C A P Í T U L O 70

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SAMANTHA PRICE

     Na segunda-feira de manhã, me levanto da cama quase que arrastada por uma força invisível chamada "despertador". Não estou no pique pra ir para a escola. Na verdade, eu nunca tô no pique, mas hoje estou pior ainda. O maior dos motivos é o Alec.

     Mandei algumas mensagens pra ele nesse fim de semana, mas ele não me respondeu. Não me arrependo 100% de ter sido uma vaca sem motivos com ele, me arrependo uns 50%, por que no fundo me sinto meio aliviada por ter tirado esse peso do peito. Mas ele ainda está magoado, e eu quero ser madura e pedir desculpas, mesmo que meu orgulho esteja me matando por dentro.

     Argh, odeio pedir desculpas.

     Depois do banho, volto pro quarto para me vestir. Visto uma camiseta cinza de mangas longas, o tecido fininho que se estica e cola perfeitamente no meu corpinho magrinho. Fecho os botões da saia azul-marinho, e então calço as meias três quartos da mesma cor da camiseta, só que um pouquinho mais escuro. Depois de calçar as botas pretas, arrumo o cabelo num coque e então pego minha mochila, descendo para ir tomar café da manhã.

     Meu pai está sentado a mesa da cozinha, bebendo café enquanto lê o jornal, comentando as notícias em voz alta com Sofia, que está comendo panquecas de chocolate.

     — Bom dia. — Digo ao me sentar também.
     — Bom dia, querida. — Meu pai sorri pra mim por cima do jornal. — Dormiu bem?
     — É...um pouco. — Dou de ombros
     — Preparei sua vitamina de kiwi e iogurte natural. — Sorrindo gentilmente, Sofia aponta para o liquidificador em cima do balcão.
     — Obrigada.

     Termino de passar a geleia de morango caseira nas torradas integrais, e então me levanto para pegar minha vitamina. Estou me acostumando com minhas refeições saudáveis, apesar de sentir falta de fazer um sanduíche de panqueca com banco e linguiça no café da manhã, e de me empanturrar de macarrão no almoço, de lanchar Doritos e depois sorvete de flocos durante a tarde, finalizando com hambúrguer de janta. Não estou me arriscando assim mais, porque, desde que me levanto de manhã, tenho medo de passar pelo mesmo pesadelo do ataque cardíaco.

     Meu peito às vezes ainda dói um pouco, e eu sinto um pouco de falta de ar quando faço muito esforço. Não é sempre que isso acontece, mas eu ainda tenho DAC; estranharia se eu não sentisse dor no peito. Pelo menos o stent facilita as coisas no meu dia a dia.

     Me sento de volta a mesa para comer, ignorando o olhar que meu pai me lança. Até ontem ele estava bravo comigo por eu ter chegado tarde da festa do Nate, mesmo eu nem estando aqui durante o fim de semana – tive que voltar ainda ontem a noite, o que foi um porre de chato. Agora quem está puta sou eu, porque estou de "castigo" sem moto, e só ele vai poder me levar e buscar da escola, como se ele tivesse tempo pra me buscar. Nem minha mãe ficou puta por eu não ter avisado com antecedência sobre a festa. Quer dizer, ela até me deu uma bronca por isso, e por eu ter bebido, mas não me botou de castigo.

     Foi só uma festa, não sei porque tanto furdunço.

     Termino de comer meu café da manhã rapidamente, e, assim que me levanto para pôr a louça suja na pia, meu pai fecha o jornal e se levanta também.

     — Pronta? — Ele pergunta, enquanto ajeita a gravata.
     — Uhum.

     Entediada, eu saio andando na frente, e depois fico esperando ao lado do carro preto estacionado de frente para a garagem. Meu pai vem logo depois, carregando sua maleta de contador em uma mão, e segurando a chave do carro com a outra. Ele aperta um botãozinho que faz o carro brilhar e apitar, e eu imediatamente entro no banco do passageiro, o couro gelado contra a pele das minhas pernas.

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