Bruno 23

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– Senhor? 

– Sim. 

– Está tudo bem? 

– Está tudo ótimo, Eduarda. Não poderia estar melhor. 

Notei pela minha visão periférica que ela me encarava com dúvida, mas não fiz menção em me virar e encará-la para tentar mostrar que eu estava falando a verdade. 

Primeiro, porque minha cabeça doía demais para que eu tentasse fazer alguma coisa além de falar e respirar. 

Segundo, porque eu simplesmente não me importava mais com o fato de Duda acreditar ou não em mim. 

Terceiro, porque eu não estava falando a verdade. 

– O senhor parece cansado. 

Eu também teria pedido que ela me chamasse pelo nome. Quanto mais o tempo passava, mais me irritava a insistência de Duda em ser formal comigo. 

Mas até isso exigia de mim uma força de vontade que eu não tinha. 

– Eu estou cansado. Cansado e com enxaqueca. Mais alguém quer falar comigo hoje? 

– Não senhor. 

– Ótimo. Então pode trancar a porta assim que sair. 

Duda permaneceu em silêncio por algum tempo. Não abri os olhos para verificar o porquê. 

– Tudo bem. Aqui estão as anotações das reuniões de hoje. O senhor está indo bem com as suas decisões. 

– Obrigado. 

– E aqui estão os três contratos. 

Senti os papéis sendo jogados à minha frente, em cima da minha mesa. Ainda assim, continuei imóvel, fazendo movimentos lentos e circulares com os dedos nas têmporas para tentar aliviar a pressão que eu sentia na cabeça. 

 – Bruno. 

Abri os olhos, encarando-a. 

– Fale comigo! Eu estou bem aqui! 

Continuei fitando-a, enquanto analisava silenciosamente minhas opções. 

Eu queria conversar com ela. 

No final das contas, ela era minha melhor amiga. Minha única amiga. 

Eu queria contar a ela tudo que estava se passando comigo, todas as minhas dúvidas e meu pânico. 

Queria pedir conselhos, porque ela sempre tinha algo de inteligente para dizer, e se preciso fosse, escutar calado uma bronca daquelas que só Duda sabia dar. 

Eu queria me abrir com ela. Queria dividir o peso que eu carregava nas costas com outra pessoa.

Queria uma luz no fim do túnel.

Qualquer coisa. 

– Vou lembrar disso, Duda. 

Ela continuou me encarando com preocupação, e eu tentei sustentar seu olhar, embora minha dor de cabeça estivesse praticamente me cegando. 

Quando finalmente tirou suas mãos que serviam de apoio da mesa, suspirou e, dando meia volta, saiu da sala.

Fechei os olhos outra vez e abaixei a cabeça nos braços, agora cruzados na mesa em cima dos tais papéis das reuniões as quais eu havia comparecido hoje. Eu poderia dizer que comparecer a reuniões seria uma tarefa impossível, dadas minhas atuais condições, mas era realmente incrível como eu conseguia. 

Nos últimos dias, treinei meu cérebro a aceitar problemas e assuntos relacionados aos negócios, então eu conseguia me concentrar nisso quando me empenhava em fazê-lo, quase o tempo todo.

Quase. 

Porque havia momentos, até quando eu me forçava a prestar atenção, que a dispersão vinha e eu me pegava pensando em coisas aleatórias. 

Na verdade, eu até desejava que fossem pensamentos aleatórios em geral, e não pensamentos aleatórios relacionadas a uma pessoa.

A ela. Sempre ela. 

Ela estava transformando minha vida em um verdadeiro inferno. Estava colocando dúvidas absurdas e pensamentos impertinentes na minha cabeça. Estava conquistando um território de importância ao redor da minha vida que não tinha o menor direito de conquistar.

Por causa dela, minhas noites andavam mal dormidas. 

E quando conseguia dormir, meus sonhos teimavam em trazê-la de volta para me atormentar. 

Por causa dela, Duda me rondava e me perguntava sempre o que havia de errado comigo. 

Por causa dela, havia algo de errado comigo.

Algo de muito errado.

Eu a conhecia havia menos de um mês, e já não conseguia parar de pensar nela. Qualquer detalhe, qualquer inutilidade que resolvesse atravessar o meu caminho ao longo do dia, me fazia lembrar dela. 

Eu me pegava analisando praticamente todas as mulheres que via e traçando automaticamente uma comparação entre elas e ela. 

Ela. 

Porque ela estava mexendo demais com a minha cabeça, e isso não era normal.

Ela não devia ter esse grau de importância na minha vida. Não devia estar em uma posição tão privilegiada na minha lista pessoal de prioridades. 

Eu não devia pensar tanto nela, e quanto mais me conscientizava disso, menos eu conseguia tirá-la de meus pensamentos. 

Quanto mais eu sabia que devia esquecê-la, mais difícil era não lembrar dela. 

Mais difícil era não querê-la por perto.

Eu a queria por perto.

Todos os dias. Toda hora. A qualquer momento que fosse.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora