C A P Í T U L O 23

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CHRISTIAN ANDERSON

     Eu já amanheço o dia com a cara enfiada nos livros. Minha mãe me levanta bem cedo, quase jogando um balde de água fria em mim para eu sair da cama, e só me dá tempo de tomar um banho e café da manhã antes de sentar na escrivaninha pra estudar. No fim do dia, ela vai meio que "reaplicar" uma das provas em que fui mal até eu acertar todas as questões, e vai ser assim o recesso inteiro. Já tô até me vendo esvaziando uma cartela de remédio pra dor de cabeça sozinho.

     Agora estou quebrando a cabeça com química, uma matéria da qual tenho 0 conhecimento – não faço a menor ideia de como cheguei no 2° ano do ensino médio sem saber nem o que é elétron. Eu apoio a cabeça na mão, suspirando enquanto fico batendo o lápis na borda do caderno e relendo minhas anotações pela nonagésima vez, pra ver se eu consigo entender essa porra. De forma entediada, olho para a tela do laptop e desço a página que fala sobre a matéria. Pra mim tá escrito grego.

     Olho para minha porta aberta, mordendo o lábio inferior antes de abrir minha página de mensagens – meu único meio de notificação, já que meus pais tiraram meu celular, e eu só tô com o laptop pra "estudar". Entro na caixa de mensagens da Sam, e fico olhando as mensagens antigas, só pra distrair um pouco a mente. Sorrio de canto, quase rindo da quantidade de putaria que essa garota falava comigo só pra provocar, e não fazia nem metade. Quase convenci ela de me mandar nudes uma vez.

Vai doer mostrar o peito pro seu namorado?
S: Por que você quer tanto ver meu peitinho pequeno?
Pra eu dormir em paz, é claro.
S: Você só dorme em paz se tocar uma?
Vai me dizer que você não...?
S: Não tenho pau pra tocar punheta.
Mas tem boceta pra se tocar.
S: Da pra mudar de assuntoooo?
Hummm... você se masturba, né?
Pode falar, eu sei que você gosta...
S: Christian...
O que foi?
Vai mandar a foto do peitinho pequeno?
S: Nãããão!
S: Mas posso mandar uma foto do meu rosto.
Sorrindo, por favor.

     Clico na foto logo abaixo e sorrio para seu sorriso pequeno, fofo e gentil. Seu cabelo loiro acastanhado estava preso num coque, com fios caindo ao redor de seu rosto. Ela estava sentada na mesa de desenho, e eu consigo ver uma parte de seus rabiscos numa folha branca; acho que é um vaso de frutas, alguma coisa do tipo. Mas isso não importa, o que importa é seu sorriso bonito. Dormi pensando nesse sorriso aquela noite. Não foi um nude, mas foi ainda melhor do que a foto dos peitos bonitinhos dela, ou da bundona redondinha, ou daquele corpo magro e marcado por curvas...puta merda, que saudade.

     Ouço os saltos da minha mãe ecoando pelo corredor, cada vez mais alto enquanto ela se aproxima, e então fecho a página das mensagens e volto para a página de química. Quando ela entra no quarto, finjo que estou anotando alguma coisa no caderno.

     — Estudando? — Ela pergunta como se não acreditasse no que está vendo.
     — Hum? — Viro o rosto em sua direção, apoiando a mão embaixo do queixo depois de ajeitar os óculos no rosto. — Ah, tô. Eu não tenho escolha mesmo, não é?
     — Se continuar de gracinhas, vamos aumentar seu tempo de castigo.

     Minha mãe ergue uma sobrancelha, olha para meu material de estudo em cima da escrivaninha e depois sai do quarto. Ela vem me ver a cada 10 minutos – literalmente –; estou me sentindo um encarcerado. Suspiro e volto a olhar para meu caderno.

     Queria poder dizer que nunca mais vou ajudar Alyssa depois dessa merda em que me meti, só que eu sei que isso não é verdade. Odeio admitir isso, mas sou um bunda mole que ajuda absolutamente todo mundo, e às vezes eu nem sei porque faço isso – geralmente eu nem recebo nada em troca. Sei lá, não gosto de ver as pessoas tristes ou magoadas com alguma coisa ou pessoa, e nem eu sei explicar o motivo dessa idiotice toda. Acho que eu só tenho um coração fraco demais pra essas coisas.

All For Love ✓2Onde histórias criam vida. Descubra agora