Anne 53

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– É uma pena que você precise me mostrar essas coisas pra se sentir melhor. 

– Eu achei que você fosse ficar mais tranquilo se visse. 

– E eu achei estar claro que confio em você. Não precisa me provar nada, basta dizer e eu acredito. Por acaso eu também preciso mostrar algum exame pra que você tenha certeza... 

– Você sabe que é diferente!

– Não é. Minha palavra deveria valer pra você a mesma coisa que a sua vale pra mim. E se isso não significar nada, devo lembrá-la que eu também já tive muitas mulheres?

– Não precisa. - Falei seca. 

Outra vez, ficamos em silêncio. 

Infelizmente, aquele se tratava do silêncio antigo, o velho conhecido que se expandia entre nós de uma forma desagradável. Sem pensar, tomei de volta os remédios da mão dele e me levantei rapidamente, na iminência de correr para o meu quarto e ficar por lá. 

– Não me deixa sozinho aqui. Por favor... - Ele falou, segurando meu braço sem força, mas com firmeza. 

– Vou dormir no outro quarto essa noite. 

Me desvencilhei de seus dedos e saí sem olhar para trás. Entrei no meu quarto, fechando a porta atrás de mim. Joguei em cima da mesa de canto as coisas que trazia nas mãos e fui escovar os dentes. Não me preocupei em ligar o aquecedor, apagando a luz e me enfiando de uma vez só por baixo das camadas do edredom fofo e quente, mergulhando na quase total escuridão do quarto, que só era comprometida pela pouca luz que vinha do lado de fora e entrava pela janela. 

Fiquei ali remoendo aquele sentimento ruim, sem sequer saber o motivo de estar sentindo aquilo ou o que poderia ser. Me cobri até a cabeça, tentando ficar mais tranquila, mas não conseguia. 

Por que eu estava irritada com Bruno, afinal? Só porque ele queria confiar em mim e eu não deixava? Isso fazia algum sentido?

Qual era o meu problema? 

Fiquei imóvel, esperando o sono chegar, mas ele não veio. Talvez porque eu não estivesse cansada, mesmo depois de um dia de trabalho, ou talvez - e o que era mais provável - porque eu estava angustiada com a ausência dele. 

Embora não quisesse admitir, eu desejava desesperadamente que ele entrasse por aquela porta a qualquer momento, nem que fosse para perguntar qualquer coisa idiota.

Conforme o tempo passava, eu ia me convencendo de que ele não apareceria. 

Considerei a hipótese de me levantar e ir dormir ao seu lado, mas logo desisti da ideia ao chegar à conclusão de que se Bruno ainda não havia ido me ver, é porque não queria me ver.

A escuridão do quarto se tornou sufocante. 

Uma chuva fina começou a cair do lado de fora, fazendo um barulho tão discreto contra as janelas de vidro que talvez eu não notasse, se não estivesse prestando atenção. 

De repente, senti um nó na garganta, o tipo de dor que eu sabia que precedia o choro. Tentei me sentir menos sozinha, convencendo a mim mesma de que, no fundo, eu não passava de uma criança idiota e carente, e que, pelo amor de Deus, ele estava no quarto ao lado!

Me dando conta pela primeira vez da dependência que havia desenvolvido da sua companhia, cheguei à conclusão de que não obteria sucesso. 

Então, fui pega de surpresa com o barulho da maçaneta na porta. Mantive meus olhos abertos, voltados para a janela, de costas para ele, e por algum motivo que eu não saberia explicar, fingi estar dormindo. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora