C A P Í T U L O 5

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SAMANTHA PRICE

     Há alguma coisa de familiar que sinto na melodia que ouço durante meu sono. É um som bem baixinho, como se estivesse vindo do fim de um túnel, e eu se quer havia entrado nele ainda. Mas consigo ouvir. Parece um jazz antigo, sendo tocado num toca discos antigo.

     É bonito e eu relaxo.

     Mas, em algum momento, a música para de tocar e tudo volta a ficar silencioso e escuro. Eu continuo dormindo, lutando para abrir meus olhos e acordar, mas não consigo porque estou cansada demais. Tento mexer as mãos, os pés ou qualquer outra parte do corpo, mas me sinto muito fraca. Talvez eu só precise descansar, mas não quero ficar onde sei que estou; o hospital.

     Posso ouvir os aparelhos bipando ao meu redor, mesmo que eu não esteja acordada; sei que tem soro espetando no meu braço, mesmo que eu não esteja acordada; sinto o frio intenso de um ar-condicionado gelando o ambiente, mesmo que eu não esteja acordada. Estou no hospital, é claro. É tudo tão familiar, tão comum, que posso sentir e identificar tudo mesmo estando grogue. Não que isso seja uma coisa boa.

     Eu tento abrir os olhos quando alguém pega na minha mão, mas ainda não consigo, por mais força que eu faça – acho que não é o suficiente. Foi quando a melodia começou a tocar no meu sonho – no sonho em que eu estou vagando por uma rodovia vazia, em algum lugar do deserto da Califórnia. Eu me lembro de parar de andar e olhar ao redor, procurando a fonte da música, mas ela não tem local; mas só até eu ver o túnel e perceber que ela vem de lá. A voz que estava cantando era tão serena e nostálgica; era muito relaxante.

     Eu poderia ouvi-lo durante horas a fio. Ouvi-lo. É uma voz masculina, mas não consigo identificar quem é, infelizmente. Talvez seja fruto da minha imaginação, porque gosto dessa música – What A Wonderful World. Ela é linda.

     Quando abro os olhos, sou recebida por uma luz fluorecente extremamente clara e irritante vinda do teto. Eu franzo a testa e pisco, mas minhas pálpebras estão pesadas. Lentamente, o ambiente ao meu redor começa a entrar em foco, mas está meio...lerdo. Ainda estou grogue.

     Não acredito, penso, estou viva. Quero sorrir por ter passado a noite inteira respirando e continuar, mas não consigo me mover muito sem querer bocejar. O anestésico que me deram é forte, porque me sinto exausta e pesada, apesar de tudo. Me lembro muito pouco das minhas últimas horas acordadas, apenas de que eu estava com medo e sentir dor no peito, muita dor.

     Faço uma força sobre-humana para levantar os braços e esfregar os olhos com as mãos, bocejando em seguida. Meu peito dói quando o ar entra; efeito da cirurgia, provavelmente. Agora que estou finalmente acordada, acho que não quero ver o tamanho da minha nova cicatriz. Pra falar a verdade, agora que estou acordada, não quero fazer um monte de coisas – não quero ver as expressões preocupadas dos meus pais, não quero ouvir o médico dizer todos os cuidados que preciso tomar de agora em diante e que eu vou ficar bem, não quero ter que passar uma semana internada nesse lugar frio, não quero ter que passar por um monte de mudanças de novo, não quero ter que voltar a sentir medo do meu coração pifar a qualquer momento. Não quero ser a garota doente de novo.
    
     Tento me mexer na cama, para me sentar ou coisa parecida, mas estou com tanto sono que tenho que me esforçar até para manter os olhos abertos. Suspiro e tento relaxar o corpo na cama do hospital, mas não gosto de estar aqui; quero minha cama de verdade.

     Lentamente, eu sinto meus olhos ficando ainda mais pesados. Seria tão bom dormir mais um pouquinho... só um pouquinho...bocejo e acabo fechando os olhos outra vez, acomodando meus braços em cima da minha barriga. Posso sentir o sono "voltando" devagar. Minha mente me lembra que eu ainda tenho muito o que pensar, mas meu corpo fala mais alto quando pede por mais alguns minutinhos de sono. Ou horas.

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