C A P Í T U L O 167

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SAMANTHA PRICE

     Durante a última aula do dia, começo a sentir uma cólica dos infernos pontando meu útero. Parece que meus ovários estão putos por eu não ter gerado um bebê, e estão me punindo com facadas – "morra egoísta!"

     Saio da sala de artes toda torta, me arrastando pelo chão o mais rápido possível que minha condição permite. Olhando o lado bom da coisa, pelo menos já é hora da saída, e eu não vou precisar aguentar mais algumas horas a base de dor e tortura.

     Vou direto no armário pra trocar minhas coisas logo, pegar o que preciso pegar, porque realmente não dá pra aguentar de pé por muito tempo.
    
     Levo um susto quando Christian chega já me agarrando por trás, erguendo meus pés do chão. Eu ia dar um gritinho, mas isso é substituído por um gemido de dor e olhos marejando igualmente de dor, porque o idiota está apertando minha cólica com o braço.

     — Ei, ei...o que foi? — Christian pergunta com preocupação, me pondo de volta no chão imediatamente.
     — Eu tô com cólica. — Explico, os lábios trêmulos e a testa franzida numa careta dolorida. — Não me aperta mais assim.
     — Merda, desculpa linda!

     Com carinho – carinho demais –, Christian passa as mãos pelos meus ombros de cima abaixo, e me puxa pelas mãos antes de me dar um abraço delicado. Ele me toca como se eu estivesse rachando, prestes a quebrar em vários caquinhos. Gosto desse carinho delicado e cuidadoso dele, principalmente agora que estou com o humor sensível.

     — Tá doendo muito? — Christian pergunta enquanto afaga minhas costas com a mão.
     — Não Christian, imagina. — Me afasto dele, cruzando os braços. — Quase chorei de dor quando você me apertou, e não está doendo nem um pouquinho.
     — E precisa da ignorância? — Ele cruza os braços. — Foi só uma pergunta.
     — Uma pergunta estúpida.

     Me viro para terminar de abrir meu armário, fazer as coisas que eu ia fazer antes de Christian chegar quase me matando.
  
     — Nossa...tem alguém de Chico. — Ele me provoca, com um sorriso besta na cara, e recosta a lateral do corpo no armário ao lado do meu.
     — Nem começa com essas piadinhas, Christian, por favor. Eu não tô no clima pra isso.
     — Já tomou o remédio, pelo menos? — Christian abandona o tom brincalhão, ficando sério.

     Pego a cartela de ibuprofeno dentro do armário, balanço a mão para Christian ver, e depois engulo uma pílula a seco.

     — Quer uma carona até em casa? — Christian pergunta
     — Não precisa, eu tô de moto. — Eu o lembro

     Na verdade, eu adoraria uma carona até em casa, porque não estou com a menor condição de pilotar uma moto agora. Ter que fazer qualquer coisa enquanto sinto cólica é horrível. Queria poder só deitar em posição fetal na cama até adormecer, não fazer mais nada enquanto a dor não passasse ou ficasse menos intensa.
    
     — Tem certeza que não precisa? — Christian insiste, arqueando a sobrancelha. — Você não parece nada bem, linda.
     — É só um pouco de dor. — Até tento sorrir, mas não consigo. — Vou ficar bem.
     — Quero cuidar de você.

     O estalo do ferro ecoa por todo o corredor quando bato a porta do armário. Christian me abraça em seguida, seus braços grandes me envolvendo inteira, como se eu fosse menor do que realmente sou. Eu aproveito isso para me esconder nele, deitando a cabeça sobre o peito dele e escutando as batidas lentas de seu coração. Está tão quentinho entre seus braços. Até fecho os olhos.

     — Você tem treino. — Lembro a ele, minha voz baixa.
     — Eu posso faltar. — Sugere Christian. Os braços dele se movem quando ele provavelmente dá de ombros.
     — E isso não vai dar problema pra você?
     — Não. Nem estamos tendo mais jogos esse fim de semestre, faltar um treino não muda nada. Além de que não seria a primeira vez que falto a um treino; vou continuar sendo um menino disciplinado.

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