C A P Í T U L O 78

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SAMANTHA PRICE

     Eu acordo de manhã com o som do meu despertador. Suspirando super sonolenta, eu me reviro para desligar o som irritante, brevemente me esquecendo de que não estou na minha cama na casa do meu pai – com grades –, e por isso rolo para o chão. Bato de bochecha, ombros e joelhos, doendo tudo no mesmo instante.

     — Aí... — Resmungo, a voz rouca de sono.

     Quando abro os olhos outra vez, estico o braço e deslizo o dedo na tela do celular para desligar o bendito alarme. Fico alguns segundos deitada no chão do mesmo jeito, avaliando se realmente ir para a escola hoje é importante – ainda é terça-feira, mas já parece ser sexta, depois de uma longa e estressante semana. Mas, enquanto eu divago em pensamentos, me lembro de Christian. Eu preciso ir pra escola hoje.

     Apoio as mãos no chão e me levanto rapidamente, me mexendo para ir tomar banho. Me permito demorar mais do que o normal, ensaboando meu corpo com o sabonete mais perfumado que minha mãe tem umas três vezes, além de me demorar enquanto me depilo em tudo quanto é lugar necessário para depilar. Devo levar quase uma hora no banho, quando minha mãe começa a bater na porta.

     — Sam! — Ela grita — Você vai se atrasar, anda logo! E eu quero fazer xixi!
     — Eu já vou, mãe!

     Termino de enxaguar bem os cabelos, e então fecho a água do chuveiro – que já estava começando a esfriar. Depois de me secar, volto para o quarto, onde também levo uma eternidade para me aprontar, e isso porque nem demoro tanto pra escolher uma roupa. Visto uma saia – como sempre – até mais ou menos um pouco acima dos joelhos, com estampa xadrez verde e branco. Tá frio, então coloco uma camiseta branca, e por cima um moletom de mesma cor, com gola alta. Depois de calçar as botas pretas e arrumar o cabelo, eu pego minha mochila e corro para tomar café.

     Eu olhei a hora no celular, e, realmente, estou atrasada pra caralho.

     Encho um copo com suco de laranja, e vou tomando enquanto preparo uma tigela com iogurte grego e um monte de frutas cortadas, que minha mãe já havia deixado preparado para mim. Ela aparece na cozinha olhando a hora no relógio de pulso, a bolsa no ombro e o uniforme de enfermeira.

     — Sam, eu não posso me atrasar também. — Ela diz
  
     Viro o suco de uma vez só, e então pego a tigela, enfiando uma colherada na boca a caminho da porta. Foda-se, eu posso comer durante o caminho.

     — Você vai ir comendo? — Ela pergunta, olhando para mim enquanto fecha a porta.
     — Você quer que eu vá passando fome? — Respondo com a boca cheia de granola e iogurte, passando a língua nos lábios para limpa-los.
     — Não...mas...ah, esquece. Vamos, ou nossa carona vai deixar a gente aqui.
     — Carona?

     Franzo a testa, seguindo minha mãe pelo corredor até o elevador. Ela não me responde, apenas sorri e dá de ombros.

     — O quê aconteceu com o seu carro?
     — O motor deu bum de novo. — Minha mãe suspira — Tá na oficina, mas não sei se vou pegar ele tão cedo assim.
     — Por que? — Lambo a colher para tirar excesso de iogurte.

     Minha mãe olha pra mim, e eu não gosto nem um pouco da expressão preocupada em seu rosto, não importa se ela está sorrindo ou não. Aposto que é problema com o dinheiro pra consertar o motor. Viu só? É exatamente por isso que eu tenho absolutamente todo o direito de querer odiar meu pai. Ele magoou minha mãe e ainda deixou ela sem nada, até porque ela não teve direito a nenhum dinheiro no divórcio, a não a ser da pensão alimentícia pra mim. Não acho nada justo meu pai ter tudo, e minha mãe não ter nada – nem comigo ela pôde ficar.

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