All For Love ✓2

C A P Í T U L O 38

SAMANTHA PRICE

     Quando minha mãe volta com os copos e pratos descartáveis, a expressão em seu rosto é de longe a menos animada da mesa. Não faço ideia do motivo da mudança de humor repentina, mas isso me deixa levemente preocupada.

     — Mãe. — Toco sua mão, que estava ajeitando os pratinhos um pra cada um, e ela olha pra mim. — Tá tudo bem?

     Ela abre um sorriso pequeno, soltando minha mão e abaixando a cabeça para voltar a fazer o que estava fazendo antes.

     — É claro que estou bem, querida. — Minha mãe diz — Só pensando...

     Espero que não esteja pensando no pior, tipo, o que poderia ter acontecido se eu não tivesse sobrevivido ao meu transplante, ou se não tivesse sobrevivido ao meu último ataque cardíaco. Minha mãe costuma pensar muito nessas baboseiras, principalmente quando é em alguma data marcante. Acho que eu também teria esses pensamentos caso tivesse uma filha com problemas no coração – medicinalmente falando, mas também serve emocionalmente, já que sou quebrada em todos os sentidos possíveis.

     Olho para minha mãe outra vez, que ainda está sorrindo, conversando normalmente com Charles, embora eu saiba que tem algo a incomodando. Espero que isso não estrague sua noite.

      Tento sorrir também e entrar na conversa quando pego um pedaço de bolo, que por sinal tem recheio de Oreo – minha mãe sabe do que a princesa aqui gosta. É bom me distrair dos problemas, para variar, embora eu sinta uma leve falta do Christian aqui com a gente. Queria que ainda estivéssemos juntos para a gente comemorar meu meu aniversário.

     Mas nós não estamos. E eu posso estar triste agora, mas uma hora vou ficar bem. Essa é minha escolha, e vou segui-la a risco, do mesmo jeito que o Christian escolheu transar e beber com a Tess antes de ir me encontrar no drive-thru. Eu disse que o destino é um grandíssimo filho da puta.

     — Então — Olho para Charles, mantendo um tom casual. —, quantos pedaços de bolo são liberados pra mim hoje?

     Ele abre um sorriso charmoso, mostrando as covinhas embaixo da barba que cobre seu rosto.

     — Como seu cardiologista, eu diria que dois já é até demais. — Charles responde — Mas como Charles Hawkins, eu diria que sua mãe fez um bolo delicioso, e que você deveria devora-lo antes que eu coma tudo sozinho.

     Todos na mesa dão risada, incluindo o próprio Charles. Às vezes a "piada" nem é tão engraçada, mas o cara é tão charmoso, bonito e gentil, que faz a gente rir e sorrir sem motivos algum. Não me lembro da última vez em que fui a uma consulta médica e dei risada, do mesmo jeito de quando vou nas consultas dele.

     Talvez seja isso o que minha mãe tenha visto nele, porque, sim, eu tenho quase certeza de que a dona Sally tem um penhasco pelo Charles. Nunca a vi feliz desse jeito com meu pai – não que ela precise de um homem pra der feliz, mas também não significa que precise ser sozinha –, e isso porque ela e o Charles não estão nem namorando. Imagina se eles estivessem juntos... torço para que pelo menos alguém da família se saia bem quando o assunto são homens.

     — Ora, vamos, esse não é nem meu melhor bolo. — Minha mãe sorri de canto enquanto corta um pedaço para Charles. — Ficou tudo torto.
     — Bom, esse bolo do Harry Potter é torto. — Ergo uma sobrancelha — Você não sabe, porque dormiu enquanto a gente assistia Pedra Filosofal.
     — Isso é uma ofensa a todos os *potterheads. — Alec comenta num fingido tom de indignação, e eu dou uma risadinha.