C A P Í T U L O 169

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SAMANTHA PRICE

    A minha mãe surtou quando me viu chegando no hospital. Ela estava trabalhando – obviamente – quando houve uma chamada sobre um acidente de moto. Quando me viu descendo da ambulância, toda molhada de chuva, com o braço sangrando e a perna inchada, ela só faltou desmaiar dentro da UTI mesmo.

    É claro que os outros médicos e os outros enfermeiros não deixaram ela ajudar no processo de cuidar de mim, porque ela estava alterada. O tempo inteiro em que esteve comigo, as mãos tremiam, mesmo sabendo que eu estava "bem", na medida do possível, e que não havia sido um acidente grave.

     Me senti um pouco mal por ver a minha mãe nesse estado de nervos, principalmente porque ela chorou. Eu sei que ela tem medo de me perder – muito medo –, e me ver chegando no hospital de ambulância não é uma cena que ela espera ver no dia-a-dia de trabalho. Eu também ficaria nervosa.

     Quer dizer, mais do que já fiquei do meu ponto de vista.

     Eu senti tanto pânico, que tudo o que aconteceu até aqui é um borrão na minha cabeça. Acho que o susto do acidente me deixou em choque, e depois que passou, quando me deitaram nessa cama e o médico veio para pôr meu joelho no lugar, eu comecei a chorar – de medo e dor.

     Foi um susto e tanto.

     Encaro minha perna machucada. Ainda está um pouco roxa e inchada, do joelho para baixo principalmente. Não está mais doendo tanto porque me deram remédio pra dor, mas toda vez que mexo de leve os dedos dos pés, sinto uma pontada pela perna toda.

     Mexo meu braço enfaixado. Ele estava ardendo mais do que doendo, mas agora é ao contrário. Fiquei toda ralada, mas ficaria muito pior se a jaqueta jeans não tivesse diminuído o impacto da fricção com o asfalto. Eu também ralei a coxa e os quadris, mas não muito. Teria quebrado a cabeça no asfalto se eu não estivesse usando capacete. Eu acho. Sei lá.

     Aconteceu tudo isso por causa do acidente, e eu só consigo pensar na minha moto. Imagino como deve estar toda arranhada, com a pintura acabada e até mesmo com alguma peça faltando, porque pode ter caído na hora. Vai custar uma fortuna para arrumar tudo e deixar como antes, e eu tenho certeza que a prioridade dos meus pais vai ser pagar essa "pequena ida" ao hospital e a ambulância. Bendito governo capitalista!

     — Sam? — Christian me chama, e eu acordo pra vida.
     — Hum? — Murmuro, olhando para ele.
     — Você está bem? Tá tão quieta...
     — Só estou pensando.
   
     Christian deita a cabeça de lado, encostado nas grades de metal da cama, e abre um dos sorrisos mais fofos que já vi.

     — Pensando em que? — Pergunta
     — No acidente. — Admito, deitando a cabeça em sua direção. — E na minha moto.

     Lentamente, Christian forma uma risada baixa.

     — Só você pra sofrer um acidente e ficar pensando em como sua moto está. — Ele debocha, revirando os olhos castanhos esverdeados de forma brincalhona.
     — Você também não surtaria se tivesse com seu jipe ridículo em algum poste por aí? — Arqueio a sobrancelha, e até isso faz minha cabeça latejar.
     — Em primeiro lugar: meu jipe não é ridículo. — Christian diz, os olhos voltados inteiramente para mim. — Em segundo lugar: eu não bateria o jipe num poste, porque sou um motorista excelente. E em terceiro lugar: se por acaso eu batesse...e eu de jeito algum irei...meu jipe tem seguro. E eu também tenho seguro de vida.
     — Uuuuuh! Ele tem seguro de viiiida! — Debocho dele em tom fantasmagórico, gesticulando com as mãos à frente do rosto.

     Apesar de rir e brincar, eu invejo um pouquinho o Christian por ser rico e não ter que se preocupar com os custos de nada. Ele não teria que gastar pra caralho se o carro dele batesse, porque ele tem seguro, poderia até comprar outro se quisesse. Se ele quebrasse a perna mim acidente, o plano dele cobriria grande parte dos gastos com hospital e ambulância. Tecnicamente, ele não teria muito com o que se preocupar.

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