C A P Í T U L O 17

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CHRISTIAN ANDERSON

     Eu deveria... deveria te odiar.

     As palavras da Sam ainda estão girando pela minha cabeça quando saio do elevador. E o pior de tudo isso, é entender que ela está certa. É entender que eu não mereço ser amado por ela, porque eu só faço merda o tempo inteiro. Mas ainda sim, dói saber que a Sam deseja me odiar pelo o que eu fiz.

     Eu praticamente corro para atravessar a portaria, e sair logo desse prédio, antes que eu entre no elevador volte lá pra cima. Só Deus sabe a força desumana que eu fiz para conseguir descer quando a Samantha me pediu, mas ver ela tão triste e abalada...aquilo acabou comigo. Me fez perceber que eu também acabei com ela, porque nunca a tinha visto tão magoada na vida, com lágrimas pesadas em todo seu rosto bonito e soluços cortando sua voz. Não gosto de ver ela assim.

     O vento frio e gelado corta meu rosto feito vidro, quando saio do prédio e caminho rapidamente em direção ao meu jipe estacionado no meio fio. Enfio as mãos dentro dos bolsos da jaqueta, sentindo um frio do porra congelar meu corpo, mesmo eu estando todo coberto. Amanhã é o primeiro dia de inverno, mas já tá frio pra caralho faz duas semanas.

     Assim que entro no jipe, os primeiros pingos de chuva da noite começam a cair no teto, nas janelas e no para-brisa. Eu ligo o aquecedor no máximo ao bater a porta, me encostando no banco enquanto espero me aquecer um pouco antes de dar partida para ir embora logo. Fico olhando para a rua vazia lá fora, observando o vento furioso balançar as árvores praticamente sem folhas alguma nos galhos. Parando agora, me vejo sendo coberto por um silêncio alucinante. Não ouço um barulho se quer ao meu redor, nem mesmo o uivo do vento, ou um carro subindo a rua na esquina; isso me faz sentir um pouco sozinho.

     Nunca me senti tão vazio e solitário antes, como se eu tivesse sido abandonado por todo mundo que conheço, ou pelo menos por todo mundo por quem me importo. Eu sei que ainda tenho amigos, o Nate principalmente, mas sei lá... nada parece ser a mesma coisa de antes do meu namoro com a Sam. As coisas foram mudando, e eu nem percebi. Eu mudei sem perceber. 

     Suspiro e fecho os olhos, tentando aproveitar esse silêncio para esvaziar a cabeça. Mas meus pensamentos são insistentes em circularem sem parar, um atrás do outro, como um veleiro descendo um rio marcado por pedras grandes e pontudas. Isso se chama ansiedade, e é um nível bem leve, se for comparar às pessoas que tem crises de asma durante uma crise de ansiedade. O que acontece comigo, é que eu simplesmente não consigo parar de pensar – pensar no que vai e no que pode acontecer no futuro, no que provavelmente não vai acontecer e mesmo assim eu continuo ansioso por isso, no que aconteceu e agora está trazendo consequências. Não consigo evitar; essa pressão toda de ter que acertar as coisas com a garota que eu amo, a Thereza transformando minha vida num inferno, minha irmã me ignorando, meus pais no meu pé por causa de porcaria de futebol e notas da escola. É coisa demais para um só adolescente de 16 anos.

     Eu só quero poder parar por um segundo, respirar fundo e me sentir livre de qualquer peso emocional, não precisa nem ser pra sempre, só algumas horas, ou até minutos, já é o suficiente. Preciso de uma distração, de qualquer coisa que me faça esquecer um pouco...

      ...e quando a Sam me beijou lá em cima, cacete, eu esqueci até qual era a porra do meu nome. Posso dizer que ela me pegou de surpresa, porque eu fiquei surpreso, até me dar conta que era uma pequena parte dela dizendo para si mesma: você tem um minuto para amolecer por ele, aproveite. E se a Sam não aproveitou, eu aproveitei e coloquei pra fora toda saudade que eu estou sentindo. Quer dizer, mais ou menos, porque um só beijo não é o suficiente para me fazer sentir menos falta dela.

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