C A P Í T U L O 51

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CHRISTIAN ANDERSON

     Passei a semana inteira com a ideia na cabeça. Eu não conseguia dormir sem pensar na possibilidade de ter sido drogado, também não conseguia parar de comer doces toda hora, nem parar quieto por mais de 10 minutos – sentar nas salas de aula significava ficar batendo o pé no chão igual a um coelho. Qual é, eu tenho ansiedade, e esse tipo de coisa acaba com um cara como eu. Me tentei a tomar meus remédios várias vezes, mas não o fiz, até porque tenho um jogo importante essa sexta.

     O jogo final da estadual. O jogo da qual posso voltar para casa com ou sem troféu. Na melhor das hipóteses, é melhor com. É a primeira vez que vou para a final, já que no ano retrasado – meu primeiro ano no time –, nós fomos desclassificados ainda nas regionais. Foi meio vergonhoso, mas isso era porque eu ainda não era o quarterback ou o capitão. Agora não vai ser meio vergonhoso se a gente perder, vai ser pior.

     Ok, isso não tá ajudando.

     Eu passo a mão no espelho embaçado pelo vapor do banheiro, e encaro meu reflexo com o rosto meio cinza, por causa dos machucados. Vai dar tudo certo, penso, é um jogo como todos os outros. Respiro bem fundo e puxo o cabelo molhado da testa, para depois voltar a escovar os dentes.

     Não dormi quase nada essa noite, porque fiquei pensando na Tess, na merda da única lembrança inútil que eu tenho daquela noite, no jogo e na minha irmã que ainda não está falando comigo ou com a Sam. Eu praticamente não conseguia me desligar, tudo me fazia ficar acordado. Tenho certeza que não vou durar muito no campo hoje.

     Termino de escovar os dentes e saio do banheiro, indo direto para meu quarto me trocar. Visto uma regata branca por debaixo da minha camiseta número do time, sem ombreiras e nem nada; só a camiseta número um. A reserva, porque a outra é para o jogo. Passo a mão no número um desenhado no meu abdômen, sentindo o tecido de couro falso meio gasto.

     As pessoas me olham andando pelo corredor nos dias de jogos importantes, usando essa camiseta, usando esse número, e provavelmente devem pensar que estou me sentindo o maioral. O sorriso e as risadas ajudam. Mas na real? Eu tô fodido de medo. Não é legal quando colocam todas as expectativas em cima de você, esperando que você salve a pátria ou que porra eles querem de mim.

     Eu só queria ser normal. Não queria ser o garoto popular, quarterback, capitão do time, o número um e conhecido por pegar garotas demais. Isso é desgastante.

     Suspiro e desvio meu olhar do espelho no closet, pegando a calça jeans larga e rasgada para vesti-la. Minha mãe diz que eu fico parecendo um "rapper de rua" com essa "porcaria" de calça, e por isso sei que ela é legal.

     Depois que termino de me vestir, pego minhas coisas da escola e desço até a cozinha. Alyssa está sentada na ilha, comendo cereal com leite em uma tigela. Tento sorrir, mas ela abaixa a cabeça e continua comendo. Suspiro.

     — Ainda tá me ignorando? — Pergunto

     Obviamente, Alyssa não me responde e finje que não existo.

     — Ok...me lembre quando eu não poder foder, porque meu orgasmo ofende sua paixonite ridícula. — Reviro os olhos e pego algumas coisas que preciso para minha vitamina. Hoje ela precisa estar reforçada, principalmente porque não dormi direito a noite, então jogo um pouquinho de energético no liquidificador.
     — Não é uma paixonite ridícula... — Alyssa murmura, e então se levanta para deixar a tigela na pia.
     — Ah, agora ela fala... — Sorrio com deboche — E sim, é ridícula, sim.
     — Vai se foder.

     Alyssa sai da cozinha rapidamente, com a mochila nas costas, e bate a porta ao sair de casa. Ela também não tem pego "carona" comigo para a escola, acho que vai andando ou de ônibus...sei lá, porra. Amo minha irmã, e amo tê-la por perto, mas ultimamente isso tem me trazido mais problemas do que já tenho.

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