Bruno 17

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— Ela não está disponível.

— Como assim, não está disponível? — Olhei em volta e notei que agora a conversa havia cessado e todos no lugar, clientes e garotas, nos encaravam.

— Você chegou tarde. Ela já tem um cliente.

— Não cheguei tarde merda nenhuma! Eu paguei pela semana dela!

— Ele ofereceu mais dinheiro, portanto ela é dele por agora.

Olhei incrédulo para ela, enquanto tramava um jeito de me esquivar de seu aperto — mesmo que isso resultasse em quebrar o pulso dela — e subir as escadas. Como se pudessem ler meus pensamentos, alguns homens se moveram de forma a ficar entre mim e a escada, formando um escudo humano.

— Que merda é essa? — falei, já exaltado. — Eu paguei primeiro!

— Ela é um objeto desejado, querido. Entenda...

— Ela é MINHA!

— Ela não está à venda! Se quiser, alugue-a, mas não a considere sua! Ela não é, e nunca vai ser!

— Sua filha da...

— Por que você demorou? — Uma voz interrompeu meu xingamento. A voz que eu conhecia. Que eu procurava, e que nunca na vida desejei tanto ouvir. Ergui os olhos e a vi. Ela estava com roupas que eu jamais a havia visto usar. 

Roupas vulgares, maquiagem pesada e um rosto triste. Embora as cores fortes em seu rosto fossem gritantes, não conseguiam tirar a atenção dos vários machucados que ela tinha na boca, em volta dos olhos e, descendo, por todas as partes do corpo, expostas pela saia indecentemente curta e pelo top quase transparente. Uma puta. Um objeto, com as marcas de todos os aluguéis ao longo do tempo.

— Eu esperei por você, mas você não veio. Pensei que você fosse me proteger.

O cenário havia mudado, e agora existíamos só nós dois, ainda em nossas posições, enquanto todos os outros coadjuvantes haviam desaparecido. Fui tomado por uma esperança ao ver que podia caminhar até ela, mas minha alegria durou o tempo necessário para que eu me desse conta de que não conseguia me mover. Tentei falar alguma coisa, mas minha voz também não era audível. Eu estava impotente, e só podia rezar para que ela pudesse ler meus pensamentos. Mas ela não podia.

— Você disse que estaria por perto.

Eu disse... Eu vou estar!

— Você mentiu pra mim.

Não menti, eu quero estar!

— É sua culpa. Eu estou assim por sua culpa.

Eu vou cuidar de você... Eu vou...

— Não volte mais aqui. Não quero mais ver você, não quero mais falar com você. Finja que não me conhece, que eu nunca existi.

Me desesperei, ainda preso no mesmo lugar, tentando por tudo que era mais sagrado gritar alguma coisa, qualquer coisa, mas minha voz não me obedecia. Ela não podia me jogar para fora da vida dela daquela maneira! Eu não podia ir! Ninha! Por favor... Ela se virou e caminhou lentamente para o corredor que dava para os quartos, e eu não pude fazer nada senão olhá-la ir embora. 

Por favor! 

Por favor...

— Bruno?

Uma voz aveludada conhecida chamou meu nome, tirando-me lentamente daquele sonho. Abri os olhos e vi o rosto de Duda em frente ao meu, me encarando com curiosidade. Aos poucos, me dei conta da dor que sentia no pescoço, proveniente da péssima posição em que me encontrava, com a cabeça apoiada nos braços em cima da mesa do meu escritório.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora