C A P Í T U L O 61

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SAMANTHA PRICE

     Durante o resto da semana, Christian parece voltar a me "ignorar". Quer dizer, às vezes ele sorri para mim no corredor, ou acena com a cabeça, ou as duas coisas. Mas nunca fala comigo. Eu sei que é muito trouxa eu ficar esperando que ele fale comigo, até porque nós não temos mais nada um com o outro, mas estou acostumada com isso. Acho que só é estranho voltar para a mesma rotina de antes.

     E hoje é aniversário dele e da Alyssa, e eu não faço ideia de como falar com eles para desejar feliz aniversário. E pra piorar mais ainda: é Dia dos Namorados, e tem a festa do Nate mais tarde, uma festa que não sei nem dizer se vou ou não, e se eu for ainda vou ter que pedir permissão para meus pais de última hora. Parece que tem de tudo para acontecer hoje.

     Fico enjoada assim que entro pelas portas duplas da escola. Os corredores estão decorados com fitas vermelhas e cor-de-rosa, com coraçõezinhos de papel ou em bexigas penduradas nas extremidades. No chão, vários pedacinhos pequeninhos de coraçõezinhos cor-de-rosa, servindo para nada mais do que poluir a porra do meio ambiente. Também há corações colados em todos os armários, e cartazes "românticos" espalhados por todos os lados. Parece que um unicórnio vomitou aqui dentro.

     Olho ao redor enquanto caminho até meu armário. Casais trocam presentes e carinho a cada esquina de corredor. Eles sorriem, dão risadas, sem beijam e se abraçam. Eu sei que não passa de faixada por um dia; a maioria aqui trai, mente e não ama de verdade. Todo mundo sabe disso, mas eles preferem fingir que não.

     Nunca comemorei o Dia dos Namorados, mas Alyssa e eu sempre trocavamos chocolate e um bilhetinho nada romântico, por exemplo: te amo, vaca. Esse ano vai ser eu e a Netflix, a Netflix e eu, e isso se eu não for na festa.

     Reviro os olhos para o coração enorme que colaram no meu armário, e o arranco antes de abrir a porta velha. Quase não percebo, mas um papelzinho de caderno cai de dentro dele, pousando sobre meus tênis. Franzindo a testa, me agacho para pegá-lo. Por favor, que não seja um bilhetinho romântico, penso quando começo a ler.

     Um coração humano funciona a 72 batidas por minuto – 104 mil por dia, 38 milhões por ano, e em média de 2,5 bilhões ao longo do uma vida. Por isso, quando eu digo que te amo por 2,5 bilhões de batimentos cardíacos, também digo que vou te amar completamente pela vida inteira.

     Meu primeiro pensamento é: misericórdia, que negócio mais brega. Mas então eu paro, e percebo que meu coração está disparado. Não é possível que eu tenha gostado de um negócio desses, tipo, é meloso e...argh. Mas ainda sim, isso faz as borboletinhas no meu estômago se revirarem, fazendo a própria festa delas. E essa letra...eu conheço essa letra.

     — Oi, Sam! — Levo um susto quando Alec vem na minha direção, sorrindo, e quase deixo o bilhetinho cair no chão.
     — O-oi, Alec. — Gaguejo, e depois sorrio de volta para ele. — Er... você colocou alguma coisa no meu armário hoje de manhã, ou ontem depois da aula?

     Ele fica confuso e franze a testa.

     — Não que eu saiba...por que?
     — Por nada não. — Balanço a cabeça, amassando o papelzinho para guardar no bolso da minha mochila; não quero que ele me veja dobrando, pra depois me perguntar o que é.
    
     Quando olho para Alec outra vez, ele está meio vermelhinho, quase verde, e parece estar bem nervoso também. Dou uma risadinha, virando-me para mexer nas minhas coisas do armário. Apesar de estar tentando agir normalmente, as palavras do bilhetinho não saem da minha cabeça..."vou te amar completamente pela vida inteira"...

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