Anne 20

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– Tem um restaurante que eu conheço muito bom. Gosta de comida francesa? 

Se eu gostava de comida francesa? Como eu ia saber? 

– Ahm... 

– Esse restaurante fica perto da minha casa, é especializado em comida francesa. E você não vai acreditar nos vinhos de lá. 

Eu sequer sabia diferenciar vinhos, e nunca havia provado nada da culinária francesa, mas sabia o suficiente para ter certeza que tudo era bastante caro, principalmente em restaurantes especializados. Principalmente em restaurantes que estavam localizados no bairro em que Bruno morava. 

É claro que eu tinha minhas economias. 

Eu conseguia uma quantidade de dinheiro razoável pelos programas, e não era de gastar tudo em shoppings - embora, vez ou outra, sair com Júlia tenha despertado meu consumismo, me fazendo gastar mais dinheiro do que devia em coisas como lingeries e vestidos - mas eu sabia que se quisesse comer minimamente bem em um restaurante francês, boa parte da minha poupança iria embora.

Principalmente porque eu estava faminta.

Além do mais, se tinha algo que eu não precisava agora era de alguma situação que me fizesse sentir incrivelmente inferior e deslocada em relação a Bruno, então eu preferia uma refeição que exigisse, no máximo, três talheres, um prato e um copo, e não toda aquela confusão de louças, taças específicas e garfos de três tamanhos diferentes. 

– É que... Eu não estava pensando em comida francesa hoje. 

– E o que tinha em mente? - Ele me perguntou, me espiando rapidamente enquanto voltava a prestar atenção na rua. 

– Uhm... McDonalds? 

– Quê? É seu aniversário, você pretende comemorar em um Fast Food? 

– Qual o problema? 

– O problema é que hoje é um dia especial, que exige ocasiões especiais. Além do mais, é a comemoração de mais um dia de vida, então eu não vou deixar que você chegue mais perto da morte ajudando a entupir suas artérias com toda aquela gordura. 

– Hoje é um dia como outro qualquer. Todos os dias alguém faz aniversário, isso não faz com que todos os dias sejam especiais. 

– Você faz aniversário só um dia, então hoje é especial. Por isso, nós vamos comemorar com comida francesa. 

– Não vamos! 

– E por que não, sua teimosa? 

– Porque eu não posso ficar gastando dinheiro com um almoço. 

Eu não devia me envergonhar por assumir isso a ele, afinal, era algo natural ter menos dinheiro que Bruno. Mas eu me envergonhava. 

– E quem disse que você vai pagar? 

– Eu estou dizendo! 

– Se bem me lembro, eu te convidei. Então eu pago. 

– Uma ova. Você já gastou sabe-se lá quanto com as flores. 

– Ei, quer me deixar fazer isso direito? 

– Não vamos pra esse tal restaurante! 

– Ok, façamos um acordo. Nós vamos comer em outro restaurante, um menos extravagante - não o McDonalds - mas é por minha conta.

Pensei um pouco, analisando a situação. 

– Eu escolho o lugar? - Perguntei, esperançosa. 

– Claro que não. Você não conhece os restaurantes bons do meu bairro, eu conheço.

– Mas todos os lugares que você considera bons são caros! 

– Prometo que vamos em um lugar razoável. Você vai gostar. 

Quinze minutos depois, chegamos a um restaurante pequeno e simpático por fora, mas bem mais luxuoso por dentro. 

Olhei para Bruno com um olhar fuzilante enquanto um rapaz nos guiava para uma mesa de dois lugares. 

– Você mentiu pra mim. - Falei, enquanto sentava à sua frente. 

– Acredite, aqui é bem mais barato.

Quando tive acesso ao menu e aos preços, constatei que tudo era muito caro, então nem queria pensar nos preços de qualquer coisa que fosse servida no restaurante que eu havia vetado. 

– Se me permite... - Ele começou, notando minha indecisão e retirando com gentileza o menu de minhas mãos - Sugiro Magret de pato com risoto de laranja, e Poires à Belle Hélêne para a sobremesa. 

Fiquei um pouco hipnotizada com o bico que ele fazia ao pronunciar as palavras com sotaque. 

– Você tem tara por comida francesa? 

– Não é tara, eu só gosto muito. - Ele sorriu. 

– Certo. Posso ver uma coisa? - Perguntei, tentando tirar o menu de suas mãos. 

– Quer parar de querer controlar o preço? Você vai me fazer parecer esnobe, mas acredite quando eu digo que posso pagar. Aliás, poderia comprar esse restaurante inteiro. Portanto, pare de criar caso. 

Suspirei, assentindo de má vontade.

Bruno chamou o garçom e passou nossos pedidos. Pedi um refrigerante e recebi protestos dele, que queria escolher um vinho de algum ano especial, mas logo aceitou minha decisão quando eu disse que só beberia se ele me acompanhasse, e como ele estava dirigindo, isso não seria possível. 

Quando o pedido chegou à nossa mesa, provei o prato exótico e, como eu imaginava, a sugestão de Bruno havia sido perfeita.

Eu estava morrendo de fome, mas mesmo assim me contive para não parecer uma troglodita faminta na frente dele, e mastiguei mais devagar do que costumava para conseguir terminar minha refeição depois dele. A sobremesa estava igualmente boa, e quando finalmente meu prato havia esvaziado, me senti satisfeita. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora