C A P Í T U L O 102

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SAMANTHA PRICE

     A mesa posta na sala de jantar está impecável. Como quase tudo dentro da cabana, a longa mesa e as cadeiras estofadas com almofadas brancas são feitas de madeira nobre polida. A mesa é coberta por uma toalha grande e chique, que, só pelos detalhes dourados, parece ser o olho da cara. No centro, há três candelabros de mesa decorando, todos com três braços, servindo também para "dividir" a mesa em "dois". A louça de porcelana e os talheres de prata são chiques, e eu os reconheço das prateleiras na outra casa deles.

     Eu me sento com Christian de um lado, e meus pais do outro. Donna senta na cadeira do meio, na horizontal, assim como Hank, um de frente para o outro. O restante senta espalhado pelas cadeiras, exceto vovô e vovó – tomei a liberdade de lhes chamar assim, mesmo que para mim mesma –, que estão sentados um do lado do outro e de mãos dadas.

     — Humm...o cheirinho é bom. — Sussurro para Christian, abrindo um sorriso faminto.
     — Eu sei que é. — Ele sorri convencido, dando uma ajeitada no paletó para dar ênfase. — Foi feito pelo melhor chefe de cozinha da região.
     — Aaaah...e cadê ele?

     De brincadeira, olho ao redor como se estivesse procurando o tal chefe de cozinha. Me seguro para não rir em voz alta quando vejo a expressão séria no rosto de Christian, porque sei que Donna está de olho em nós, mesmo que de forma sútil.

     — Engraçadinha... — Christian sussurra, e eu encosto a cabeça em seu ombro para rir baixinho.
  
     Os empregados contratados para a noite entram na sala de jantar, todos carregando travessas e bandejas com comida, mas ainda não consigo ver o que é, porque está tudo tampado. Só o cheirinho de alho e frango já me deixam com água na boca, imagina o sabor.

     — O jantar de hoje, vai ser... diferente. — Donna anuncia com um sorriso no rosto, voltando a chamar a atenção das pessoas à mesa. — Tem como tema a culinária diversificada do Brasil. Eu, particularmente, nunca cheguei a experimentar de fato algum prato brasileiro, mas tenho certeza de que deve ser uma delícia.

     Antes de pedir para que os empregados abram as travessas e bandejas, Donna lança um olhar acusador para Christian, que sorri de canto e afirma com a cabeça.

     Olho para minha mãe ao meu lado. Os olhos dela chegam a brilhar quando vê a comida, e  sorriso discreto surge em seus lábios. Quando ela olha para mim, toda animadinha, eu sorrio também e aperto sua mão por cima do braço da cadeira.

     — Não acredito que você fez mesmo isso. — Digo à Christian, bem baixinho.
     — Você disse que gostava, e eu quis agradar você. — Ele encosta a cabeça para trás, seus olhos passando por cada cantinho do meu rosto. — Não gostou?
     — O quê? É claro que eu gostei!

     Preciso controlar a empolgação na minha voz para que não saia fina demais. Eu até suspeitei um pouco do que Christian estava tramando, mas não cheguei a cogitar realmente a ideia, até porque é um tanto difícil copiar receitas brasileiras quando não se está no Brasil. Minha mãe diz que nunca fica igual, mas acho que eu também nunca vou provar pra poder comparar.

    — Sei que todo o jantar é para seus avós, mas obrigada, amor... — Seguro a mão de Christian embaixo da mesa, e ele entrelaça os dedos nos meus.

     Quero beija-lo também, mas estamos na frente de um monte de gente – e do meu pai e da Donna –, então deixa isso pra uma outra hora, quando estivermos sozinhos depois do jantar, talvez.

      O prato principal parece ser frango com quiabo a mineira, porque está dentro da maior panela – que é de barro, por sinal. Faço um prato para mim com frango com quiabo, polenta – uma espécie de creme de milho, de fubá, sei lá, nunca entendi –, algumas cenouras – porque minha mãe me obrigou –, e dois pãezinhos. Pra mim, isso é muita coisa, mas estou com bastante fome, então com certeza não vou me importar de comer muito.

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