C A P Í T U L O 42

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SAMANTHA PRICE

     Vai ficar tudo bem. Vai dar tudo certo. Não vai ser estranho. Ninguém deve nem se lembrar. E eu vou conseguir encarar o Chris. E o Alec. Os dois. Vai ser tudo como sempre foi antes de toda essa merda. Vai ficar tudo bem.

     Fico repetindo todas essas palavras pra mim mesma enquanto termino de me arrumar para a escola. Minhas mãos estão meio trêmulas ao segurarem meus cabelos e o pente, porque estou ansiosa para meu primeiro dia de aula desde o ataque cardíaco. As chances de todos estarem falando de mim, são as mesmas de não estarem falando. Pode ser que nem todos tenham se importado o suficiente com a garota do "coração de granada". De qualquer jeito, isso não me deixou dormir direito durante noite.

     Termino de ajeitar meu cabelo num coque, e suspiro, encarando meu reflexo no espelho. Ainda está frio lá fora, mas como já não neva mais tem uns três ou quatro dias, por aí, eu ponho algo menos exagerado – um vestido-jardineira vermelho-cornalina, com uma estampa bem discreta de várias florzinhas cor-de-rosa-pêssego, por baixo uma camiseta branca de mangas compridas e por cima um casaco marrom-palha, bem quentinho, além de meias brancas com altura até os joelhos. Não sei se esse look é bom o suficiente para minha "volta" a escola, mas eu também nunca precisei me preocupar com isso, porque sempre fui invisível e as pessoas sabem que prefiro assim, então acho que ainda não preciso me preocupar.

     Calço meu All Star da mesma cor do vestido-jardineira antes de sair do quarto, carregando a mochila no ombro. Minha mãe já está lá me esperando na sala para me levar pra escola, porque não vou pilotar a moto nas estradas molhadas do jeito que estão – sou muito supersticiosa com isso.

     — Você vai assim pra escola? — Ela gesticula as mãos na minha direção, de cima abaixo. — Minha filha, tá muito frio.
     — Pra mim está ótimo assim. — Olho para baixo, como se pudesse ver todo o meu look. — Vou passar a maior parte do tempo dentro da escola mesmo. — Com todos aqueles alunos e seus olhares de curiosos...
     — Pode não estar mais nevando como antes, mas ainda está congelando. Toma, põem esse cachecol e essas luvas,

     Eu reviro os olhos, sorrindo quando ela me entrega o cachecol vermelho-vinho e as luvas brancas. Visto tudo rapidinho.

     — Ah, eu falei com o Charles ontem e eu disse pra ele que você ia ajudar a Beth com o primeiro dia de aula dela. — Minha mãe sorri de forma marota, enrolando o dedo gentilmente numa mecha solta do meu cabelo.

     Já eu, sorrio com maldade.

     — Hummm...andou conversando com o Dr. Gostosão?
     — Samantha. — Minha mãe arregala os olhos, e noto seu rosto corado antes de se virar para pegar a chave do carro. — Não pode falar assim de um homem mais velho, e que você mal conhece; é falta de respeito.

     É, eu sei, mas tenho certeza que ela pensa o mesmo sobre o Charles – me acostumei a chamar ele assim.

     — Você está mudando de assuntooo. — Cantarolo e ergo uma sobrancelha.
     — Tudo bem, ai, nossa... — Rindo, minha mãe vai saindo do apartamento e eu a sigo, parando junto quando a mesma está trancando a porta. — Ele me ligou ontem a noite, pra me perguntar sobre isso e a gente conversou um pouquinho mais, ok?

     Como eu passei quase a noite inteira acordada, e não ouvi ou se quer vi isso?

     — Uuuuuh! — Provoco. Minha mãe revira os olhos, mas sorri de canto. — Vocês trocaram números de telefone...quando foi? Antes de você chamar ele pra passar a véspera de ano-novo com a gente?
     — O quê? Samantha, já falamos sobre isso, ok? Não chamei ele, a gente só se esbarrou lá e achamos legal dividirmos a mesa. Charles é novo na cidade, só estou tentando fazer com que se sinta bem-vindo.

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