C A P Í T U L O 127

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SAMANTHA PRICE

     Sinto meu estômago embrulhar a medida em que me arrumo para a audiência da Thereza. Não consegui nem tomar café da manhã, apenas beliscar um pouco das panquecas integrais de mirtilo que minha mãe preparou.

     Passo meu cinto de couro preto ao redor da cintura, por cima da costura da saia e da camiseta preta e justa. A saia é de tubinho, cobre até metade das coxas, mas é decente. A estampa é xadrez vermelho-vinho e azul-violeta, e não de forma muito extravagante, mas simples e social. No cabelo eu faço um coque simples, discreto, bem boi-lambeu. Não é o melhor look para um tribunal, mas é o mais próximo de "arrumadinho" que eu encontrei no armário. Se eu tivesse mais roupas, com certeza seria mais fácil de escolher.

     Meu Deus, por que eu tô pensando em roupa numa hora dessas?

     Imagino como Christian deve estar se sentindo agora. Tipo, eu estou nervosa, bastante nervosa. Mas e ele? Isso é tudo por ele. Ansioso do jeito que é, não deve nem ter dormido durante a noite. Queria que tivesse me ligado pelo menos, para que fizéssemos companhia um ao outro.

     Minha mãe entra no quarto, e eu me assusto com a porta rangendo. Ela está usando um vestido roxo-geleia, simples, mas formal o suficiente para um tribunal. É o mesmo vestido que ela usou quando foi assinar os papéis do divórcio e fazer as exigências.

     — Você já está pronta? — Minha mãe vem até mim rapidamente, e passa a mão nos meus ombros para tirar fiapos soltos.
     — Estou. — Suspiro, soltando em seguida um sorriso forçado.

     Minha mãe sorri de volta, mas não acho que seja forçado, tá mais para algo aconchegante. É o mesmo sorriso que os pacientes vêm quando ela cuida deles no hospital. É o mesmo sorriso que diz que tudo vai ficar bem, mesmo que não fique. Esse sorriso, pelo menos, me faz respirar menos tensa.

     — Vai tudo certo, querida. — Seus dedos acariciam a parte de trás da minha cabeça. — E eu vou estar lá com você.
     — Obrigada. — Sorrio de canto
     — Agora passe um pouco de cor nessa boca, vista os sapatos e vamos embora, ok? — Rindo, ela me dá uma cutucada no nariz.

     Minha mãe se vira, e, rapidamente, me deixa sozinha de novo. Automaticamente, volto a ficar nervosa. Eu estava praticamente me segurando para não demonstrar nada disso para minha mãe, porque não queria preocupa-la agora.

     Está tudo bem. Não há nenhum problema em estar nervosa.

     Calço meu par de sapatilhas pretas – não curto muito sapatilhas, mas não dá pra usar tênis hoje, e saltos estão fora de cogitação. Também faço como minha mãe sugeriu, e passo um pouco de gloss bege na boca, para dar um pouco de cor e brilho. Antes de deixar o quarto, dou uma última conferida no espelho.

     Minha mãe está esperando na sala, de pé perto da porta, conferindo se pegou tudo na bolsa. Ela pediu folga no Memorial Bridgton apenas para me acompanhar no tribunal hoje, e não ter que deixar esse trabalho para meu pai – na verdade, ela não disse isso, mas imagino que seja um dos motivos.

     Sorrindo gentilmente, ela para de olhar a bolsa e olha para mim.

     — Acho que podemos ir, certo? — Pergunta, mas está apenas vendo casual.

     Afirmo com a cabeça, e pego meu blazer no gancho, vestindo-o enquanto saio do apartamento. Ele também é vermelho-vinho, e vai alguns centímetros a mas baixo do que a saia. Na verdade, é o blazer da minha mãe, mas quem usa mais sou eu.

     Descemos até o carro, no estacionamento do prédio, em silêncio. Entramos no carro em silêncio. Minha mãe dirige em silêncio. Há apenas silêncio. Quero dizer algo, mas o nó na minha barriga me desencoraja, e eu chego a tremer um pouco. Na minha cabeça, tudo o que consigo pensar é que vou ter que sentar ao lado de um juíz, jurar dizer a verdade e depois ter que reviver aquela noite. Levou um tempo para que eu esquecesse, e agora vou ter que dizer tudo de novo, que sorte a minha.

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