma expressão séria e ligeiramente triste.
– Como você está?
Essa era uma pergunta que me faziam constantemente, e com a mesma frequência, eu não sabia como responder.
– Melhorando. - Menti.
– Ninha... Já faz mais de dois meses...
– Eu sei...
– Você acha que consegue voltar?
Eu não conseguia. Só a imagem de mim mesma com outro homem, qualquer homem que não fosse ele, já causava toda aquela mistura de sensações horríveis dentro de mim: Nojo, tristeza, desespero, pavor.
Eu não conseguia. Eu não queria.
Não podia fazer aquilo.
– Não.
Minha voz saiu firme, de uma forma que eu não esperava que saísse, me pegando completamente de surpresa e, ao que tudo indicava, surpreendendo Rayana também.
– Não?
– Não. Eu não posso, Rayana... Me desculpe...
Ela me olhava sem expressão, enquanto via agora lágrimas descerem pelo meu rosto.
As mesmas lágrimas que desceram durante todos aqueles dias, sempre pelo mesmo motivo. As lágrimas com as quais eu já havia me acostumado, e que eram agora a marca do meu estado de espírito.
Aquelas lágrimas simbolizavam o pouco de tudo o que eu vinha sentindo por todo aquele tempo, mas agora, carregavam também a dor pelo que eu sabia que viria a seguir.
Era uma questão de tempo.
– Eu também peço desculpas, Ninha. Mas não posso mais aceitar você aqui.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...