All For Love ✓2

C A P Í T U L O 37

CHRISTIAN ANDERSON

     Merda.

     Merda.

     Não faço ideia do que fazer agora. Eu já deitei na cama e chorei, e chorei, chorei igual a um idiota – ser sensível é uma merda, uma merda! Não quero mais, alguém me devolve pro saco do meu pai. Mas agora nem chorar mais eu quero. Parei pra pensar aqui; qual o sentido de chorar? Ela não vai voltar pra mim se eu continuar chorando. Pra falar a verdade, agora eu tenho certeza que ela não vai voltar mais pra mim depois dessa. Mas chorar continua não ajudando em nada.

     Fico encarando o teto, o rosto inchado e os olhos molhados, vermelhos. Parece mais que eu fumei uma e tive uma reação alérgica.

      Meu coração se despedaçou em centenas de pedacinhos minúsculos, fazendo meu peito doer por ela. Agora consigo enxergar perfeitamente o verdadeiro estrago que meu erro idiota causou. Passo as mãos no rosto e deito de bruços, pegando o celular no chão para olhar a foto da Sam que coloquei como papel de parede. Nos filmes que minha irmã me obrigava a assistir com ela, os caras nunca sofriam desse jeito por uma garota; eles não choravam, não ficavam resmungando o nome dela por aí, o máximo que acontecia era eles ficarem com cara de cu pra cima e pra baixo. Eu tenho o pacote completo da sofrência. O pacote mais caro da Netflix + Spotify Premium, além do Pintarest, que é de graça. Junta tudo e vamos ter a imagem perfeita do adolescente de 16 anos.

     Essa imagem é irritante.

     Não aguento mais sofrer pela Sam; é desgastante. Eu quero poder voltar a pensar em outras coisas que não sejam somente nela, mas não consigo. Estou de coração partido, e nunca imaginei que fosse assim tão doloroso, tão intenso. Toda vez que penso nela, fico me perguntando em que meio de todo o nosso relacionamento as coisas começaram a desandar, aí eu me lembro; Thereza. Meu maior arrependimento não é nem ter deixado ela tomar 10 minutos do meu tempo, quando eu já estava ocupado com a Sam, é eu ter me envolvido com a Tess desde o início, porque ela sempre fode com tudo – às vezes, literalmente.

     Enfim, talvez a Sam tenha razão em querer seguir em frente, mesmo que isso seja difícil. Eu entendo; chega um momento em que você simplesmente não consegue mais suportar tanta mágoa e tanta raiva pesando nas costas. Não a julgo por querer fazer isso parar.

     Apoio as mãos no colchão e me viro de barriga pra cima outra vez, erguendo meu corpo para me sentar. Não posso passar a última noite do ano trancado no quarto, pensando na garota de quem parti o coração. Preciso ver mais gente, se não vou surtar. Saio da cama e começo a me arrastar pelo quarto, caçando uma roupa para vestir, já que eu estava deitado só de cueca.
   
     Pego a primeira calça que vejo dentro da minha mala – uma preta, velha, provavelmente apertada pra cacete –, uma camiseta, um moletom branco com capuz e uma jaqueta jeans escura, porque tá frio pra porra lá fora e eu sou cheio de frescura com isso. Visto tudo amassado mesmo, foda-se. Antes de sair, calço os tênis Space Jam que ganhei de Natal, e ajeito o cabelo com uma bandana preta, já que essa porra fica caindo na minha testa. Só ponho o boné por cima, pra dar uma disfarçada.

     Quando já estou quase no hall de entrada, volto correndo para o quarto e pego o presente da Sam na mochila. Coloquei as chaves dentro de uma caixinha quadrada pequena, com bilhetinho e fita roxa embrulhando tudo – atencioso, não? Ponho dentro do bolso do moletom, e então vou embora. Não sei se pretendo entregar pra ela, mas é sempre bom ter por perto.

     Nem aviso meus pais onde estou indo, posso mandar uma mensagem se eles me ligarem quando – e se – sentirem minha falta. Enfio as mãos nos bolsos da jaqueta, me encolhendo todo ao apertar o passo para chegar logo na feira de queima de fogos. Na real, eu nem sei o que vou fazer lá, também não sei o que estou fazendo fora da minha cama; eu realmente não queria sair de lá. Não quero ficar isolado, sozinho porque a maioria dos meus amigos estão viajando, e, aparentemente, todo mundo sente um pouquinho de raiva que seja de mim. O importante é não gostar do Christian Anderson, porque ele é um babaca que estraga tudo.