C A P Í T U L O 116

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SAMANTHA PRICE

     Olho da minha mãe para meu pai. Do meu pai para minha mãe. De novo. De novo. E de novo. Tentando simplesmente raciocinar as últimas palavras ditas no recinto, a pouquíssimo segundos atrás. Mas está difícil pra caralho.

     — O...o quê? — Gaguejo, toda confusa — Como assim?
     — Eu chamei ele, Sam. — Minha mãe repete, menos tensa do que quando disse da primeira vez. Deve ter aliviado um peso do peito, imagino. — Precisamos conversar, e não dá pra fazer isso se apenas continuarmos brigando o tempo inteiro.

     Ok, acho que agora deu pra dar uma leve entendida do assunto.

     Não sei nem o que pensar sobre isso. Obviamente, se minha mãe ligou para meu pai por vontade própria, se o chamou para dentro de sua própria casa, é porque ela está mesmo cansada de ver esse briga estúpida. Não que isso me deixe feliz, mas dá pra entender um pouco o ponto de vista dela. Mesmo que seja um ponto de vista burro.

     Não quero falar ou resolver as coisas com meu pai, quero que minha mãe consiga minha guarda unilateral e acabe com isso sem mais rodeios. Seria mais fácil se todo mundo conseguisse o que quer da vida sem dificuldades.

     — É, mas não devia ter chamado. — Acabo por dizer, franzindo o cenho numa expressão irritada enquanto olho para os dois. — Não dá pra chegar num senso comum com ele, mãe.
     — Samantha, eu estou aqui e posso ouvir tudo o que você diz. — Meu pai se pronuncia, dando um passo na minha direção. — Por favor, colabore. Vai ser mais fácil se você colaborar.
     — Por que eu tenho que colaborar com uma coisa que você quer?! E detalhe, uma coisa eu você quer, mesmo não dando a mínima para nada. Só me diz por que eu tenho que lidar com isso calada?
  
     Juro por Deus que estou tentando manter a maior calma que minha paciência permite. Dessa vez não estou irritada só com meu pai, mas com minha mãe também. Ela é minha responsável legal tanto quanto ele, mas isso não significa que eu não tenha o direito de opinar sobre o que eu quero fazer. Isso é injusto.

     — Somos seus pais, Samantha. — Diz meu pai — Nós devemos decidir o que é ou não é bom pra você. É assim que funciona, enquanto você for menor de idade. Embaixo do nosso teto, você obedece.
     — Opa, opa, opa! — Minha mãe se vira pro meu pai, e apoia uma mão na cintura. — Também não é assim, Howard. Minha filha tem a liberdade de expressão dela, e sempre procuro levar em consideração o que ela quer. — Ela olha pra mim com certo pesar nos olhos azuis. — Mas esse caso é mais delicado, e por isso...só por isso, Howard...eu decidi tomar minha própria decisão. Uma decisão temporária.
     — Tá vendo? Esse é o seu problema; dar liberdade demais pra garota. — Meu pai passa a mão nos cabelos encaracolados, bufando. — Quando você finalmente decide ser mais dura com ela, ainda não é o suficiente.
     — Ser dura com ela? Samantha é uma menina inteligente, sabe quando algo é errado ou não é! Eu eduquei minha filha muitíssimo bem, basta olhar as notas dela, sentar pra conversar com ela, passar pelo menos um dia inteiro com ela! Mas nem isso você sabe fazer, não é mesmo Howard?

     Nessa hora, Christian aparece pelo corredor também. E eu só sei disso, porque meus pais olham para atrás de mim e meu pai suspira impaciente. Olho para trás também, e vejo um Christian confuso, ajeitando a jaqueta por cima das mangas grossas do moletom.

     — Que merda tá acontecendo aqui? — Ele pergunta
     — Viu só? — Meu pai estica os braços em direção a Christian, enquanto olha para minha mãe. — Você tá vendo só? Isso é saber o que é errado ou não, Sally?
     — Ah, pelo amor de Deus, Howard! Vê se cresce! — Minha mãe revira os olhos. — Ela é adolescente! Tem mais é que namorar mesmo.
     — Dentro de casa?!
     — É, dentro de casa! No quarto dela, no banheiro, na sala, no sofá, na pia da cozinha! É intimidade dela, não sua!

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