C A P Í T U L O 95

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CHRISTIAN ANDERSON

     Depois de dar quarenta caralho de voltas no campo de futebol, eu estou morrendo. Não há ar no mundo o suficiente para me fazer sentir menos ofegante. Paro de correr na linha de largada, agachando o corpo fraco e apoiando as mãos nos joelhos, engolindo um monte de seco que desce arranhando a garganta. Respiro fundo, rápido e alto, tentando fazer meus pulmões pararem de arder.

     O treinador sempre faz a gente ter os piores treinos na hora da saída, quando no treino depois do almoço nós ficamos na academia. Ele diz que a academia é moleza, e que por isso devemos pegar pesado no campo depois. Todos nós sabemos que ele adora é se divertir vendo a gente sofrer.

     O Nate, coitado, tá pior do que eu.

     Ele praticamente vem igual a um trem-bala quando para de correr ao meu lado, agachando como eu. Está com a boca aberta, respirando completamente sem fôlego, como uma foca sendo enforcada. Com os olhos semi-cerrados, o corpo molenga e sem forças de Nate cambaleia, e ele desaba no chão.

     Eu daria risada, caso eu não estivesse tendo uma crise de asma agora – e olha que eu nem tenho asma. Acabo por desabar no chão ao lado de Nate, dando de cara com o gramado.

     — Patético. — Diz o treinador, que está parado na linha de chegada, observando os caras vindo e indo. Ele xinga todo mundo que passa, porque tá todo mundo morrendo mesmo. — Terrível. — Passa um, e olha para o relógio cronômetro. — Desgosto. — E mais um um. — Que merda vocês andam aprendendo comigo? — E outro. — Vocês estão pior que eu... Anderson!

     O treinador Harper grita, e eu solto um gemido de dor, me virando no gramado até estar de barriga pra cima. Semi-cerro os olhos também, pela claridade da luz do dia.

     — Levantem a bunda do chão, seus bandos de preguiçosos! — Ele sopra o apito, e Nate geme. — Rodrigo! Levanta!
     — Rodriguez, cara, Rodriguez... — Nate murmura sem ar, me fazendo rir soprado.

     Nos levantamos com muito esforço, e eu apoio as mãos nos quadris quando consigo ficar de pé.

     — Ele quer matar a gente. — Nate comenta, ainda ofegando um pouco.
     — É, ele quer sim.

     Só pra provocar, lhe dou um tapão nas costas, e Nate resmunga alto, tossindo. Dou risada, e vou caminhando, aumentando aos poucos o ritmo até estar correndo.

     Estou ensopado de suor. Posso sentir escorrendo na minha cabeça, nas minhas costas, por debaixo da camiseta branca – que, por sinal, está toda molhada, colando no meu corpo ao ponto de deixar amostra minha pele –, e por tantos outros lugares, que eu prefiro nem dizer onde. Odeio suar; estou me sentindo nojento. Pra mim, suar só vale a pena quando eu tô transando, fica até mais gostoso.

     E por falar em gostoso – ou, mais especificamente, gostosa –, acabo de passar pela arquibancada onde Sam e Beth estão assistindo ao treino. Minha namorada perfeitamente linda olhou para mim, sorrindo, e, mesmo quase tendo um derrame cerebral no meio da pista de corrida, eu sorrio de volta e pisco para ela com o maior charme que posso dar agora.

     Gosto de saber que depois ela riu feito uma garotinha entusiasmada, cobrindo a boca com as mãos. Há duas opções que podem se encaixar no jeito como ela agiu: (A) eu estou parecendo um mongol piscando pra ela, e (B) Sam sabe ter os momentos "garotinha entusiasmada" dela.

     Eu espero desesperado que seja a opção B.

     Na metade do caminho, eu não estou me aguentando mais, e por isso preciso parar e respirar fundo umas 100 vezes – isso porque eu não estou nem perto de ser sedentário. Nate me alcança logo depois, quase morrendo em ar. De forma desesperada, ele cai de novo no gramado, as pernas e braços abertos para trás, com os olhos fechados.

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