C A P Í T U L O 149

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CHRISTIAN ANDERSON

     Antes de entrar em casa para entregar as compras da minha vó, eu paro pra pegar as cartas na caixa de correio. O carteiro deve ter passado ainda pouco, porque a bandeira vermelho não estava levantada quando eu saí.

     Pego todas as cartas – são muitas, minha nossa –, e então continuo o caminho até a porta da frente. Assim que entro na sala, Malfoy vem descendo a escadas para me receber. Ele da um miado, e esfrega a cabeça na minha perna.

     — E aí, cara? — Murmuro para ele, me agachando para lhe fazer carinho na cabeça. — Tá sumido, hein...

     Malfoy ronrona, miando como se estivesse me respondendo. Sorrio, e volto a me levantar.

     Quando vou deixar as cartas alheias dentro de um jarro marrom, reparo num panfleto que me chama atenção pela foto de dois idosos sorridentes na frente. Largo as cartas e pego o panfleto, já franzindo o cenho para o nome destacado na frente. 

     Centro de Tratamento Psiquiátrico – Lar de Idosos.

     — O quê...? — Murmuro para mim mesmo, ainda sem entender. Quer dizer, sem querer entender o que isso significa.

     Abro o panfleto, e passo os olhos rapidamente pelos títulos e pelas tentativas fajutas de fazer esse "lar de idosos" parecer "agradável". Sério, que porra é essa?!

     Penso logo no meu avô. Porra, eles vão mandar ele para um asilo?! Não, caralho, não! Meu avô não suporta asilos, e ele nem está em plena faculdade mental para escolher se quer ou não ir. É covardia querer mandar ele pra lá só para não ter que lidar com a palavra com A. E eu sei exatamente de quem foi a ideia de merda.

     Largo as sacolas no chão, amassando com força o panfleto na mão ao mesmo tempo em que subo as escadas correndo, pulando de dois em dois degraus. No corre mesmo eu consigo ouvir vozes vindo do escritório do meu avô. As vozes estão discutindo.

     Me aproximo lentamente da porta para ouvir melhor. Meu plano era entrar já gritando e dizendo que meu avô vai ficar aqui na casa dele, junto com a esposa dele e ponto. Mas quero saber o que está acontecendo antes.

     — Sua ideia é estúpida e idiota! — Meu tio Newt grita de um jeito que nunca achei que fosse ver. — Você por acaso já parou pra pensar na mamãe?!
     — Eu estou pensando em tudo, porra. — Meu pai grita de volta. — Estou pensando na nossa mãe, no nosso pai principalmente e nas consequências de tudo! Pelo menos estou tentando fazer alguma coisa pra ajudar ele!
     — O trancando numa porra de um asilo?! — Tira Cora grita de volta. Quando foi que ela chegou aqui? — Você sabe muitíssimo bem o que papai acha disso, Hank, não seja idiota.

     Ótimo, eles já estão falando do que eu queria falar.

     Abro a porta de supetão, atraindo a atenção dos quatro – minha mãe está na sala também – para mim. Eles me olham surpresos, não exatamente assustados, mas surpresos. Meu pai trava a mandíbula olhando para mim, e tira o óculos do rosto.

    — Talvez queiram me deixar participar da conversa também? — Digo com dureza, levantando o panfleto para que todos vejam.

     Newt passa a língua nos dentes, e olha para meu pai num silencioso "eu te avisei". Meu pai ignora.

     — Onde achou isso? — Ele questiona, mas nem seu tom intimidante é capaz de me fazer sentir menos raiva.
     — Tava em cima da mesa na sala. Se é pra fazer algo escondido, pelo menos faça direito.

     Atravesso o escritório até a mesa do vovô, onde bato com a mão ao deixar o panfleto em cima. Meu pai me segue com o olhar, suspirando em seguida.

All For Love ✓2Onde histórias criam vida. Descubra agora