C A P Í T U L O 18

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CHRISTIAN ANDERSON

     Paro meu jipe de frente para a casa da Tess, no meio fio, mas não desligo o motor enquanto a espero sair logo. Olho a hora no celular; ainda não são nem 20:00h, o que só comprova minha teoria de que a noite vai ser bem longa. Suspiro e encosto a cabeça no banco.

     — Tá esperando o quê? — Alyssa pergunta, o que até me assusta um pouco pelo tom de voz alto. Quase me esqueci que ela estava aqui do meu lado. — Vai lá pegar ela.
     — Nem fodendo. — Digo — Já vou levar ela no baile, e ainda quer que eu busque na porta? Não, a Tess tem perna e sabe andar sozinha.

     Alyssa revira os olhos, tentando disfarçar quando vira o rosto para a janela.

     — Por que levar ela ao baile a final? Você acabou de terminar um namoro com minha melhor amiga. — Ela murmura, parecendo meio chateada pela Sam. — E o motivo é a própria Tess.
     — Você sabe como a Thereza é insuportável, eu preciso mesmo explicar isso? — Ergo uma sobrancelha e olho para ela, que fica quieta enquanto parece pensar. — Foi o que eu pensei. Agora da pra passar pro banco de trás logo?
     — Por que?
     — Porque sou eu quem vai ouvir um monte de merda, se a Tess sentar lá trás.

     Cada vez que eu falo das manias narcisistas da Tess em voz alta, me sinto um babaca fazendo todas as vontades da garotinha mimada, só porque eu não tenho a menor paciência pra discutir com alguém como ela. Se eu fosse parar pra discutir com a Tess, provavelmente seria preso por agressão ou tentativa de homicídio, porque ela é chata pra caralho. Além disso, a Tess sempre tem uma carta na manga; uma fofoca aqui, uma chantagenzinha ali, um nude vazado lá – não que eu já tenha cometido a burrice de mandar alguma foto pra ela –, talvez até uma vilania daquelas que vemos apenas nos filmes. Não duvido muito que ela ainda escape de um homicídio como se nada tivesse acontecido, que nem aquela série adolescente espanhola que minha irmã é viciada.

     — Anda logo, Alyssa! — Dou tapinhas no banco, e ela resmunga irritada. — Se mexe!
     — Aí, calma, calma!

     Revirando os olhos, Alyssa tira o sinto de segurança e se move para ir pro banco de trás. Mas ao invés de sair do carro, e entrar pela porta como uma pessoa normal, a tapada empina a bunda pro retrovisor e passa por entre os bancos da frente, que já é um espaço aperto.

     — Tira esse vestido do meu rosto! — Faço uma careta, empurrando o tecido amarelo com as mãos.
     — É você quem está fazendo as vontades da mimadinha patricinha, agora aguenta.

     Empurro minha irmã pelo joelho, e ela cai no banco de trás, toda torta. Olho pelo espelho e dou risada.

     — Tá rindo do quê, palhaço? — Ela resmunga toda irritadissa, enquanto de ajeita no banco. — Amassou meu vestido todo...
     — Foi você quem resolveu passar por aí, ao invés de sair do carro como uma pessoa civilizada.
     — Vai se foder, Christian.
     — Queria, mas sua amiga tá irritada comigo.

     Alyssa se inclina no banco, apenas para me tapear na nuca. Eu faço uma careta e esfrego com a mão o local do tapa; ela é bem forte, o rostinho "fofo" é que engana muita gente.

     — E se você quer tanto assim transar, por que não "aproveita" a noite com a Tess? — Ela diz, usando os dedos para desenhar aspas enquanto revira os olhos. — Se você gosta tanto de transar com ela ao ponto de fazer isso enquanto tá namorando com a Sam, então deveria continuar transando logo.

     Fecho os olhos e os cubro com uma mão, bufando discretamente. Eu não quero transar com a Tess de novo – nunca mais, se possível. Nem sei porquê transei com ela aquela noite, e o fato de eu não me lembrar dos fatos só piora tudo ainda mais, principalmente porque absolutamente todo mundo fica me perseguindo com essa "lembrança" que não é nem lembrada de verdade. É como se eu tivesse certeza de algo, mas ainda sim não houvesse imagens pra provar que de fato aconteceu.

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