Luz.
Estava bem mais claro do que eu podia esperar do meio da noite. Era possível notar isso ainda de olhos fechados. Abri-os preguiçosamente, apenas para constatar, para minha total surpresa, que já havia amanhecido, embora minha percepção julgasse não haver passado nem uma hora desde o momento em que adormeci.
Pisquei algumas vezes. Um mormaço tímido penetrava o quarto pela fresta da cortina aberta, diretamente no meu olho esquerdo. Virei de lado de forma brusca, sem pensar onde estava ou que horas deviam ser.
Ao meu lado dormia um homem de bruços, com o rosto virado para o outro lado, aparentemente nu até onde o lençol o cobria.
Era um corpo bonito, em forma, mas algo me incomodou ali. Algo que eu não havia notado no início.
Eu não conhecia aquelas costas. Eram diferentes das costas que eu esperava encontrar aquela manhã. Não tinham os sinais que eu havia tentado decorar um dia, ao vê-lo tomar banho. O cabelo também não era o mesmo. Era ondulado, mas negro.
A razão veio me tomando aos poucos, e foi junto com ela que o homem começou a se mexer. Foi quando finalmente ele se virou para mim que levantei de imediato, quase caindo da cama. Reparei que eu também estava nua.
– Que porra...
Meu coração batia descompassadamente. Eu não estava entendendo nada, e olhei em volta tentando me localizar.
Aquele quarto também não era o quarto que eu esperava encontrar naquela manhã, simplesmente porque não era o mesmo quarto em que eu havia dormido. Não era a suíte da casa dos Coolin.
Mas eu conhecia aquele lugar.
Era um lugar com paredes encardidas, sujas. Precisavam de uma pintura. Ao meu lado, uma tv quebrada, algumas roupas em cima dela. O "quarto" em questão dividia o espaço com uma cozinha através de uma bancada. Havia apenas uma lâmpada que pendia do teto, sem lustre. Minhas malas estavam espalhadas pelo chão, na parede à direita, e como um estalo dentro de mim, consegui me localizar.
O apartamento.
O apartamento que eu morava. Não era a casa de Bruno, nem de seus pais. Também não era a casa de Rayana. Era o lugar para o qual eu havia ido entre esses dois momentos.
Desespero.
Cocei os olhos, tentando enxergar melhor. Tudo parecia muito embaçado. O homem desconhecido ainda estava de bruços no sofá-cama, olhando para mim como quem olha para qualquer animal de circo.
– Não.
Falei em voz alta. Uma vez, duas vezes, repetidas vezes.
– Não, não... Isso não...
Senti falta de ar. Uma dor angustiante comprimiu meu peito como se quisesse esmagá-lo.
– NÃO! NÃO FOI UM SONHO, PORRA!
Mais falta de ar. Meu corpo começou a tremer descontroladamente, de forma ridícula, tentando se manter de pé.
Alcancei o celular e busquei ali o número dele, tentando lutar contra o tremor e apertar as teclas certas.
Não estava lá.
– Por favor, não...
Chorei de desespero. Olhei para os lados, sem saber o que fazer.
Aquilo não podia estar acontecendo.
– Uma puta escandalosa. Escolheu a dedo, Roy.
O homem falou consigo mesmo, e senti um baque no estômago. Encostei na parede tentando respirar. Minha garganta parecia fechada. Ao lado do sofá, duas garrafas de alguma coisa alcoólica e notas de dinheiro.
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De repente, amor
Roman d'amour♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...