Aquele encontro não havia sido fácil. Mas não foi, nem de longe, tão difícil quanto eu pensei que seria. Havia sido assim na ocasião em que conheci a família de Bruno, e havia sido assim nessa ocasião. Talvez eu estivesse com a mania de superestimar tudo que acontecia à minha volta.
– Tudo bem? - Ouvi a voz dele me perguntando aquilo pela terceira vez em menos de cinco minutos, desde que havia saído da casa de Rayana e o encontrado à minha espera, apoiado ao carro.
– Não se preocupe. Estou mais leve. Eu tinha que fazer isso.
Ele sabia disso, mas mesmo assim estava preocupado que aquele encontro pudesse ter afetado meus nervos de alguma forma. O que era até um pouco engraçado, já que a pessoa mais abalada ali era, visivelmente, Bruno.
– E você? Está bem? - Perguntei, querendo mostrá-lo que havia notado seu desconforto. Ele suspirou, apertando os dedos contra o volante enquanto dirigia e voltava a encarar a rua.
– Só não gosto daquele lugar.
Eu sabia disso. Sabia inclusive que era complicado até tentar começar a explicar o motivo por trás daquele clima desagradável.
– Eu sei. Essa foi a última vez que fomos lá, de qualquer forma.
– E tudo bem? - Ele insistiu.
– Já disse que sim, Bruno. - Minha voz saiu impaciente. Imaginei que ele estivesse insistindo apenas porque eu não conseguia parar de chorar.
– Ok.
Não conversamos mais durante a volta para casa. Eu estava um pouco triste, mas estava em paz. Agora já não havia mais pendências que me prendiam àquele lugar, ou até mesmo àquele país. Eu poderia ir agora, sem que minha consciência me torturasse com o que eu tinha que ter feito. Mas era difícil dizer adeus às únicas amigas que eu tinha. Depois delas, a única pessoa da qual havia me aproximado era Duda, e ela também ficaria ali. Uma estranha solidão foi me tomando aos poucos, e não foi preciso dizer uma única palavra para que Bruno notasse isso. Por isso, durante o resto daquele dia e do outro, ele se esforçou em me distrair, até mesmo deixando que eu o ajudasse com as caixas da mudança (mas sem nunca me permitir pegar algo mais pesado que um travesseiro). Conversou comigo a maior parte do tempo, enumerando as várias coisas boas que Londres tinha. Me tratou como uma rainha, ainda mais do que antes, embora eu não achasse ser possível.
Sem que eu percebesse, minhas últimas horas na América haviam se passado.
– Se minhas filhas entrarem em depressão por sua causa, eu vou até a Inglaterra te matar.
Aquela era Duda chorando. Era assustador, e não porque eu não entendesse o que ela sentia, mas sim porque ela sempre me pareceu forte demais para conseguir derramar uma única lágrima. Mas seu tom de ameaça ainda me dava medo.
– Vocês podem ir nos visitar quando quiserem. - Bruno falou, tentando se defender.
– E nas mãos de quem eu deixo a sua empresa, seu idiota?
– Só por uns dias. Se algo der errado, pode pôr a culpa em mim.
Ela fungou, enxugando o rosto. Não conseguia deixar de encarar seus olhos incrivelmente vermelhos.
– Tudo pronto, senhor. Quando quiser. - Fernando chegou, falando um pouco alto por causa do vento forte. Me perguntei se aquele seria o clima padrão de todas as nossas viagens.
– Ok então. - Bruno disse, se virando para Duda e a abraçando. Os dois ficaram ali por um longo tempo. Ele poderia estar falando algo no ouvido dela, mas eu não saberia dizer por causa do ruído do vendaval. Ambos ficaram muito quietos, e me perguntei se no momento em que se afastassem, eu conseguiria ver Bruno emocionado. Bem, quase.
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De repente, amor
Roman d'amour♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...