C A P Í T U L O 21

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SAMANTHA PRICE

     Na segunda-feira, minha mãe me acorda bem cedo porque precisamos ir no hospital para eu tirar – finalmente – os pontos da perna. Eu praticamente me levanto arrastando da cama pra ir tomar banho, resmungando e quase dormindo em pé. Eu fui dormir era umas 4 e pouca da manhã, porque não estava conseguindo pegar no sono de qualquer jeito, fiquei desenhando um monte de coisa aleatória no meu bloquinho. Agora deve ser umas 6:30h, por aí.

     Estico os braços e bocejo quando entro no banheiro, me esticando toda pra espantar a preguiça. Minha mãe diz que eu tenho alma de gato – só dorme, come, vai no banheiro e repete tudo de novo. Eu não dúvido muito que eu tenha sido uma espécie de Garfield na vida passada. Entro embaixo do chuveiro, lavando todo meu corpo embaixo da água quente, exceto pelo  cabelo, porque segundo os gritos da minha mãe, está nevando lá fora. Minha mãe tem mania de exagerar às vezes, então prefiro checar com meus próprios olhos quando eu sair do banho.

     Aproveito para raspar as pernas, que já estavam começando a ficar estranhamente peludas demais – eu sempre tive muitos pelos, desde pequeninha, é um inferno. Eu literalmente raspo tudo no banho, porque não suporto pelo na minha buce...

     — Samantha! — Minha mãe grita do corredor e eu me distraio, cortando sem querer meu joelho. Faço uma careta. — Anda logo, a gente vai se atrasar!

     Bufo e lavo meu mais novo machucado no joelho, pra depois sair do banho. Enrolada na toalha, volto para o quarto tremendo de frio, porque o aquecedor mal funciona aqui dentro. É capaz do corredor do nosso andar estar mais quentinho, do que aqui dentro. Enfim, eu me inclino pra ver a rua lá fora, e sorrio ao ver que realmente caiu uma nevasca daquelas durante a noite. Não tem nem três dias de inverno ainda, e a neve já nos pegou de surpresa.

      Paro de admirar o branco que brilha lá fora, e vou catar minhas roupas de inverno no armário, onde guardei todas as roupas que trouxe dente da mala. De frente para o espelho – como sempre –, eu me visto com roupas quentinhas de inverno – meia calça por baixo da calça jeans clara, uma regata por baixo de um moletom de lã cor-de-creme, que está por baixo da jaqueta de camurça com capuz peludinho e fofinho, mais uma camada de meias grossas e um par de botas de inverno. Com frio? Nunca. Feia? Nunca também.

     É a primeira vez que me sinto bonita de verdade desde que sai do hospital com o coração partido. Toda vez que eu me olhava no espelho, via uma menina de rosto inchado de tanto chorar, catarro no nariz, moletom manchado de comida e descabelada. Eu não queria levantar da cama pra nada – e minha mãe nem deixava. Ela tentava sentar e conversar comigo, e até me fazia rir, mas depois eu voltava ao meus estado depressivo de ter sido trocada na cara dura. Meu pai também veio me ver algumas vezes, mas na maior parte do tempo ele ligava, provavelmente porque ele e minha mãe no mesmo lugar não batia muito bem.

     Agora, me olhando no espelho, vejo uma menina que ainda está de coração partido, mas que aos poucos consegue ir se adaptando ao fato de que ele não está mais com ela. Sinto falta dele.

     Suspiro e passo a mão no cabelo, tentando desembolar os fios todos bagunçados pra eu não ter que esconder embaixo da toca. O fato da sociedade ainda não ter aceitado uma garota toda acabada porque tá sofrendo por amor é algo que eu nunca vou entender – deixa a gente sair só de moletom e olheira na roupa, cacete.

     Quando ajeito na cabeça a touca que tem uma bola peluda imensa no topo, deixando meus cabelos loiros caírem ao redor do meu rosto, minha mãe entra no quarto.

     — Você ainda não terminou aí, Sam? — Suspirando, ela vem até mim e fica na minha frente, bloqueando minha visão do espelho já que somos da mesma altura. — Você tá bem? Sei que acabou de acordar, mas tá muito quieta.

All For Love ✓2Onde histórias criam vida. Descubra agora