All For Love ✓2

C A P Í T U L O 7

SAMANTHA PRICE

     Eu só paro de chorar depois que termino de comer também. Me senti patética – a cena: eu, enchendo a boca de biscoitinho, maçã cortadinha, torrada e chá, enquanto soluçava e chorava sem parar. Minha mãe até ficou observando meu drama, mas sem dizer uma palavra, o que tornou tudo ainda mais patético. Quer dizer, só não mais patético, do que chorar por um homem que não merece.

     Mas seja patético ou não, ainda não consigo aliviar a dor que sinto toda vez que penso nele – o que parece acontecer de 5 em 5 segundos, pela quantidade de lágrimas que rolam pelo meu rosto e caem dentro do meu chá. A única coisa que alivia um pouco a decepção, é a comida que eu devoro em menos de cinco minutos. Não sei se é a fome, se é a tristeza que me deixa com ainda mais fome, só sei que de repente o lanche da cantina do hospital passou a ser delicioso.

     Eu deixo a bandeja na mesinha de madeira clara ao lado da cama, quando dou o último gole no chá mate. Depois passo as mãos nos olhos, os secando e fungando baixinho. Minha boca tem um gosto meio salgado, por causa das lágrimas, e meu olhos ainda estão meio borrados. Só preciso de uns minutos, e aí...

     Paro de pensar no instante em que volto a abaixar as mãos, reparando a pulseirinha presa no meu braço. Não, não é só a pulseirinha do hospital, é a pulseirinha da amizade que eu fiz para a Tess. Linhas roxas e azuis, e um pingente de coração partido que se completa com o coração partido da outra pulseira, que está comigo. Eu levanto um pouco o braço outra vez, observando atentamente o pingente balançando, quase parando.

     Ela esteve aqui. A Tess esteve aqui.

     Meus olhos ameaçam cair em lágrimas outra vez, e eu simplesmente deixo, até porque não consigo segurar. Eu não consigo acreditar que ela teve a cara de pau de vir me ver, e ainda de deixar isso aqui comigo – se ela se importasse de verdade, teria me deixado em paz com o Christian. E por falar nele, é outro cara de pau por aparecer aqui depois de ter me despedaçado. São dois idiotas, que só me fazem chorar o tempo inteiro.

     Eu fungo outra vez, respirando fundo para me acalmar e fazer esse choro idiota parar. Não posso me estressar com isso agora. Seguro o choro, e começo a desamarrar a pulseira, a segurando entre os dedos quando consigo.

     — Joga isso fora. — Olho para minha mãe, que está com as sobrancelhas franzidas, provavelmente sentindo pena. Odeio sentir pena, não importa qual for o meu caso. — Queima, desfaz os fios...sei lá, só joga fora.
     — Não é aquela pulseirinha que você e a Tess usavam juntas? — Ela pergunta baixinho
     — É por isso que você deve jogar fora...por favor, mãe.

     A expressão no rosto da minha mãe me deixa péssima. Ela deve estar morrendo de preocupação desde a noite do ataque cardíaco, e agora está me vendo chorar sem se quer ter uma explicação pra isso. Eu quero contar pra ela tudo o que aconteceu entre mim e Christian, quero poder desabafar com alguém, mas agora não é uma boa hora. Primeiro eu quero ir pra casa.

     Suspirando, minha mãe afirma com a cabeça para meu pedido, e pega a pulseirinha da minha mão. Eu a observo pôr no bolso da calça de enfermeira, para jogar fora depois, mas não sinto nem um pouco de remorso – aposto que a Tess e o Christian também não sentiram remorso depois de transarem.

     — Quando quiser conversar sobre o que está acontecendo, é só falar que eu vou estar aqui. — Ela diz, passando a mão no meu cabelo para depois beijar minha testa. Fecho os olhos e deixo seu carinho de mãe aquecer meu coração.

     Antes dela se afastar, a porta se abre e eu levo meu olhar até lá. O Dr. Hawkins entra no quarto, as mãos enfiadas no jaleco branco e o sorriso bonito no rosto bonito. Minha mãe se ajeita quase na mesma hora, apoiando uma mão no meu ombro. Não estou olhando para ela agora, mas sei que está encarando meu cardiologista, que também olha para ela sem diminuir o sorriso – na verdade, acho que fica até um pouco maior.