Está nervosa?
– Não. - Menti categoricamente.
Eu estava nervosa. Bruno e eu estávamos no carro dele, indo ao obstetra com os resultados dos exames. Para manter nossa calma - ou pelo menos tentar - decidimos não ler nada antes do próprio médico, porque se houvesse alguma observação fora do "normal" naqueles laudos, mesmo que não fosse nada demais, não entenderíamos os termos médicos e acabaríamos em pânico, talvez à toa.
Por isso, os envelopes ainda estavam lacrados. Tanto os exames relacionados à minha saúde quando o exame que informava o sexo do bebê.
– Eu estou. - Ele falou, tentando manter os olhos na rua à frente.
Bruno não precisava sequer anunciar aquilo: Estava óbvio.
Me senti um pouco mal por talvez ser a responsável por não gerar o nosso filho da forma correta. Eu rezava para todos os santos que não houvesse nada naqueles exames, para que o bebê não corresse riscos, principalmente porque ele era a coisa mais importante do mundo agora, mas também porque eu jamais me perdoaria caso algo acontecesse a ele. Porque a culpa seria minha.
– Não vai dar nada... - Falei, um pouco baixo, tentando convencer a mim mesma que era bobagem se preocupar. Se houvesse algo, os exames anteriores teriam apontado.
– Claro que não. - Ele falou ao meu lado, apoiando a mão direita na minha perna e aplicando ali um pouco de força, como se quisesse me passar confiança. Ainda assim, não foi difícil notar o vacilo de insegurança no sorriso que ele deu.
Fiquei calada o resto da viagem. Ele fez o mesmo. Qualquer palavra que soasse entre nós dois naquele momento parecia como uma fagulha na pólvora, nos aproximando de uma explosão de nervos a cada segundo.
Quando chegamos, nosso nervosismo pareceu se intensificar. Tentei parecer calma, porque se Bruno percebesse meu estado provavelmente entraria em desespero, dizendo que aquela tensão toda acabaria prejudicando o bebê. E eu acreditaria, e entraria em pânico também. E então seríamos dois pais desesperados à beira de uma síncope.
– Bom dia, Ninha. Bruno.
Nos sentamos, e me deixei levar pela aura de positividade e animação do dr. Carlos. Bruno estava tão nervoso que parecia ter simplesmente esquecido de sentir ciúmes.
– Bom dia, doutor. - Ele falou, entregando imediatamente os exames - Não vimos nada porque...
– Porque estávamos com medo. - Concluí, imaginando que talvez falar, naquele momento, pudesse aliviar um pouco a minha tensão.
– Bom, também... - Bruno continuou - Mas porque achamos melhor que o senhor visse, e caso houvesse alguma coisa anormal, que nos explicasse. Antes que chegássemos a conclusões erradas.
– Fizeram muito bem. - Ele disse, aceitando os envelopes das mãos de Bruno e abrindo-os calmamente, como quem abre uma carta de Natal.
Ele analisou os resultados por algum tempo. Um bom tempo. Talvez semanas. Meu estômago começava a dar reviravoltas aleatórias, fazendo com que eu me sentisse um pouco mais enjoada a cada segundo transcorrido. Bruno estava imóvel na cadeira ao meu lado, olhando fixamente para o médico, que ainda virava e desvirava as páginas.
O zumbido do ar condicionado parecia muito mais alto agora, e me incomodava mais também. Estava frio, mas não dei muita atenção a esse pequeno detalhe. Eu podia escutar cada engolida seca que Bruno dava, e aquilo estava me deixando à beira de um ataque de nervos. Até o barulho das páginas sendo viradas estavam dando corda à minha iminente explosão.
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...