Bruno 39

237 23 0
                                    

Já era a terceira vez que eu passava pelo canal 107 da minha tv. Cada canal demorava precisamente um segundo diante de meus olhos, talvez por uma lógica inconsciente que me fazia contar, através do clique no controle remoto, o tempo que Anne estava demorando. 

Aquela noite estava anormalmente quente, por isso eu estava sentado na cama, olhando pateticamente para a enorme tv plana à minha frente, apenas vestindo uma calça de moletom cinza, não prestando atenção em absolutamente nenhum programa que passava rapidamente pelos meus olhos. 

Por que ela estava demorando? Talvez fosse melhor verificar. 

Mas e se Anne tivesse decidido não dormir aqui? 

Ela viria me avisar? 

Canal 201. 202. 210. De volta ao canal 1. Canal 2. Canal 25. 

Meu dedo parou em cima do botão "próximo" quando ouvi a porta sendo aberta ao meu lado. Imediatamente, olhei para o lugar e a vi fechando a porta atrás de si, me encarando com simplicidade. 

Ela tinha os cabelos molhados, caindo em ondas pelos ombros magros, que contrastavam com seu tom de pele pálido e combinavam com suas sardas claras. As únicas peças de roupa que vestia eram uma calcinha preta confortável e uma camiseta justa branca, que delineava perfeitamente sua cintura e seus seios. Os hematomas por toda a extensão do seu corpo eram evidentes, esverdeados e amarelados, e então me perguntei se ela havia feito aquilo de propósito, para me lembrar do animal descuidado que eu era. 

Meu coração começou a bater de forma descompassada por uma série de motivos. 

Primeiro, ela estava ali. Ela não havia se negado a vir até mim, e isso era tudo o que eu queria. 

Segundo, ela estava absurdamente linda com aquelas roupas simples e com aquela expressão calma, o que fez com que meu corpo reagisse instantaneamente, e então apertei um pouco as pernas para não deixar evidente o início de uma ereção.

Mas foi pelo terceiro motivo que senti minha cabeça girar um pouco e meu nervosismo atingir um nível alarmante, a ponto de me fazer pensar que talvez pudesse ter um ataque cardíaco ou algo similar. No exato momento em que ela fechou a porta, por algum motivo sobrenatural talvez, uma lufada de vento me trouxe um perfume que há muito tempo eu não sentia. E foi exatamente aquele perfume que fez com que meu corpo subitamente parecesse gelatina derretendo.

Fechei os olhos e inspirei uma vez. 

Duas vezes. Três vezes, testando meu autocontrole e principalmente minha sanidade. Quatro vezes, e o perfume parecia cada vez mais forte. Cinco vezes. Seis vezes, e então tudo que eu podia sentir era aquilo, como um tapa na cara, como a lembrança desesperante de um vício adormecido, e que voltava para me atormentar com uma força assustadora. 

Abri os olhos e a vi ali, à minha frente, alguns centímetros de mim, me observando calmamente, mas com um leve toque de preocupação ou curiosidade. Sem dizer nada, ela tirou o controle remoto das minhas mãos e apontou para a tv às suas costas, sem nem ao menos olhar, desligando o aparelho e nos deixando em um quase total silêncio, que era comprometido unicamente pela minha respiração pesada e desesperada. 

– Eu sei que você não quer lembrar de nada do passado. - Ela começou, e eu não conseguia fazer mais nada além de ouvir - Mas o creme melhora as minhas marcas. Você sabe disso. 

Eu sabia disso, mas não conseguia confirmar. Momentaneamente temi que todos os músculos do meu corpo tivessem sofrido algum tipo de choque e que não funcionassem mais. Mas minhas suspeitas foram descartadas assim que comecei a sentir meu membro latejar de excitação, e talvez ele estivesse até se mexendo, o que seria dolorosamente vergonhoso, mas eu não conseguia me importar.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora